quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A Caixa é do Povo

Durante nove bons anos da minha vida, trabalhei na Caixa Federal, sempre na Agência Paineira, na Rua Siqueira Campos, Centro de Porto Alegre, no lugar onde hoje há um grande Cartório.

Essa agência, que na minha época já havia sido "fundida" com outra unidade próxima, a Agência Uruguai, foi depois transferida para a Rua da Praia, por volta do ano 2000, recebendo o nome de Agência Lupicínio Rodrigues.

Na época, sob comando das administrações neo-liberais, era comum fecharem unidades, e diminuir cada vez mais a empresa. Isso ocorreu não só com a Caixa mas com todas as outras estatais. Muitos colegas que não se enquadravam com os novos métodos foram, inclusive, forçados a aderir aos famigerados PADV (Plano de Aposentadoria ou Demissão Voluntária).

Acho que entrei na Agência Lupicínio somente uma vez, seis ou sete anos atrás, sentindo um misto de nostalgia e tristeza, por ter perdido o vínculo com os colegas, que fizeram parte importante da minha vida. E também, não escondo, o vínculo com a Caixa. Encontrei lá uns poucos contemporâneos, os outros haviam se aposentado, ou foram transferidos. Sinto falta daquele povo, que nunca deixou de fechar a agência, nas muitas greves do período Collor-FHC.

Entrei na Caixa em 1989, ocasião em que Collor e Lula disputavam a Presidência da República, uma das fases mais bonitas da minha militância. Estava filiado ao PCdoB, e logo me juntei com outos camaradas na célula bancária, com atividades no Sindicato e na APCEF/RS. Para nosso azar, e do Brasil, o Lula perdeu, e os governos, a partir daí e até 2003, dedicaram-se ao desmonte da estrutura, para tirar o Estado do sistema financeiro, e favorecer os grandes bancos multinacionais.

Agora, a Caixa é uma locomotiva, que ajuda o país a andar. Esse é um dos motivos pelos quais não concordo com as críticas de que o Governo Lula favorece os banqueiros. Só a recuperação do protagonismo do Banco do Brasil e da CEF, no sistema financeiro, desmonta por completo essa tese. É certo que os banqueiros continuam ganhando, e muito, mas o fortalecimento dessas duas instituições (sem falar do BNDES), que os críticos superficiais não percebem, é algo nunca antes visto na história do país.

Para quem já esqueceu dos tempos difíceis do liberal-tucanismo, eu lembro: as caixas estaduais foram primeiro inviabilizadas, e depois fechadas. Os bancos estaduais foram sumariamente fechados, ou privatizados a preço de banana. No Brasil inteiro, escapou apenas o Banrisul, e somente graças à eleição do Olívio, em 1998. Se o Britto houvesse sido reeleito, não haveria mais Banrisul.

A Petrobrás teve grande parcela de suas ações vendidas, em uma privatização disfarçada. A Vale do Rio Doce foi doada por 3,3 bilhões de dólares, quando valia 92,6 bilhões de dólares. A Caixa e o Banco do Brasil estavam na lista de extermínio dos tucanos.

Nós, funcionários da Caixa, fazíamos um imenso movimento, muitas vezes incompreendido pela população, contra a privatização e sucateamento da empresa.

"A Caixa é do Povo", era o mote da nossa luta, que ultrapassava o economicismo, não se restringindo aos percentuais do dissídio, e fazia a defesa da empresa, como um importante instrumento de intervenção do Estado na economia. Se os bancários não tivessem batalhado tanto naqueles, e prevalecesse a vontade dos governantes, a Caixa talvez não existisse mais.

Perdi a conta das vezes em que acampamos na Rua dos Andradas, 1000, passando chuva e frio, com a garganta estourada, contra um governo entreguista e truculento. Uma vez chegamos a 21 dias de greve, e o desconto dos dias parados nos arrebentou. Mas não cedemos, e conseguimos a readmissão de mais de 800 colegas que o Collor havia demitido.

Soube que a greve da CEF, mês passado, ultrapassou nosso “recorde” de dias parados. Coitados. Me solidarizo ao movimento. Mas são outros tempos, outra pauta, outro governo, e até o movimento sindical é diferente. Isso é natural. Foi diferente da geração do Lula e do Olívio (luta contra a ditadura) para a nossa (luta contra as privatizações), e forçosamente, há de ser diferente para a geração atual.

Então, hoje, quando a gente vê especialistas dizendo o Brasil passou pela crise mundial como se surfasse numa marolinha, entre outros fatores, por ainda possuir a Caixa e o Banco do Brasil preservados, fortalecidos e estatais, o que possibilitou ao governo bancar políticas públicas anticrise (agricultura, exportações, construção civil, etc.), que mantiveram a economia aquecida, evitando a recessão, dá para concluir que a luta foi importante.

É muito bom ver a história confirmar que estávamos do lado correto daquela barricada. Afinal, hoje a Caixa é mesmo do povo.
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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Dois minutos de ódio

Eu não gosto muito do George Orwell. Até concordo que a "Revolução dos Bichos" é um livro genial, mas nunca me caiu muito bem. O mesmo eu sinto com relação a "1984", sua outra obra consagrada, que para mim fica nos chinelos de "Admirável Mundo Novo". Mas enfim, gosto é gosto, dizia uma velha lambendo sabão ...

O que não me apetece é que as duas obras tem um "quê" de "não adianta". "Não adianta", no caso, os bichinhos fazerem sua revolução, pois no final irão apenas substituir uma ditadura por outra. E também "não adianta" pensar de forma discordante ao "Grande Irmão", pois no final, retorna-se à origem.

E se "não adianta" , para que nos movimentarmos? Não seria melhor economizar a energia, relaxar e gozar, do que passar por todos os sacrifícios para enfrentar o totalitarismo, e no final, chegar no mesmo ponto de partida? Acho que a intenção do autor não era passar essa mensagem, mas é isso que eu leio.

Eu tenho certeza que os jovens que foram para o Araguaia, por exemplo, entendiam que "adiantava". Da mesma maneira, o povo do Marighela, Lamarca, e outros tantos, acreditavam que "adiantava" ir às últimas consequências contra a ditadura. E, efetivamente, "adiantou". Eu também acredito que a luta sempre "adianta", e que o ponto de chegada nunca será o mesmo da partida.

Mas voltando a "1984", tem uma passagem interessante nesse livro, bem relacionada com nossos dias, na qual o personagem Winston Smith relata uma sessão de "Dois Minutos de Ódio", um evento diário em que os cidadãos se reuniam diante de uma tela, na qual era projetado um "clip", cuja mensagem era ao mesmo tempo uma louvação ao "Grande Irmão" e um reforço no ódio aos inimigos, personificados na figura de Emanuel Goldstein, o "Inimigo do Povo".

Os cidadãos assistiam o clip, e mesmo o Smith, que andava ideologicamente meio balançado, não resistia e terminava a sessão, assim como os outros, gritando e gesticulando, em um frenesi de ódio, contra o inimigo do regime.

É certo que a grande imprensa burguesa sempre usou e abusou de outra prática, inspirada na máxima nazista, de que uma mentira contada mil vezes se transforma em uma verdade. Mas atualmente a prática dos minutos de ódio também tem sido utilizada em larga escala.

O noticiário de rádio e televisão daquele grupo, adequadamente apelidado de PIG - Partido da Imprensa Golpista (Organizações Globo, Estadão, Folha de São Paulo, RBS, Veja), elegeu alguns "inimigos do sistema", que na verdade são opositores a seus interesses econômicos, e trabalha sistematicamente, um dia sim, o outro também, para demonizá-los.

O alvo predileto desse ódio trabalhado é, disparado, o MST, pelo seu potencial como vetor da luta de classes. O movimento tem absolutamente todas as suas iniciativas noticiadas com uma formatação destinada a obter rejeição popular, não só ao movimento, mas à própria reforma agrária. O exemplo recente de como a mídia tratou o episódio da Cutrale é exemplar, nesse sentido. E é raro o dia em que não apareçam, senão dois minutos, pelo menos 30 segundos no Jornal Nacional, depreciativos ao movimento. Como resultado disso, não se pode estranhar que muitas pessoas pobres, que só possuem terra embaixo das unhas, odeiem os "sem-terra".

Mas há outros inimigos eleitos. Um deles visita o Brasil, atualmente. O Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, não passa um dia sem levar uma sarrafada da grande mídia. Antes eram os Aiatolás os demônios, agora é o Presidente daquele país, e não sejamos ingênuos a ponto de acreditar que é pela "fraude eleitoral", pelo fundamentalismo religioso, misogenia, homofobia, violação dos direitos humanos, etc., porque isso muitos outros países praticam. É porque, bem ou mail, o Irã se opõe ao imperialismo americano no Oriente Médio.

Com o Fidel, é a mesma coisa. E o Hugo Chávez, o Evo Morales, o Rafael Correa, o Fernando Lugo, também estão nessa lista do ódio trabalhado. O rol dos inimigos do regime.

Agora, esse canhão ideológico volta-se sistematicamente contra Tarso Genro, especialmente por parte da fração gaudéria do PIG, interessada em desconstituí-lo como candidato ao Governo do Estado, e manter o status quo. É fácil notar que, de um ano para cá, o Tarso já foi demônio por várias coisas. Agora é pelo "Caso Batisti", e daqui um mês será por outra coisa.

Em nível nacional, durante anos, o inimigo do regime, o demonizado de plantão, foi o Lula. Logo, logo, vai ser a Dilma. O Lula passou por cima, mas demorou vinte anos, e teve que adernar à direita. Já a Dilma ... bom, a Dilma, sei lá.

E o "Grande Irmão", o endeusado, o beneficiado pela propaganda? Bueno, tanto em nível estadual como nacional, para mim é o tal de "mercado". Ah, e seus lacaios, o FHC, o Serra, o Aécio, a Yeda, o Fogaça ...
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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Polissonografia

Rapaz ... nesse meu projeto de ser o homem mais velho do mundo, estou fazendo alguns exames médicos. Comecei com a questão do sono. Acho que tenho algum distúrbio, pois é frequente acordar com as pernas cansadas, e sensação de fadiga. Além disso, minha mulher e as filhas estão dizendo que ronco.

Fui a um otorrino e relatei os incômodos (respiração pela boca etc.), e ele me encaminhou para uma
polissonografia. O nome é comprido, e o exame mais ainda. A gente tem que pousar na clínica, para que seja monitorada uma noite de sono.

Durante a noite, a gente fica o tempo todo sendo filmado, com uma câmera, que filma no escuro. O técnico que me atendeu, um enfermeiro especializado, disse que eu podia me tapar com o edredon, que câmara filmava por cima. Daí, fiquei pensando ... se essa câmera atravessa o edredon, de uns três centímetros de espessura, havia de atravessar o meu pijama, que deve ter um milímetro. Ou seja, nos filmam pelados. Mas tudo bem, faz parte.

Além da câmera, o exame em si é bastante complexo e completo. Além da filmagem, verifica 39 distúrbios diferentes do sono, e faz um eletrocardiograma e um eletroencefalograma daqueles de seis, sete horas de duração. Achei ótimo, pois depois é só fazer os exames de sangue, urina, etc., antes de encarar a musculação.

O problema é quantidade de sensores que grudam na gente. Na regiao craniana, vão 15 sensores (acho que do eletroencefalograma), presos com uma massinha que depois é difícil de tirar do cabelo. Mais dois sensores nas "fontes", acho que para monitorar os movimentos dos olhos. Outros dois no maxilar, para ver como a boca se comporta durante a noite. E um microfone colado no "pomo de Adão", para gravar o ronco.

Mas incômodo mesmo são três sensores, com duas perninhas que entram no nariz e uma fica na frente da boca, para medir o fluxo de ar. O técnico disse que elas medem a quantidade de ar que entra e sai de cada narina. E ainda botam aqueles caninhos de oxigênio, também enfiados na narina, pois em caso de apnéia o enfermeiro libera oxigênio (acho eu que é para isso).

Alem disso, tem três sensores no tórax (eletroencefalograma), uma faixa no peito com um quadradinho sobre o esterno (que deve ser um "nível") para ver se dormimos de lado, de barriga para cima, etc. E uma faixa incômoda que fica na região do umbigo, que não sei para que serve. Talvez para controle da respiração, sei lá.

E como eu me queixei do cansaço nas pernas, o exame inclui também três sensores em cada uma, um no lado do joelho, outro na canela e outro no tornozelo. E já estava esquecendo de uma coisinha, parecida com um prendedor de roupa, enfiado no dedo anelar, para medir a tal de "saturação".

Saturado fiquei eu, com tanto fio neste corpinho. Cada sensor tem um fio, da expessura do fio de um carregador de celular. Só que eles são enfaixados todos logo acima da cabeça, então fica um feixe grosso de fios, que dificulta a movimentação durante o sono.

Para completar, não dá para levantar de noite para ir no banheiro. Se necessário, é preciso chamar o enfermeiro, para trazer o "papagaio". Se quisermos água, a mesma coisa. Para não dar incômodo, eu aguentei no osso do peito.

Ser filmado pelado (é o que desconfio), plugado numa quantidade de fios, com sensores por toda a parte ... tem que dar um resultado muito bom, mesmo, para compensar. É bem desagradável. Mas nada que um cara como eu, que fez vasectomia sem anestesia, e um exame da próstata em Bagé, vá mixar.

Bueno, para resumir, passei a noite mais acordado que dormindo, e torcendo para não cair um raio na rede elétrica. Mas dando graças por não ter me queixado de flatulência ... ia ser duro, além disso tudo, dormir com mais um um sensor, no fiofó.
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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Michael Jackson - um soco na minha barriga





Recebi este clip do Michael Jackson por e-mail, da minha mulher. Como sou muito desligado para música (do Michael só conhecia Blak or White, Billie Jean, Triller e Beat It), e ainda por cima não entendo inglês, lembrava da música, mas não tinha a menor idéia de quem era o cantor, muito menos da letra.

Agora, podendo entender tudo no vídeo legendado, tenho que reconhecer que a Djanira me conhece mesmo. Me apaixonei, e quero compartilhar.

Quando assisti, foi como se tivesse levado "um soco na boca do estômago" (a última vez foi na infância, mas não esqueço da sensação), por todas as gozações e críticas que vivíamos fazendo, ou apoiando, com relação ao coitado, inclusive achando graça das piadas étnicas e politicamente incorretas, dos "cassetas" da vida. Foi uma lição.

Quero compartilhar com minhas centenas de milhares de visitantes. Para assistir, basta clicar em cima da imagem. Mesmo que demore alguns minutos para baixar, a espera vale a pena.

PS: Estive fora, viajando a trabalho por alguns dias, e agora retorno ao bom combate.
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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Envelhecer é inevitável, deteriorar é opcional

Resolvi estabelecer uma meta de longo prazo: quero ser o homem mais velho do mundo. Atualmente, os homens gaúchos passam dos 70 anos, em média, com muitos chegando aos 80, em bom estado de "conservação". Alguns poucos chegam bem aos 90, e raros vão aos 100.

Na minha geração, com os avanços da medicina, os cuidados com alimentação e com o corpo, etc., acho que vamos avançar uns bons 20 anos nessa média. Assim, quem como eu nasceu entre 1960-1970, e leva uma vida saudável, certamente vai alcançar os 90 anos com folga. Muitos vão chegar aos 100, e alguns raros passarão dos 110. Isso se o mundo não acabar antes.

Pois eu quero ser um desses casos raros. Afinal, já que a moda são as tais "metas de longo prazo", que sejamos então ambiciosos. Para chegar lá, a partir de hoje tenho que durar mais uns setenta anos, pelo menos. Daí, no ano 2.079, com 116 anos de idade e a meta cumprida, vou me conformar em passar desta para uma melhor.

Só que hay um porém. Não adianta virar um Matusalém, se a saúde do corpo e da cabeça não permitir usufruir a vida longa. Tenho aprendido isso com minha mulher, que organizou um grupo para trabalhar as questões relativas ao envelhecimento. Trata-se do Grupo Viva, uma iniciativa do Dr. Marcelo Blaya Perez, esse excepcional profissional da medicina que, entre tantas outras coisas, fundou há 40 anos a Associação Encarnación Blaya, mais conhecida como Clínica Pinel, em Porto Alegre.

O Dr. Marcelo, que hoje deve ter uns 85 anos, compreendendo bem os mistérios da alma e do corpo, concluiu que a maneira como encaramos o processo de envelhecimento é determinante na forma como vamos estar, fisica e mentalmente, na "velhice". E o lema que ele criou para o Grupo Viva decorre dessa conclusão: "Envelhecer é inevitável, deteriorar é opcional".

Trata-se de comprender e aceitar o processo de envelhecimento como uma coisa natural, mas não no sentido de "se conformar", e se recolher nun casulo para esperar a morte, e sim de preparar-se para aproveitar a vida nessa faixa etárea, com plenitude das capacidades físicas e mentais.

A Djanira, que já tinha trabalhado com idosos antes, se encantou com a idéia, e trouxe o grupo para São Luiz Gonzaga. E eu participo, às vezes indo nas reuniões, às vezes por tabela. Tem o Viva Real (dos assíduos) e o Viva Virtual, dos que se comunicam pela internet. Estou mais frequente no segundo.

Tem algumas coisas que eu acho muito legais, nessa iniciativa. A primeira, é que a construção do conhecimento de como aceitar e trabalhar o envelhecimento, é realizada de forma compartilhada com os integrantes. Não é aquele tipo de conhecimento acadêmico que vem pronto, de cima, embora eu acredite que haja uma base teórica sólida por trás de tudo. É um saber que "se" constrói, de forma horizontal, democrática. E onde tem democracia, tô dentro.

A segunda coisa interessante, é que a "reação" se realiza pela busca da mudança de hábitos, visando uma saúde melhor, e uma interação mais alegre e interessada com o mundo. Combater o sedentarismo, por exemplo, é uma das primeiras lições, e cada uma das pessoas do grupo fica encarregada de estimular e cobrar as outras, nesse sentido.

Outra faceta importante é o alcance do grupo, que ultrapassa, de forma importante, o núcleo que vai às reuniões. Olhando como um integrante "virtual", que não vai a todos os encontros, percebo as lições chegando até mim, trazidas pela minha parceira, o que certamente deve ocorrer com as outras pessoas do grupo. Da mesma maneira, outros maridos, mulheres ou parentes que não vão às reuniões do Grupo, são certamente atingidos pelo seu ensinamento, na medida em que são incentivados a ter atitudes mais saudáveis, por exemplo.

Então, tendo tomado a consciência de que estava me dirigindo para um envelhecimento "tradicional", e não desejo isso, mas sim uma vida longa, feliz e produtiva, entrei numa de mudança de atitudes.

Com relação ao "corpo", fiz algumas mudanças na alimentação. Mas como nunca abusei nesse aspecto, e sempre tive peso considerado ideal, não foi necessário nenhum radicalismo. Tenho também os créditos de nunca haver fumado, e de beber muito pouco, menos até que"socialmente". Além disso, estou levando mais a sério os chek-ups médicos periódicos.

No geral, dá para dizer que a minha carroceria está boa, mas aceita bem uma tunagem. Então, depois dos exames médicos, vou entrar numa academia, pois não malhei uma única vez nestes meus quarenta e seis anos de vida. Mas dou o braço a torcer, e reconheço que é importante fazer reforço muscular agora, para não ser um velhinho quebradiço quando completar 115 anos.

Quanto à cabeça, vou tentando levar meu dia-a-dia com menos estresse, o que é difícil, pois a Polícia é uma máquina de moer a cabeça da gente. E já começei o planejamento da minha aposentadoria, que será daqui a dez anos. Meu plano, um sonho bem antigo, é me aposentar e abrir uma floricultura. Assim, a partir de 2010, vou fazer pelo menos um curso nessa área, para acumular conhecimento.

E aí, com a saúde em dia, a cabeça boa, e o corpo ocupado, acho que cumpro minha meta: ser o velho mais velho do mundo.
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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O que pensam os profissionais da segurança pública

A Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça realizou, recentemente, a pesquisa "O que pensam os profissionais da segurança pública, no Brasil", através do exame de questionários respondidos nos meses de abril e maio de 2009.

Os questionários foram respondidos de forma virtual, por 64.130 alunos de cursos on-line mantidos pelo Ministério, todos eles profissionais da área da segurança pública, como policiais, agentes penitenciários, perito e guardas municipais de todo o país.

O que eu considero valioso nessa iniciativa, além da expressiva amostra, é a maneira com que a pesquisa foi realizada, que subverte a prática de buscar "porta-vozes", com o questionário sendo respondido de forma individual, não-identificada e voluntária. Isso possibilitou que os trabalhadores da área "falassem" diretamente, através da pesquisa, sem a intermediação de representantes de qualquer natureza, e sem a inibição de eventual monitoramento da resposta pelos "escalões superiores". A pesquisa revela, portanto, o exato pensamento de quem trabalha na área da segurança, sobre as questões apresentadas.

O trabalho está dividido em alguns tópicos:

I - O que pensam os profissionais da segurança pública sobre suas instituições diante das mudanças.

II - Experiências de vitimização (situações em que os trabalhadores da área foram vítimas de tortura, racismo, discriminação pela função, humilhação e desrespeito nas corporações, acusações injustas e com direito de defesa negado ou cerceado, assédio sexual e discriminação pelo gênero, discriminação por convicção política).

III - Perfil e formação (mulheres na segurança pública, cor da pele, o segundo emprego, vida profissional, social e familiar, se pudessem escolher de novo ..., satisfação e futuro, formação, cursos que vêm se firmando na formação).

IV - Opiniões sobre outras questões relevantes.

O resultado está disponível no site do Ministério da Justiça, AQUI, sob duas formas, disponíveis para download: "Sumário Executivo" (11 páginas) e "Relatório" (mais de cem páginas). Eu baixei os dois, mas comento aqui o menorzinho.

Esse é um documento que vale a pena ser lido, mesmo por quem não é da área, mas tem interesse em entender o funcionamento dos órgãos da segurança pública, expostos ali pela visão dos trabalhadores da área.

A pesquisa foi organizada por Luiz Eduardo Soares, Marcos Rolim e Silvia Ramos, o que, no meu entendimento, empresta credibilidade, em termos de seriedade científica, à coleta, ordenamento e apresentação dos dados.

Já a interpretação dos dados é de quem os lê. Eu faço uma leitura ligeiramente diferente da que os autores do trabalho veicularam.

Senti, por exemplo, um direcionamento, certamente não intencional, na interpretação dos pesquisadores, quanto ao elevado percentual de policiais militares que indicaram ter preferência pela unificação (entre Polícias Militares e Polícias Civis), contanto que seja em uma organização civil, desmilitarizada. Para mim, o desejo de serem civis sempre foi claro, exceto para os oficiais.

Mas os autores do trabalho manifestaram um estranho porém, não escudado nos dados coletados, de que esse poderia ser um viés da não-apresentação uma opção de unificação sob forma de uma polícia militar, mas com outro tipo de "militarismo", que partiria do pressuposto de respeito aos direitos humanos, e respeito nas relações hierárquicas. E que os policiais militares manifestaram na pesquisa uma rejeição à "variante conhecida e experimentada entre nós do formato militar", mas que aceitariam outra variante militar, mais "civilizada". Ou mais ou menos isso.

Eu posso estar enganado, mas não encontrei nada na pesquisa que ampare essa conclusão. Ademais, é um raciocínio por demais ingênuo, achar que basta querer para construir no Brasil essa outra variante de "militarismo".

Aqui, e no resto do continente americano, milico é milico, e os recrutas são adestrados para odiar o inimigo, através de extremas provações e humilhações no treinamento. Não é por outra razão que mais de 20% dos policiais militares revelaram na pesquisa terem sido vítimas de tortura (no treinamento, se entendi bem).

Na prática, construir esse “outro militarismo” demandaria o tempo de passagem de duas ou três gerações de policiais militares. Vinte e cinco ou trinta anos. Mas as duas demandas, a desmilitarização do policiamento ostensivo, e a unificação das polícias estaduais, são urgentes.

Eu convivo há dez anos com policiais militares no dia a dia, mantendo em meu serviço uma ótima relação com os brigadianos. Isso me permitiu ouvir, dezenas de vezes, de praças ou sargentos, a opinião de que as polícias devem ser unificadas sim, e sob uma forma não-militar.

A única ressalva que fazem, e que certamente influenciou também no "voto" dos que optam pela unificação sob forma de uma polícia única militar, são as grandes vantagens funcionais que os policiais militares possuem em relação aos civis. Esse foi um fator não percebido pelos pesquisadores.

Como exemplo de direitos que perderiam, mas que poderiam perfeitamente ser mantidos em uma desmilitarização bem trabalhada, temos o tempo para aposentadoria. O policial militar consegue se aposentar, na regra militar, aos 45-48 anos, enquanto o policial civil – pelo menos o gaúcho – vira Matusalém trabalhando dentro das Delegacias. Não que queiram, mas simplesmente não conseguem se aposentar, mesmo com mais de trinta anos de serviço.

Outro exemplo de vantagem em ser militar, não-sabido por muitos, é o agora revelado índice de contribuição previdenciária dos Brigadianos, de 7,9% (que a Governadora quer agora elevar para 11), enquanto os policiais civis recolhem 11% para o IPE.

Se a desmilitarização do policiamento ostensivo fosse proposta, na pesquisa, com o rígido respeito aos direitos adquiridos (tempo para aposentadoria, etc.), tenho a forte impressão de que noventa por cento dos policiais militares iria preferir essa opção.

De qualquer forma, como já disse, a pesquisa é riquíssima, e realizada por pessoas de grande conhecimento e credibilidade. Não deixem de acessar, e pensar acerca das lições trazidas por esse magnífico trabalho. 
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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Lula pisou na bola


O Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo. E ultimamente só tem feito golaços. Mas como todo craque, chegou o dia de pisar na bola. E pisou feio, diga-se de passagem.

Em uma solenidade no Distrito Federal, semana passada, evento organizado pelo Governador Inácio Arruda (DEM), que reuniu milhares de policiais brasilienses, o Presidente disse mais ou menos o seguinte: “
a única hipótese de a gente não ter policial levando propina da bandidagem é o policial ganhando o suficiente para cuidar da sua família”.


Tá errado, companheiro, e muito errado. Isso não é verdade. Os policiais têm que ganhar dignamente, sim, mas essa não é a “única hipótese” para não se corromperem.

Eu me sinto bem à vontade para comentar esse assunto, pois tenho dez anos como Delegado da Polícia Civil, e sempre enfrentei de frente a corrupção policial de que tive conhecimento. No tempo em que trabalhei na Corregedoria (2002-2003), por exemplo, participei de grandes trabalhos, que tiraram de circulação muitos bandidos com carteira de polícia.


Essa vivência, além de me proporcionar alguns inimigos e muitos desafetos, serviu como
graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado, de como funciona a corrupção na polícia. Me sinto, portanto, perfeitamente qualificado para debater corrupção policial.

E mesmo com todas essas experiências, algumas traumáticas, nunca tive qualquer comprovação de que a baixa remuneração tenha influência decisiva nos desvios de conduta. Não mesmo. Pode ser até que tenha influência periférica, eventualmente, mas não pode ser considerada um fator determinante para a corrupção.

Analisando a realidade do Estado, é notório que os policiais civis gaúchos, à exceção dos Delegados, ganham realmente pouco. Pouco demais, para quem faz esse tipo de trabalho, e de quem é exigida formação superior. Nisso eu concordo. Acho que todo mundo, aliás, concorda.

Mas a maioria absoluta, talvez noventa e nove por cento dos colegas, está sempre correndo atrás de maneiras honestas para reforçar a renda. É comum dar aulas, vender Natura ou roupas, fazer bicos ou horas-extras (mais frequentes na Brigada), colocar os filhos para trabalhar ainda na adolescência, e, especialmente, entrar e sair o tempo todo os SERASAS e dos BACEN da vida.

A propósito disso, O altíssimo índice de endividamento dos policiais civis, nas financeiras que emprestam mediante pagamento por "
débito no contracheque, sem consulta ao SERASA-SPC", denunciado pela UGEIRM, é a prova de que os policiais dão nó em pingo d'água para pagar as contas no final do mês, de forma honesta. Tiram empréstimos depois de empréstimos, pagando juros-sobre-juros; trocam o carro por outro mais velho; vendem férias (tiradas só "no papel"), e batalham por reforços ou inclusão na "Operação Verão", não para veranear, mas para ganhar diárias.

Quanto aos
tortos, tenho para mim que já entram na polícia com um defeito moral, talvez até pensando, não no emprego honrado e importante, que é ser policial, mas apenas em ter uma "carteira", para "morder" aqui e ali, e se dar bem.

Para ser bem sincero, tendo visto o que já vi, com estes mesmos olhos que a terra há de comer, daqui a uns setenta anos, não tenho medo de afirmar que os desvios de conduta são mais frequentes entre a casta dos salários superiores, do que entre os que ganham menos.

Então, não dá para tapar o sol com a peneira, mesmo sendo petista de carteirinha. O Lula errou. Pisou na bola, e pisou feio.

Não considero que ele tenha dito que todos os policiais que ganham pouco são corruptos, embora haja muitos anti-petistas forçando essa interpretação. Mas foi uma maldita frase, mal-dita. Uma frase que merece toda a reprovação.

Apesar disso, da frase mal escolhida, há um aspecto positivo no evento. O Lula disse para o Brasil inteiro ouvir, que os policiais precisam e merecem ganhar mais. É importante que o Presidente da República atual pense assim.

Afinal, o Presidente anterior nos chamou até de vagabundos, quando atacou a aposentadoria especial. 

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domingo, 8 de novembro de 2009

Contra a privataria - A luta continua

Na quarta-feira da semana passada, antes do feriadão de finados, ficamos sabendo que o Prefeito havia encaminhado, para o Jornal A Notícia, a publicação do Edital da Privatização dos Serviços de Água e Esgoto.

Trata-se do mesmo Edital que referimos em postagem anterior, aquele que foi copiado e colado da Prefeitura de Tubarão. Esse Edital contém cláusulas completamente direcionadas para deixar fora as empresas estatais. Vou provar isso durante esta semana, pois pretendo fazer sua leitura com uma lupa, o que não fiz ainda por não ter conseguindo baixar. Parece que tem algum problema no site da Prefeitura.

Só que o Alcaide, e alguns aspones seus, haviam dado várias entrevistas dizendo que esperariam até o final do mês de outubro para que qualquer pessoa pudesse apresentar propostas.

Mas, antes do mês terminar, houve um "racha" na base de "sustentação" do desgoverno municipal, pois importantes lideranças do PP (partido do Vice-Prefeito) se revoltaram e exigiram que o partido tomasse uma posição sobre a privatização, que não teria sido discutida pelos progressistas.

Um parêntese. Há muitas pessoas respeitáveis no PP local, gente honesta que, certamente, não irá avalizar a privatização, danosa para o Município. Aliás, uma coisa que eu aprendi na marra, é que o mundo não é maniqueísta, há pessoas decentes com outras visões de mundo, e canalhas dentro de nossa própria trincheira. Não é por serem "de direita" que sejam desonestos. E se não são desonestos, não vão assinar embaixo dessa bandalheira. Fecha o parêntese.

Pois essas lideranças históricas do PP chamaram uma reunião, onde dizem que "quebrou o pau", e depois formaram uma comissão que analisou o Edital, e apontou diversos problemas. EStavam por apresentar os pontos problemáticos ao Prefeiro, formalmente, no prazo por ele estabelecido.

Mas a administração se antecipou, e mandou correndo o Edital para o Jornal, na quarta-feira, quando faltava ainda mais um dia útil para o mês terminar. Ou seja, o Prefeito deu um golpe no principal partido da sua base (pois o PSDB aqui é minúsculo).

Analisando a situação, nós, do Comitê em Defesa da Água Pública, também resolvemos apresentar questionamentos ao Edital, deixando bem claro que isso não significa aceitar que seja feita licitação. Esclarecendo, defendemos um contrato de gestão compartilhada do serviço entre Município e Corsan, que dispensa a licitação. Se houver licitação (e onde houve ocorreu isso), a Corsan perde, pois não tem como apresentar o básico da proposta exigida: tarifa mais baixa que eventuais concorrentes.

Então, elaboramos três documento, cada um solicitando que o Edital contemple uma questão diferente:
  • que a indenização à Corsan seja realizada pela concessionária vencedora da privatização; 
  • que fique clara a impossibilidade da concessionária exigir reequilíbrios econômicos financeiros do contrato, decorrentes de novos custos ocasionados pelos estudos de impacto de vizinhança; 
  • que haja a substituição da modalidade de "Separação Absoluta", pela modalidade de "Separação Mista", o que reduzirá em muito o custo da implantação da coleta do esgoto cloacal. 
Protocolamos esse documento na Prefeitura na quinta-feira, último dia últil do prazo estabelecido para recebimento de sujestões.

Esta semana, entraremos na Justiça buscando a anulação da licitação, uma vez que o prazo para recebimento das sujestões, fixado pelo próprio Prefeito (temos gravações) não foi respeitado. Entendemos que esse processo não pode prosseguir sem que as nossas sujestões sejam pelo menos respondidas.

Vou postar, adiante, o teor dos três ofícios com as nossas propostas. A primeira parte (os "considerandos") é igual, nos três documentos, pelo que não será repetida. Segunda-feira, coloco uma postagem sobre a revolta das pessoas decentes do PP local, e a partir de terça comento cada uma das nossas propostas, e a motivação para fazê-las.

...............................................................................

Primeiro Ofício:

São Luiz Gonzaga, 29 de outubro de 2009. 

Exmo. Sr. Vicente Diel
M.D. Prefeito Municipal

Senhor Prefeito,

As entidades de classe, sindicatos de trabalhadores, partidos políticos e pessoas físicas abaixo assinadas, reunidas no COMITÊ EM DEFESA DA ÁGUA PÚBLICA, vêm respeitosamente dizer e requerer o que segue.

CONSIDERANDO que o Executivo Municipal, decidiu promover licitação para concessão de serviços públicos de água e esgoto, uma vez que o contrato historicamente mantido com a Companhia Rio-Grandense de Saneamento – CORSAN, encontra-se vencido;

CONSIDERANDO que o Executivo Municipal fez publicar na imprensa local, e disponibilizou, para acesso no sítio da Prefeitura na Internet, Minuta de Edital de Licitação para Concessão de Serviços Públicos de Água e Esgoto;

CONSIDERANDO que o Sr. Prefeito Municipal noticiou na imprensa, especialmente em entrevistas recentes às rádios Missioneira e São Luiz, que essa publicação da Minuta do Edital no sítio da Internet destinava-se a tornar pública sua redação preliminar, para que eventuais interessados, até o final do mês de outubro, solicitassem esclarecimentos ou apresentassem sugestões, para serem incorporadas à redação definitiva;

e CONSIDERANDO que as entidades e pessoas físicas que compõem o COMITÊ EM DEFESA DA ÁGUA PÚBLICA estão seriamente preocupadas com a maneira como o assunto está sendo encaminhado, vêm respeitosamente, dentro do prazo estabelecido, apontar a questão adiante especificada, com relação à qual a Minuta de Edital é omissa, mas que deve ser, imprescindivelmente, esclarecida na redação definitiva do Edital.


INDENIZAÇÃO À CORSAN

A obrigação de indenizar a Companhia Rio-Grandense de Saneamento – CORSAN, pelos seus imóveis, equipamentos e instalações, caso seja substituída na prestação do serviço que se pretende licitar, é juridicamente incontroversa.

Citamos, como exemplo dessa obrigação de indenizar, o caso do Município catarinense de Balneário Camboriú, que alguns anos atrás lançou-se na aventura irresponsável de rescindir, unilateralmente, o contrato com a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento, e assumir suas instalações e equipamentos, embasado em equivocado parecer de que “não cabia indenização”, e posteriormente foi condenado a pagar mais de 40 milhões de reais à autarquia, além de restituir-lhe a prestação do serviço.

Essa obrigação de indenizar, repetimos, é incontroversa nos tribunais, e certamente a CORSAN, entidade para-estatal, não repassará gratuitamente seu patrimônio para outra empresa que a suceda na prestação do serviço. Se não for indenizada previamente, com certeza buscará ressarcimento na Justiça, o que poderá gerar imenso passivo para o Município, ao final da lide.

A Minuta de Edital não contém nenhuma linha sobre esse problema futuro, que no entanto, é por demais previsível.

Solicitamos, assim, que seja incorporada no Edital cláusula estipulando que a empresa eventualmente vencedora do certame assumirá integralmente o compromisso de indenizar à CORSAN, em valores estabelecidos mediante acordo com a autarquia, ou mesmo estipulados em posterior decisão judicial.

Pleiteamos que, desse modo, fique claro, já no Edital, que toda a responsabilidade por eventual indenização à CORSAN caberá, exclusivamente, à Concessionária, sem nenhum ônus para o Município de São Luiz Gonzaga. Assim fazendo, resguardaremos as gerações futuras de dívidas que inviabilizem o bom funcionamento da Administração Municipal.

Certos de vossa atenção, subscrevemo-nos.

(...)
 
...............................................................................

Segundo Ofício:

(...)

ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA

Nos termos da legislação em vigor, e do artigo 36 da Lei 10.257, de 10 de julho de 2001, o dito “Estatuto das Cidades”, a implementação dos serviços de coleta, afastamento e tratamento de esgoto, e especialmente a construção de Estação de Tratamento de Esgoto, depende de prévio Estudo sobre o Impacto de Vizinhança.

A realização desse Estudo, no entanto, bem como das obras necessárias de forma adequada ao que nele for estabelecido, é fonte geradora de custos, que não estão previstos na Minuta de Edital publicada no sítio da Internet.

A vencedora do certame, nesse caso, poderá pleitear futuramente, com forte possibilidade de êxito, sucessivos reordenamentos nos preços, como forma de manter o equilíbrio financeiro do contrato.

Esse fator, ignorado na minuta, mas facilmente previsível no caso concreto, poderá no futuro onerar significativamente ou os cofres públicos municipais, ou a população atendida, às quais serão certamente repassados, na forma de aumentos na tarifa.

Assim sendo, solicitamos que seja acrescentada cláusula ao Edital, estabelecendo que os custos para realização dos Estudos de Impacto de Vizinhança, e os acréscimos de custo que eventualmente dele decorram às obras necessárias, serão suportados exclusivamente pela concessionária, vencedora do certame, ficando o Município de São Luiz Gonzaga isento de quaisquer ressarcimentos, nesse sentido, e ficando vedado o repasse de custos adicionais às tarifas ou taxas cobradas dos usuários.

Certos de vossa atenção, subscrevemo-nos.

(...)

...............................................................................

Terceiro Ofício:

(...)

SISTEMA DE SEPARAÇÃO

A Minuta de Edital publicada no sítio da Internet prevê que o serviço de coleta, afastamento e tratamento de esgoto pela vencedora do certame será realizado na modalidade técnica denominada “Sistema de Separação Absoluta”.

Essa modalidade, inclusive, é prevista no Plano Diretor Urbano do Município, como a que deva ser utilizada no sistema de esgotos de São Luiz Gonzaga. Isso ocorre porque, na época da elaboração do Plano, os debates sobre esse assunto ainda eram incipientes, e houve um consenso entre os Edis, de que essa modalidade seria a que melhor atende às exigências ambientais.

Há, entretanto, outra modalidade, tecnicamente viável, denominada “Sistema Misto”, cujo custo para implantação é consideravelmente inferior, e que já desenvolveu adequações tecnológicas que permitem ser realizado sem nenhuma perda em qualidade ambiental, com relação ao “Sistema de Separação Absoluta”.

A escolha pelo “Sistema Misto” causaria, como efeito, um custo final muitas vezes menor, com o respectivo reflexo nas tarifas cobradas do usuário do sistema.

Uma vez que não há prejuízos ambientais, e trata-se de um sistema de custo menor, bastaria, para sua escolha, uma pequena mudança na legislação municipal, especificamente, no Código do Plano Diretor, proposta para a qual alguns vereadores da atual legislatura, inclusive, já manifestaram apoio.

Sugerimos, assim, que seja estabelecida no Edital cláusula segundo a qual o sistema de coleta, afastamento e tratamento do esgoto possa ser realizado na modalidade denominada “Sistema Misto”, em substituição à modalidade “Sistema Absoluto” prevista na minuta publicada no sítio da Internet.

Ao mesmo tempo, comprometemo-nos a fazer tramitar na Câmara Municipal de Vereadores, com a maior brevidade, a necessária proposta de alteração no Plano Diretor.

Certos de vossa atenção, subscrevemo-noS.

(...)

...............................................................................

Assinam os documentos Luiz Carlos Oliveira (Presidente PSB), Neri Moraes (Presidente PDT), Atanásio Santiago (Presidente PT), Mário Trindade (Vereador PMDB), Eni Araújo Malgarim (Vereadora PT), Edison Oliveira (Vereador PDT), Rosane Zan (CPERS), Antonio Medeiros (Sindicato dos Bancários), Américo Pereira (Sindicato dos Comerciários), Luiz Carlos Oliveira (Sindicato dos Municipários), Atanásio Santiago (Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação) Fernanda Cattelan (CREA), Jarcedi Terra (Ex-Vereador PT), Ruy Octavio Fiorin (Associação Regional de Engenheiros e Arquitetos), Miguel Cattelan Filho (MEC-Engenheiros Civis), José Renato de O. Moura (Policial Civil), Arlindo Engert (Advogado).

Por hoje, é isto. Mas voltaremos ...
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sábado, 7 de novembro de 2009

Bicho-papão




Acontece com todos os policiais, e aconteceu comigo hoje, mais uma vez. A enésima.

Eu estava almoçando no restaurante, e na mesa ao lado havia um casal com um gurizinho pequeno, de uns quatro ou cinco anos. A criança estava inquieta, levantava, corria, trombava nas pessoas. Uma praguinha, mas nada fora do normal, pois as crianças espertas são assim mesmo. E o pai e a mãe, se alternando, levantavam e iam atrás, rebocando ele para a mesa, até que fugisse de novo.

Eu pressenti o que viria a seguir. Eu já sabia. Até preparei as orelhas, e veio mesmo: o pai apontou para mim, mostrando para a criança, e disse "aquele ali é o Delegado, tu te comporta ou vou chamar ele, pra te prender".

Dei aquele sorriso amarelo, e continuei comendo, tentando não demonstrar meu desconforto. Não somente eu, mas nenhum policial gosta disso. Ninguém gosta de fazer papel de malvado. E absolutamente todos já passaram por essa situação, pelo menos uma vez. Se não passaram, é certo que ainda vão passar.

Eu acho muito chato que me coloquem como bicho-papão das crianças. Claro que as pessoas falam sem pensar, sem maldade. Deve ser uma repetição automática de algo que ouviram, também na infância.

Mas bem que podiam se encarnar em outras profissões, de vez em quando: "Joãozinho, te comporta ou vou chamar aquele tio ali é professor, e vai te botar ajoelhado no milho". "Mariazinha, não faz isso na frente da tia, que ela é psicóloga, e vai te mandar pro hospício". "Zezinho, olha que eu vou chamar aquele homem ali, que é cientista pra te transformar numa ameba".

Ou digam duma vez que vão chamar o "homem do saco", que pelo menos não pode ser personificado em nenhuma profissão.

Mas báh, como eu tô rabugento! Desse jeito, vou assustar as crianças mesmo. Estou muito amargo. Vou tomar um café com bastante adocil.

Total, pelo menos o guri se comportou ... ficou quieto, com os olhinhos que é uns pila!
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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Privataria em São Luiz - Atualização

Depois da farsa da audiência pública [1] chamada pela Prefeitura para anunciar o Edital da Privatização dos serviços de água e esgoto, o Executivo municipal ficou quieto por alguns dias.

Como na tal audiência não foi apresentado o Edital, de forma impressa, e houve várias reclamações sobre isso, já que as pessoas não entendiam os dados projetados em um telão, e as explicações de uma pessoa de voz incompreensível, o representante do Prefeito na reunião anunciou que, dois ou três dias depois, a minuta do Edital seria disponibilizada no site da Prefeitura. Ficou todo mundo na expectativa [2].

Passou um tempão, e não aconteceu nada. Mas daí, deram um fisco sem tamanho. Em uma determinada sexta-feira (não anotei o dia certo), apareceu no site da Prefeitura a minuta do Edital. Só que ao invés de dizer que era um edital da Prefeitura Municipal de São Luiz Gonzaga, RS, dizia: Prefeitura Municipal de Tubarão - SC.

E assim ficou, até que alguém se deu conta. Então, retiraram às pressas e alteraram o nome da cidade, devolvendo depois, devidamente corrigido, no site. Pena que eu não eu não dei um "print screen", para eternizar a fiasqueira.

Embora os moitucanos (políticos locais que ficam na moita, mas bancam ou avalizam todas as ações do Prefeito tucano) tenham dito que foi um erro banal, eu entendo o contrário. Foi um fato gravíssimo. Ou melhor, não um fato, mas um ato. E um “ato falho”.

Esse “erro” foi a prova concreta de que o Edital foi elaborado sob encomenda, por pessoas intimamente ligadas à Associação das Concessionárias Privadas, de tal modo que a CORSAN não consiga concorrer, como já foi comentado antes [3].

Tudo indica que as mesmas pessoas que fizeram o Edital da Prefeitura de Tubarão, no qual uma empresa privada ganhou a licitação [4], devem ter mandado o edital por e-mail, e os aspones locais nem se deram o trabalho de ler, para fazer alterações que ao menos dessem a aparência de ter sido elaborado aqui.

Repetindo: ninguém na Prefeitura leu a minuta de Edital antes de que posse postado no site, pois ninguém notou que dizia o nome de outra cidade. E se não leram, como é que sabem quais os termos da concessão do serviço?

Eu já tinha irresponsabilidade no trato da coisa pública. Mas nesse nível, é demais.

Pois nesse meio tempo, de copia-cola-posta-retira-corrige-posta de novo, o Comitê em Defesa da Água Pública, do qual faço parte, esteve no Ministério Público, apresentando documento no qual é solicitada sua intervenção, no sentido de buscar a declaração judicial de nulidade da audiência dita pública, que não teve nada nem de audiência, nem de pública.

O Promotor está estudando a documentação, e acreditamos que irá tomar alguma providência, já que, inclusive, estava presente no evento, e viu com seus próprios olhos o que lá aconteceu.

Outro acontecimento interessante, desde a última postagem, é que o Prefeito, depois que o "apertamos" [5], foi com uma comissão de Vereadores entregar uma cópia do seu Plano de Saneamento Básico (que para mim é fajuto) para o Secretário Estadual Marco Alba, ao qual está subordinada a CORSAN. Lá nessa reunião, nosso nobre Alcaide “deu trinta dias para a CORSAN apresentar uma proposta”.

Pois a Prefeitura de Tubarão, quer dizer, a Prefeitura de São Luiz Gonzaga, publicou a tal minuta de Edital, que referi acima, antes de decorridos esses trinta dias. Indicativo de que eu tinha razão e aquela reunião era um “engana-trouxa” [6].

Mas a história não terminou aí. Tem ainda uma parte cômica, na qual a gente fica sem saber ao certo quem é o palhaço.

No final do mês de outubro, ouve um evento denominado de “Fórum das Águas”, promovido pela CORSAN, na cidade vizinha de São Nicolau. O Presidente da CORSAN, logicamente, participou do evento. E nosso Prefeito-condenado [7] também esteve lá. Só que os dois ficaram se desviando, um não queria encontrar pessoalmente o outro. Por qual razão, isso ainda não se sabe ...

Então, antes de ir embora, o Presidente da CORSAN deixou nas mãos de um radialista local a proposta da empresa, para que essa pessoa entregasse ao Prefeito. Uma coisa bem ridícula.

Ao mesmo tempo, deixou gravada uma entrevista para a Rádio Missioneira, na qual disse que tratava-se de uma proposta para abertura de negociações, para uma gestão compartilhada do serviço (solução que defendemos, para a qual a lei federal 11.445 dispensa licitação), e criticou veementemente o Plano de Saneamento Básico, que segundo ele somente indica valores, mas não demonstra tecnicamente como a equipe que o elaborou chegou a tais números. Eu acho que eles simplesmente “chutaram”. Essa manifestação é indicativa de que não sou o único a achar que esse Plano é fajuto.

Mas o Alcaide não recebeu nosso querido locutor, pelo que a papelada foi entregue alguns dias depois ao Vice-Prefeito em exercício [8].

E o Prefeito passou imediatamente a dar entrevistas, dizendo que a proposta era uma ofensa ao Município, pois a CORSAN “deu tudo” para Santo Ângelo e Santa Rosa, mas “não dá nada” para São Luiz. E que a CORSAN nunca se preocupou em fazer esgoto (só que o contrato antigo previa apenas para abastecimento de água), etc., etc. Ou seja, que a CORSAN é o demônio em forma de Estatal.

Aliás, o cara é uma nulidade como administrador, mas é bom de retórica.

E daí, na quarta-feira passada, ele encaminhou a súmula do Edital da Licitação ao Jornal A Notícia, a qual foi publicada no sábado. Ou seja, foi dado início formal ao processo de privatização. Mas nós vamos resistir.

Bueno, como este texto já está muito comprido eu continuo amanhã. Ou depois.

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[1] Ver texto “Marmelada de Banana”, aqui.

[2] Ver texto “Um estranho silêncio”, aqui.

[3] Ver texto “Pinóquio é pouco”, aqui.

[4] Só empresas privadas podem ganhar a licitação. Como exemplo do direcionamento, um dos critérios é menor preço de tarifas. Como a Corsan poderá concorrer, se sua tarifa é única para todo o Estado, e conhecida das demais licitantes, que poderão colocar valores mais baixos, e logo adiante recuperar esse valor com os tais “equilíbrios econômico-financeiros do contrato”?

[5] Através de reuniões nos bairros, entrevistas, panfletos, abaixo-assinado, etc.

[6] Ver texto “Pai Arnóbio anuncia vencedor de licitação”, aqui.

[7] Ver texto “Prefeito é condenado por fraude em licitação”, aqui.

[8] Ver aqui.
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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Saudades do Dinho

É dura a vida de blogueiro amador. Ando bem enrolado, sem tempo para atualizar o blog. Estou até com dificuldades de manter em dia as notícias sobre a privatização da água, pois ocorreram muitos fatos, em poucos dias.

Um parêntese: sobre isso, acho que a situação começa a se reverter, aos poucos. Fecha parêntese.

Então, vai aqui um comentário rápido sobre o Grêmio. Acho que, mesmo perdendo os jogos contra São Paulo, Flamengo, Cruzeiro e Palmeiras, ainda iremos ficar na zona da sub-americana. E como o Colorado provavelmente terminará o campeonato em quinto ou sexto lugar, talvez tenhamos Gre-Nal na competição de consolo das Américas, ano que vem. Daí, não só por isso, mas também por isso, é preciso reforçar o time.

Mas hoje estava ouvido rádio, por puro acaso, e ouvi dois comentários que me revoltaram, ambos atribuídos ao Paulo Autuori.

O primeiro é que será preciso renovar alguns nomes que não teriam competitividade suficiente para se impor em jogos fora do Olímpico. O segundo é que o São Paulo faz anti-jogo.

Pelo amor de Deus. Quem tirou a competitividade do Grêmio foi o próprio Autuori. No primeiro jogo fora, com ele de técnico (não lembro o adversário), o Jonas fez uma falta na nossa lateral esquerda, pois outro jogador havia perdido a bola, e era preciso evitar o contra-ataque. Foi expulso por matar a jogada. Situação normal, do jogo, acho que ele fez o certo, pois deixar o adversário progredir sozinho é que ele não podia. Pois depois do jogo o Autuori fez um baita discurso, só faltou chamar o jogador de irresponsável. E imediatamente sacou o Jonas por alguns jogos do time, como "punição".

Depois, qualquer jogador que levasse amarelo ou vermelho ia direto para o banco. E o discurso da "irresponsabilidade" pegando. Então, todos passaram a jogar um futebol mimoso, com jogos inteiros praticamente sem fazer faltas, pois ninguém quer ser sacado do time. A garra castelhada, que sempre moveu nosso time, desapareceu. E dê-lhe derrotas fora de casa. No Olímpico, a torcida nunca deixou o time se acovardar, mas nos jogos fora prevaleceu o medo de "exagerar" na raça, e perder a titularidade.

E agora, vem o Autuori com esse papo de anti-jogo, exatamente o discurso que sempre usaram contra os times ganhadores do Grêmio.

É preciso lembrar que, segundo a imprensa carioca e paulista, o Grêmio de 1981 fazia anti-jogo. O da Libertadores de Renato e De León, também. O time campeão do Mundo, da mesma maneira. E os times do Felipão e do Tite, segundo o pessoal do centro do país, somente ganhavam fazendo anti-jogo. Mas ganhavam.

E nós sempre defendendo que não, era apenas uma maneira mais viril de jogar futebol. A maneira do Grêmio. o DNA gremista, implantado pelo Foguinho.

Agora, vem esse alienígena falar em anti-jogo, porque, segundo ele, o São Paulo "faz faltas". Ele não percebe que o que nós queremos é um time combativo, um time com jogadores com a personalidade do Dinho. Um time que lute até depois do final do jogo, que não se entregue, não se atemorize, e que passe até por cima até de arbitragens perversas, se for o preciso, como no caso dos Aflitos.

Esse é o Grêmio que todos queremos. Pode até perder, como naquela decisão da Copa do Brasil com o Corínthians, mas com a torcida cantando o hino em reconhecimento ao esforço dos jogadores.

Então, ou o Autuori aterrisa, e entende que é o treinador que tem que se adaptar à história do Grêmio, e não o Grêmio que deve rejeitar sua história para praticar o que ele entende ser "futebol", ou pede o boné e vai embora.

Vai treinar um grupo de balé, não o Grêmio. Saco!
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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A inveja de FHC


Interrompo meu ostracismo voluntário para postar algo sobre o longo e tedioso texto que o FHC fez publicar nos principais jornais do país, neste final de semana.

Como uma imagem vale mais que mil palavras, e outros blogueiros já escreveram quase tudo sobre o assunto, divulgo somente a imagem acima, que pesquei dos "Amigos do Presidente Lula".

Mas não se preocupem, que o Presidente tem o corpo fechado.

Semana que vem, postagem mais longa sobre a privatização da água, assunto que está rendendo aqui, na terra de Sepé Tiarajú.
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