quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Um ano, fatia cortada do tempo ...

"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias
 a que se deu o nome de ano
 foi um indivíduo genial.
 Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
 Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
 Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
 com outro número e outra vontade de acreditar
 que daqui para frente vai ser diferente."
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"Cortar o Tempo"
Carlos Drumond de Andrade
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Que essa fatia de tempo, apelidada de 2011, nos seja leve, doce, agradável.
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São os votos deste blog, e da Família Silva Moura: Luísa, Ana Paula, Djanira e José Renato.
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Feliz 2011!
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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Conto de Natal – Maria e José na Palestina em 2010

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* por James Petras, em Pátria Latina
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Os tempos eram duros para José e Maria. A bolha imobiliária explodira. O desemprego aumentava entre trabalhadores da construção civil. Não havia trabalho, nem mesmo para um carpinteiro qualificado. Os colonatos ainda estavam a ser construídos, financiados principalmente pelo dinheiro judeu da América, contribuições de especuladores de Wall Street e donos de antros de jogo.
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"Bem", pensou José, "temos algumas ovelhas e oliveiras e Maria cria galinhas". Mas José preocupava-se, "queijo e azeitonas não chegam para alimentar um rapaz em crescimento. Maria vai dar à luz o nosso filho um dia destes". Os seus sonhos profetizavam um rapaz robusto a trabalhar ao seu lado… multiplicando pães e peixes.
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Os colonos desprezavam José. Este raramente ia à sinagoga, e nas festividades chegava tarde para fugir à dízima. A sua modesta casa estava situada numa ravina próxima, com água duma ribeira que corria o ano inteiro. Era mesmo um local de eleição para a expansão dos colonatos. Por isso quando José se atrasou no pagamento do imposto predial, os colonos apropriaram-se da casa dele, despejaram José e Maria à força e ofereceram-lhes bilhetes só de ida para Jerusalém.
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José, nascido e criado naquelas colinas áridas, resistiu e feriu uns tantos colonos com os seus punhos calejados pelo trabalho. Mas acabou abatido sobre a sua cama nupcial, debaixo da oliveira, num desespero total.
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Maria, muito mais nova, sentia os movimentos do bebê. A sua hora estava a chegar. "Temos que encontrar um abrigo, José, temos que sair daqui… não há tempo para vinganças", implorou. José, que acreditava no "olho por olho" dos profetas do Antigo Testamento, concordou contrariado.
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E foi assim que José vendeu as ovelhas, as galinhas e outros pertences a um vizinho árabe e comprou um burro e uma carroça. Carregou o colchão, algumas roupas, queijo, azeitonas e ovos e partiram para a Cidade Santa.
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O trilho era pedregoso e cheio de buracos. Maria encolhia-se em cada sacudidela; receava que o bebê se ressentisse. Pior, estavam na estrada para os palestinos, com postos de controlo militares por toda a parte. Ninguém tinha avisado José que, enquanto judeu, podia ter-se metido por uma estrada lisa pavimentada – proibida aos árabes.
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Na primeira barragem José viu uma longa fila de árabes à espera. Apontando para a mulher muito grávida, José perguntou aos palestinos, meio em árabe, meio em hebreu, se podiam continuar. Abriram uma clareira e o casal avançou.
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Um jovem soldado apontou a espingarda e disse a Maria e a José para se apearem da carroça. José desceu e apontou para a barriga da mulher. O soldado deu meia volta e virou-se para os seus camaradas. "Este árabe velho engravida a rapariga que comprou por meia dúzia de ovelhas e agora quer passar".
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José, vermelho de raiva, gritou num hebreu grosseiro, "Eu sou judeu. Mas ao contrário de vocês… respeito às mulheres grávidas".
O soldado empurrou José com a espingarda e mandou-o recuar: "És pior do que um árabe – és um velho judeu que violas raparigas árabes".
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Maria, assustada com o caminho que as coisas estavam a tomar, virou-se para o marido e gritou, "Pára, José, ou ele dispara e o nosso bebê vai nascer órfão".
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Com grande dificuldade, Maria desceu da carroça. Apareceu um oficial do posto da guarda, a chamar por uma colega, "Oh Judi, apalpa-a por baixo do vestido, ela pode ter bombas escondidas".
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"Que se passa? Já não gostas de ser tu a apalpá-las?" respondeu Judith num hebreu com sotaque de Brooklyn. Enquanto os soldados discutiam, Maria apoiou-se no ombro de José. Por fim, os soldados chegaram a um acordo.
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"Levanta o vestido e o que tens por baixo", ordenou Judith. Maria ficou branca de vergonha. José olhava para a espingarda desmoralizado. Os soldados riam-se e apontavam para os peitos inchados de Maria, gracejando sobre um terrorista ainda não nascido com mãos árabes e cérebro judeu.
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José e Maria continuaram a caminho da Cidade Santa. Foram freqüentes vezes detidos nos postos de controlo durante a caminhada. Sofriam sempre mais um atraso, mais indignidades e mais insultos gratuitos proferidos por sefarditas e asquenazes, homens e mulheres, leigos e religiosos – todos soldados do povo Eleito.
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Já era quase noite quando Maria e José chegaram finalmente ao Muro. Os portões já estavam fechados. Maria chorava em pânico, "José, sinto que o bebê está a chegar. Por favor, arranja qualquer coisa depressa".
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José entrou em pânico. Viu as luzes duma pequena aldeia ali ao pé e, deixando Maria na carroça, correu para a casa mais próxima e bateu à porta com força. Uma mulher palestina entreabriu a porta e espreitou para a cara escura e agitada de José. "Quem és tu? O que é que queres?"
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"Sou José, carpinteiro das colinas do Hebron. A minha mulher está quase a dar à luz e preciso de um abrigo para proteger Maria e o bebê". Apontando para Maria na carroça do burro, José implorava na sua estranha mistura de hebreu e árabe.
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"Bem, falas como um judeu mas pareces mesmo um árabe", disse a mulher palestina a rir enquanto o acompanhava até a carroça.
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A cara de Maria estava contorcida de dores e de medo; as contrações estavam a ser mais freqüentes e intensas. A mulher disse a José que levasse a carroça de volta para um estábulo onde se guardavam as ovelhas e as galinhas. Logo que entraram, Maria gritou de dor e a palestina, a que entretanto se juntara uma parteira vizinha, ajudou rapidamente a jovem mãe a deitar-se numa cama de palha. E assim nasceu a criança, enquanto José assistia cheio de temor.
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Aconteceu que passavam por ali alguns pastores, que regressavam do campo, e ouviram uma mistura de choro de bebê e de gritos de alegria e se apressaram a ir até ao estábulo levando as suas espingardas e leite fresco de cabra, sem saber se iam encontrar amigos ou inimigos, judeus ou árabes. Quando entraram no estábulo e depararam com a mãe e o menino, puseram de lado as armas e ofereceram o leite a Maria que lhes agradeceu tanto em hebreu como em árabe.
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E os pastores ficaram estupefatos e pensaram: Quem seria aquela gente estranha, um pobre casal judeu, que chegara em paz com uma carroça com inscrições árabes?
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As novas espalharam-se rapidamente sobre o estranho nascimento duma criança judia mesmo junto ao Muro, num estábulo palestino. Apareceram muitos vizinhos que contemplavam Maria, o menino e José.
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Entretanto, soldados israelenses, equipados com óculos de visão noturna, reportaram das suas torres de vigia que cobriam a vizinhança palestina: "Os árabes estão a reunir-se mesmo junto ao Muro, num estábulo, à luz das velas". 
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Abriram-se os portões por baixo das torres de vigia e de lá saíram caminhões blindados com luzes brilhantes, seguidos por soldados armados até aos dentes que cercaram o estábulo, os aldeões reunidos e a casa da mulher palestina. Um altofalante disparou, "Saiam cá para fora com as mãos no ar ou disparamos". 
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Saíram todos do estábulo, juntamente com José, que deu um passo em frente de braços virados para o céu e falou, "A minha mulher Maria não pode obedecer às vossas ordens. Está a amamentar o menino Jesus".
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O original encontra-se em http://petras.lahaine.org/articulo.php?p=1831&more=1&c=1. Tradução de Margarida Ferreira.
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Feliz Natal, para todos nós ...
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Lula ganha camisa personalizada da seleção

domingo, 19 de dezembro de 2010

Minha disposição é a mais pacífica

“Minha disposição é a mais pacífica. Os meus desejos são: uma humilde cabana com um teto de palha, mas boa cama, boa comida, o leite e a manteiga mais frescos, flores em minha janela e algumas belas árvores em frente à minha porta. E, se Deus quiser tornar completa a minha felicidade, me concederá a alegria de ver seis ou sete de meus inimigos enforcados nessas árvores. Antes da morte deles, eu, tocado em meu coração, lhes perdoarei todo o mal que em vida me fizeram. Deve-se, é verdade, perdoar os inimigos – mas não antes de terem sido enforcados”. [Heirich Heine (1797-1856), in Gedanken und Einfälle].
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Fragmento de uma postagem do Cristóvão Feil, no indispensável Diário Gauche de ontem, que resolvi compartilhar. 

Para ler o post, no contexo, clicar aqui: A economia dos instintos no romantismo.
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sábado, 18 de dezembro de 2010

Depois da campanha ...

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Qualquer semelhança com algum companheiro, recentemente eleito e diplomado, é mera coincidência ...
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A charge é de Geraldo Passofundo, pescada no Prancheta da Grafar.
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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Enquanto isso, no Oriente Médio ...

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Rapaz, o Kayser vai acabar me processando, de tanto que eu reproduzo as charges dele aqui no blog. Mas não dá para resistir. O homem é um gênio!
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Visitem o Blog do Kayser e o Prancheta da Grafar, para conferir mais trabalhos, dele e de outros artistas do traço.
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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Sindicateando

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Tem blog novo na praça. Nosso amigo Mauro Salles Machado, Diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, está editando o "Sindicateando", com a intenção de promover reflexões sobre o sindicalismo e o mundo do trabalho.
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O Mauro é um amigo antigo, que batalha no Sindicato dos Bancários desde a metade da década de 1980. Apesar de nós dois sermos muito jovens, nos conhecemos desde 1989, quando me juntei a um grupo de militantes bancários, na época do PCdoB. Fomos parceiros até 1997, quando saí da Caixa, no PDV, e dei um rumo diferente na minha vida. Mas continuamos amigos, com grande proximidade ideológica, e sempre que possível nos encontramos para conversar.
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Como sou um nostálgico inveterado, às vezes tenho saudades daquela época. 
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Saudades do Mauro, Sinara, Pirotti, Jaílson, Serrasol, Domingos, Roberto, Vladimir, e de outros tantos que iam se agregando ao grupo com o passar dos anos. Sinto falta até dos outros que se afastavam, adireitando. E dos grandes debates, das reuniões infindáveis para construir a política de alianças, com o Juberlei e o povo da DS, o Fonseca, agora no PSOL e na época na Força Socialista. E com o pessoal do Felipão (Articulação, se não me falha a memória), os grupos menores, e os "independentes da CUT", como se autoclassificava o Carlos Simon, na fase pré-Fifa.
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E dê-lhe disputas, que agora reconheço maniqueístas, contra "outro lado", onde estava a Convergência Socialista, com a "ala" do Robertinho Robaina, Balalaika, Etevaldo, Cabeça, e a"ala" mais agradável do Júlio Flores, antes destes últimos racharem, e fundarem o PSTU. 
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E tinha também o loucão aquele, da Causa Operária, cujo nome me foge agora, tumultuando todas as assembléias ...

Era a época da "Proporcionalidade", onde não havia Presidência, e todas as chapas que concorriam ocupavam diretorias, conforma a proporção de seus votos nas eleições. Um sistema radicalmente democrático, que tinha tudo para dar errado, mesmo, como deu ...
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Acho que era isso, e os nomes eram esses. Às vezes eles nos patrolavam, às vezes éramos nós que exercíamos a maioria democrática. Quase tudo naquela época funcionava na base da patrola.
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E dê-lhe greve, que a época era muito ruim, e na negociação não saía nada. Sarney, Collor, Itamar, FHC ... Deusulivre!
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Bueno, essa escola foi boa. Agora, não sei se crescemos, ou simplesmente envelhecemos ... com certeza melhoramos ... mas que dá saudade daquelas peleias, isso dá!
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De qualquer forma, voltando ao foco da postagem, o Mauro é uma liderança sindical de primeira linha, com grande capacidade intelectual, e o blog com certeza vai rebentar.
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Então, vão lá, e confiram: Sindicateando.
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PS: Lembrei o nome do cara da Causa: Alfeu.
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sábado, 11 de dezembro de 2010

Airton Michels será o Secretário da Segurança

Segundo informou o clicrbs agora à tardinha, Airton Michels está confirmado como  futuro Secretário da Segurança, no Governo Tarso. Presumo que seja isso mesmo, pois a RBS tem muitos defeitos, mas não costuma dar barrigadas em notícias dessa importância.
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Airton Michels foi um daqueles que se esforçaram para que as coisas dessem certo, no Governo Olívio, quando foi Superintendente da Susepe, e depois Secretário Substituto. Atualmente estava no Departamento Penitenciário Federal, levado pelo Tarso, quando este foi Ministro da Justiça.
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Essa escolha indica que Tarso Genro, efetivamente, vai cuidar muito de perto a questão da segurança.
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Gostei da notícia. Acho que daqui para a frente, vai dar tudo certo.
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Mais uma do Virso

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O Sávio foi um sucesso como patrono da Feira do Livro 2010, aqui em São Luiz Gonzaga. Na tira acima, mais um exemplo de romantismo do Virso, para conquistar a Juracema.
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Para quem não sabe onde é a Fiúta, o Sávio e o Mano Lima explicam, aqui.
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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Do jeito que eu gosto!

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Ganhamos!
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Mas rapaz, que secação! Cinco das maiores torcidas do Brasil, mais a a torcida do Goiás, uniram-se para secar o Grêmio Independiente, nesta noite histórica, no Estádio Libertadores da América, em Avellaneda, na Argentina.
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Colorados, santistas, corinthianos, cruzeiristas e torcedores do Fluminense (ainda são chamados de pó-de-arroz, como no século passado?) se uniram para nos azarar, torcendo desavergonhadamente pelo Goiás. Tudo porque estavam borrados de medo de ter que enfrentar, na Libertadores do ano que vem, o melhor time do Brasil, no momento, o Grêmio, que - aliás - tem também o melhor treinador, Renato Portaluppi.
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Só que não adiantou. A nossa garra castelhana falou mais alto, e ganhamos do jeito que gremista gosta: empate nos 180 minutos, meia hora de prorrogação, mas  definição mesmo, só no último pênaltizinho batido.
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Oigaletê porquera! É chato ser imortal!
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E agora? Agora é o seguinte: faz só meia hora que acabou o jogo, e parece que a Polícia Rodoviária já tirou dois colorados de cima da ponte do Guaíba, desesperados, tentando se jogar para dentro do rio ...
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