domingo, 7 de novembro de 2010

Yeda no país das maravilhas

* Editorial do Sul 21.


A prestação de contas do Governo Yeda Crusius, realizada ontem, é a expressão viva do que foi seu governo: prepotente, egocêntrico e fantasioso.
Yeda Crusius afirmou que “eliminou conflitos”, que manteve relações “excelentes” com os “outros poderes” e estabeleceu uma “relação republicana com os prefeitos municipais”, além de realizar obras e “colocar a casa em ordem”, estabelecendo o “déficit zero” no orçamento estadual.
As frases síntese de sua gestão foram proferidas pela própria governadora: “Não teve uma área em que não alcançamos nossas propostas”; “teríamos que plantar muitas árvores para [poder] colocar no papel tudo o que fizemos nos Programas Estruturantes”; “como Obama, preferi o pão e não o circo [e, como Obama,] levei uma surra nas urnas.”.
Yeda Crusius, ao que parece, ainda não acordou do sonho que a levou ao Palácio Piratini. Ela nunca entendeu as circunstâncias que a fizeram vencedora das eleições de 2006, o que a impede de entender, ainda hoje, o que levou ao fracasso de seu governo e da sua tentativa de reeleição.
Governadora pior avaliada do país, Yeda Crusius julgou-se capaz de reverter o quadro negativo acusando adversários e fazendo-se de vítima. Ainda que tenha se esforçado e realizado a campanha mais cara dentre os candidatos ao governo do Rio Grande do Sul, mesmo no exercício do mandato e com a posse da máquina do Estado, Yeda Crusius sequer alcançou os 20% dos votos. Culpa dos eleitores, sem dúvida, a se crer nas palavras da senhora governadora.
Foi a polaridade histórica PT x PMDB, aliada a uma avaliação equivocada da coordenação de campanha de Germano Rigotto, que permitiu a ida de Yeda Crusius ao segundo turno em 2006 e que criou as condições de sua vitória final. Julgando-a mais fácil de ser batida no segundo turno, o PMDB orientou que parcela de seus próprios correligionários votasse na candidata do PSDB no primeiro turno, entendendo que assim Olívio Dutra pudesse ser eliminado. Esqueceram, aqueles estrategistas, que a votação histórica do PT no Rio Grande do Sul ficava na casa dos 33% do eleitorado, o que lhe garantia a ida inevitável aos segundos turnos, ainda que o impedisse de alcançar a vitória nos segundos turnos, como já havia ocorrido em 2002.
Yeda Crusius foi conduzida, portanto, pelos próprios adversários ao segundo turno de 2006, muito mais do que pelo fato de que ela representava “o novo” ou um “novo jeito de governar”. Claro que o discurso da renovação ajudou, mas o que foi determinante foi que Yeda Crusius apareceu como o(a) tertius, o conhecido terceiro elemento que surge na disputa polarizada e acaba por sair vencedor pela inépcia dos contendores iniciais.
Por vaidade, por prepotência e por fantasia Yeda Crusius nunca entendeu isto. Governou como se tivesse sido eleita por seus méritos. Meteu os pés pelas mãos, como soe acontecer nestas situações. Criou conflitos com adversários e aliados desde antes de sua posse, quando solicitou que o governador que saía encaminhasse propostas de aumento de impostos, rasgando, desde aquele momento, compromissos fundamentais que havia assumido em campanha. Brigou com o vice, ainda na campanha, depois da posse e durante o governo. Hostilizou o funcionalismo, concedeu reajustes salariais elevados para as carreiras de mais altos vencimentos e concedeu aumentos pífios para os pior remunerados.
Realizou, sim, algumas conquistas importantes, como o enfrentamento do déficit orçamentário, o pagamento dos fornecedores e a relação mais equilibrada com os prefeitos municipais. Faça-se justiça. Mas, além de não ter gerado o tão propalado “déficit zero”, só pagou em dia os fornecedores porque realizou pouquíssimas obras e atendeu grande parte das reivindicações dos prefeitos porque lançou mão dos recursos obtidos pela venda de ações do Banrisul, desviando, assim, para o caixa do governo, recursos que deveriam ser aplicados para a composição de um fundo de estabilização do Estado do Rio Grande do Sul.
Um pouco de realidade não faz mal a ninguém, principalmente a um(a) governador(a).
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