quinta-feira, 29 de abril de 2010

O dia em que comprei Viagra falso

O STJ decidiu ontem que daqui a dois meses, em 20 de junho, expiram os direitos de patente do Viagra, que pertencem à multinacional farmacêutica Pfizer.

Essa notícia é bem interessante. Agora, vai ser possível produzir genéricos para o potente medicamento contra disfunção erétil, o que vai resultar em grande redução no preço, segundo o Governo Federal. Avalia-se que o preço caia de R$.66,00 para cerca de R$.40,00, pela caixa com dois comprimidos. E sexo é bão, como diz o Temporão.

Esse negócio de Viagra me lembra uma das várias aventuras inusitadas da minha carreira policial. O dia em que comprei Viagra falso.

Na verdade, o Viagra em questão não era propriamente falso, e sim um similar contrabandeado do Uruguai, sem autorização para venda no Brasil. Acho que isso aconteceu em 2005 ou 2006, não lembro ao certo. Eu era Delegado em Dom Pedrito, e nosso Delegado Regional nos convocou pra auxiliar em uma operação de combate à pirataria, em Bagé.

Era uma operação grande, envolvia todos os policiais de Bagé, e de outras cidades da regional. O objetivo era cumprir mandados de busca de produtos pirateados, como DVDs de filmes, jogos e programas de computador. E também apreender todo tipo de contrabando ou descaminho.

O serviço foi bem montado, e investigação havia feito diligências também para identificar pessoas que estariam vendendo ilegalmente Citotec, um medicamento abortivo. E no curso do trabalho, descobriu que o atendente de uma farmácia do Centro estava vendendo, não Citotec, como desconfiavam, mas grande quantidade do tal Viagra “uruguaio”.

Na reunião para distribuição das tarefas, tive uma surpresa. Meu chefe disse que precisava de uma pessoa da minha faixa etária (42 na época) e aparência para se passar por consumidor, comprar o Viagra falso, e prender o meliante. A idade eu até compreendi, mas nunca havia pensado antes que me parecia com consumidor de Viagra.

Bueno, para encurtar o relato, montei uma equipe com três policiais de apoio, e me fui à farmácia. Combinei com eles que iria entrar com o telefone celular ligado, no bolso, e um ficariam escutando a conversa ali por perto. Quando eu dissesse uma palavra-senha, era porque estava pronto para realizar a prisão, então eles entrariam para me dar apoio.

Abre parêntese. Essa providência é muito importante, pois dar voz de prisão a alguém sem superioridade numérica é muitíssimo arriscado. Dizer “teje preso”, e o outro dizer “não tou” é uma catástrofe para o policial, pois deriva sempre ou para o uso de arma ou força física, e eventualmente para luta corporal.

Nessa situação, se vacilamos ou apanhamos do preso, perdemos o serviço e nos desmoralizamos. Por outro lado, se vamos até o fim, usamos a arma ou vencemos a luta corporal, sempre haverá alguém para nos acusar de abuso. De qualquer modo, saímos sempre perdendo. Então, sempre é adequado ter superioridade numérica, mesmo em operações aparentemente tranqüilas, como aquela. Fecha parêntese.

Bueno, ensaiado o trabalho, entrei na farmácia, e perguntei pelo Fulano, que veio me atender quase que imediatamente. Notei que ele era manco de uma perna, provavelmente seqüela de paralisia infantil. Mas ficou bem faceiro quando eu pedi para falar com ele em particular.

O cara me levou para trás de uma cortininha onde aplicam injeções, e perguntou o que eu desejava. Falei que queria comprar um Viagra barato. Ele prontamente disse que tinha, por R$.25,00 o comprimido. Comprei dois.

Durante a negociação, ele perguntou se eu tinha algum problema cardíaco, e eu disse que não, embora seja hipertenso. Perguntei se haveria alguma contra-indicação, e ele disse que não. E o pessoal do apoio escutando tudo, do outro lado.

Disse então a palavra-senha, e quando vi que meus colegas se aproximaram, falei para ele mais ou menos o seguinte: “Olha, meu nome é José Renato, sou policial civil, e tem um problema, aqui. Tu me vendeu um remédio proibido, isso é crime, e estou te dando voz de prisão em flagrante”. O cara quase desmaiou, chegou a dar pena.

Algemamos ele, o colocamos sentado, mandei fechar a farmácia, chamar o farmacêutico responsável que quase teve um xilique quando se deu por conta do que acontecia. O rapaz havia se formado um mês antes, e jurou que não sabia dos fatos. E eu até acho que ele estava sendo sincero. A mesma coisa com relação aos proprietários do estabelecimento, que chegaram logo depois. Fiquei convencido que os outros não sabiam da trampa, e prendi somente o rengo.

Chamamos a Vigilância Sanitária, que tomou os procedimentos de praxe, e interditou a loja. Em revista, eles encontraram mais 82 comprimidos escondidos no armário pessoal do atendente.

A partir daí, tudo foi feito "aos costumes". Levamos o preso e testemunhas para a Delegacia, onde foi feita a autuação em flagrante. O preso foi recolhido ao presídio local, e foi liberado no dia seguinte.

Até aí tudo bem. É como eu sempre digo, missão dada, missão cumprida.

Só que algum colega, safado que eu até hoje não descobri quem foi, mandou a notícia tintim-por-tintim para os jornais. E no dia seguinte, era manchete na página policial do Correio do Povo: “Delegado José Renato, se fazendo passar por consumidor de Viagra ...”. Minha mãe me telefonou de perguntando o que tinha acontecido, e até ela, acreditem, tirou sarro de mim. Disse que todo mundo em São Luiz estava achando a coisa muito engraçada.

Em Dom Pedrito, então, não tive sosssego por uns três meses. Toda hora alguém perguntava: “E aí, Delegado, não sobrou um comprimidinho para mim?”. Lá na Capital da Paz eles tem uma expressão para isso: fazer chapa. Ficaram fazendo chapa de mim um tempão. Até muito tempo depois, sempre tinha um ou outro velhinho que se aproximava e dizia: “Delegado, estou muito triste com o senhor ... acabaste com meu fornecedor”.

Menos mal que eu também sempre levei na esportiva. Aliás, a gozação até não era desagradável, e eu sempre fui uma “autoridade” bem acessível a todos.

Parece que o preso foi julgado, e condenado a uma pena pequena, substituída por prestação de serviços. Acho errado, porque ele foi absolutamente irreponsável. Deveria ter ficado nem que fosse um mês preso.

O produto que ele vendia, por exemplo, se fosse remédio mesmo, deveria ter um bom motivo para não ser liberado para venda no Brasil. Mas podia tanto ser um placebo, sem efeito nenhum, quanto ter qualquer coisa misturada que causasse efeitos colaterais graves. Além disso, o ladrão vendia os comprimidos praticamente pelo mesmo preço do original. Nem economia havia, portanto, para o consumidor-otário.

Agora, com o rebaixamento do preço como genérico, acho que o problema do contrabando vai diminuir.

Mas para ficar bem claro que é um genérico, acho que não deveria ser azulzinho, mas de outra cor qualquer. Vermelhinho, por exemplo. Também seria legal que tivesse um formato diferente do losango da Pfizer.

Quem sabe uma estrelinha vermelha?

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O sucesso das "terceiras vias" em eleições no RS

Gostei deste texto do Leandro Alves, que achei aqui no Vermelho, o portal do PCdoB nacional.

Partindo da constatação de que há muitos anos existe uma polarização entre aqui no Rio Grande do Sul, entre o PMDB, pela direita, e o PT pela esquerda, com os demais partidos gravitando ao redor, Leandro chegou à conclusão de que, sempre que houve a vitória de uma "terceira via", essa beneficiou (e foi bancada) pela direita.

Essa, claro, é uma análise do que já sabíamos. Mas é interessante, e quero compartilhar.

Mas tem uma coisa, que aliás comentei lá no Vermelho. É que, por essa análise, e considerando que a "terceira via" que o Beto Albuquerque tanto quer construir nunca interessou à direita (ao contrário da "via" do Lara, que lhes interessa), não tem, portanto, chance de vitória. Assim, até agora, só serviu para isolar o Tarso Genro.

Mas quem deu pulmão pro Beto para se bancar, nesse papel, foi justamente o PCdoB. E isso até dois ou três dias atrás. Eles é que davam retaguarda para nosso Ciro Gomes gaúcho tentar alçar vôos maiores. Então, acho que os comunistas do PCdoB teriam que ter feito essa avaliação bem antes. Daí, já teriamos a Frente Popular consolidada, quem sabe até com o Beto bem confortável como candidato a Vice-Governador. Mas antes tarde do que nunca.

Bueno, foi essa a leitura que fiz. Reproduzo adiante, para que os amigos tirem suas próprias conclusões. E recomendo, sempre, uma visita ao portal Vermelho, do PCdoB, cujo link sempre esteve aqui, na barra lateral direita.

Segue o texto:

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Eleições no Rio Grande do Sul e a tarefa da esquerda

"Mais uma eleição se aproxima e parece que a história vai se repetir no Rio Grande do Sul: sem capacidade de ampliar o espectro de alianças, a esquerda caminhará sozinha novamente para mais um pleito estadual.

Não é novidade a polarização no Rio Grande do Sul - Chimangos e Maragatos, Inter e Grêmio, Imperadores do Samba e Bambas da Orgia, não importa a área, no Rio Grande é sempre assim. Nas eleições, como não poderia ser diferente, o fenômeno se repete, mas parece que parte da esquerda ainda não sabe lidar com esse fenômeno.

Essa polarização, que outrora fora motivo de orgulho, transformou-se em fator de retrocesso político para o nosso Estado. No último período o Rio Grande do Sul vem perdendo espaço político em nível nacional e, se isso não bastasse, perdeu sua capacidade de construir políticas públicas que sustentem seu crescimento econômico e sua capacidade de inclusão social.

Construir um caminho que acabe com o isolamento político da esquerda é questão fundamental por dois aspectos: 1- Precisamos colocar o Estado no rumo do desenvolvimento com inclusão social; 2- Não podemos deixar um campo onde a direita nacional (que tenta barrar a continuidade das conquistas em nível nacional) consiga se fortalecer.

O RS possui particularidades diferenciadas do País no que se refere ao campo político. Os principais expoentes da disputa política em nosso Estado são o PT, no campo da esquerda, e o PMDB, no espectro da direita – diferente do âmbito nacional onde a polarização se dá com o PSDB.

Claro que a direita, dependendo de como o processo se apresenta, utiliza outras siglas, como já fez com PSDB, por exemplo. Os partidos de direita naturalmente gravitam em torno do PMDB e os de esquerda, em torno do PT – vale dizer que nem sempre é tarefa fácil, pois o PT gaúcho se esforça para se isolar, inclusive de seus aliados mais próximos. A questão é que esses dois campos possuem limites eleitorais bem objetivos e a busca pelos partidos de centro ou de centro-esquerda torna-se fator fundamental para se construir uma vitória eleitoral no Rio Grande do Sul.

Infelizmente o maior partido da esquerda gaúcha não tem a compreensão da importância de uma política ampla de alianças em nosso Estado. Não entendeu, até hoje, os porquês de sua vitória em 1998. Vale resgatar os fatos, mesmo que em apertada síntese. O PMDB administrava o governo do RS (com o então pemedebista Antonio Brito) e foi o partido que aplicou ferozmente as políticas neoliberais em nosso Estado, realizando as privatizações de empresas estatais e demitindo servidores públicos.

Historicamente não era essa a postura do PMDB, pois esse partido vinha de uma trajetória de lutas por democratização em nosso País – o antigo MDB. Essa inflexão mais à direita do PMDB, que historicamente se colocava ao centro político, fez com que ele se afastasse de setores que sempre lhe deram apoio no campo eleitoral. Uma parcela considerável do eleitorado do Rio Grande do Sul ficou sem opção naquelas eleições.

A esquerda, com o PT a frente, soube ocupar esse espaço e conseguiu aglutinar um leque maior de forças políticas, fator que foi determinante para a conquista do governo estadual. Entretanto o PT, talvez por não compreender essa particularidade de sua vitória, não manteve essa amplitude na administração, foi isolando-se pouco a pouco. Lembremos do que o PT fez com o PDT no Governo do Estado, por exemplo.

Essa limitação do maior partido de esquerda em nosso Estado acaba por incentivar posturas que mais ajudam a direita do que outra coisa. Exemplo disso são as propostas de construção de uma “terceira via” nas eleições Estaduais. Por mais que essas propostas tenham objetivos sinceros, na prática, vão de encontro com a realidade gaúcha e com os interesses nacionais.

Normalmente não há espaço para uma terceira via em nossas eleições estaduais. Toda vez que isso aconteceu - uma “terceira via” chegar à vitória -, foi uma manobra da direita para conquistar ou manter o poder político gaúcho. Lembremos de Germano Rigotto, que apareceu como uma alternativa à disputa entre Olívio Dutra e Antônio Brito. E, por último de Yeda Cruzius, que apareceu como opção frente à disputa entre Germano Rigotto e Tarso Genro. Efetivamente, a “terceira via” só se concretizou quando era útil à direita em nosso Estado.

Devemos travar uma luta para mudar essa política de isolamento. Mas essa luta deve ser travada no campo da esquerda e não em outro lado. Não podemos cair no erro de tentar construir uma política ampla em torno da direita. Estaríamos indo de encontro com os avanços conquistados em nível nacional, colocando “água no moinho” da direita em nível nacional. A política não perdoa, principalmente no Rio Grande do Sul. O partido que não sabe qual sua identidade, qual seu campo político, não criará raízes em nosso Estado. Uma esquerda renovada deve realizar um grande esforço para aglutinar um número amplo de forças políticas em torno de um projeto democrático-popular para fazer com que o Rio Grande do Sul possa se desenvolver novamente e ocupar um espaço político mais destacado no cenário nacional, bem como a fortalecer as mudanças que veem ocorrendo em nosso País, mas esse esforço deve ser realizado pela esquerda.

Precisamos incidir junto ao PT e aos demais partidos de esquerda, buscando consolidar um esforço nesse sentido. Se não for possível aumentar o espectro de alianças em torno da esquerda no primeiro turno, e pelo que se apresenta não será, precisamos construir uma ponte entre os demais setores do campo democrático e popular para um eventual apoio à Frente Popular no segundo turno. Para tentar quebrar o bloco que as elites gaúchas veem construindo para se manter no comando do Palácio Piratini nos últimos anos.

Já é chegada a ora de dar um passo a frente na luta institucional em nosso Estado. Devemos aprender com a história. É necessário que se construa uma política de alianças mais ampla em nosso Estado, possibilitando, assim, uma nova vitória da esquerda no Rio Grande do Sul, bem como possibilite uma coalizão de forças que garantam um mínimo de estabilidade para governar, bem como para fortalecer o projeto mudancista em nível nacional.

O Rio Grande do Sul não pode ficar na contra mão da história, muito menos servir de trincheira para direita contrapor o avanço nacional. Essa é tarefa da esquerda em nosso Estado, pelo menos da esquerda que pretende realizar transformações políticas concretas."
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segunda-feira, 26 de abril de 2010

Vendetta em São Luiz Gonzaga

Corre notícia na cidade que nosso Prefeito resolveu ir à revanche contra as pessoas que o impediram de privatizar os serviços de água e esgoto. Ou, pelo menos, contra as quais possua alguma maneira de retaliar.

Com relação a este que vos escreve, há desde o ano passado uma boataria na cidade, de que estaria sendo transferido, a seu pedido. Mas, pelo menos até agora, ficou tudo só na falação, o que demonstra que se houve realmente alguma movimentação do Alcaide nesse sentido, não obteve guarida nos escalões superiores da Polícia. Eu continuo tranqüilo, com orgulho de ter participado daquela luta, através deste blog, mesmo reconhecendo que minha participação na luta foi de mero coadjuvante (ver textos sobre o assunto na barra lateral direita).

Além disso, acredito muito em um ditado antigo, que praga de urubu magro não mata cavalo gordo. Não vai ser a vontade de um político menor, vinculado a um governo estadual que na prática já terminou (mas continuará servindo cafezinho frio até o final do ano), que vai bancar a transferência de um Delegado de Polícia.

Mas há, mesmo, claros sinais de vendetta, na Praça, ao melhor estilo siciliano.

Os acontecimentos atuais da política local, por exemplo, são de ataque aos vereadores Aldimar Machado, o Buzina (PSDB), e Junaro Figueiredo (PP). Ambos, coincidentemente, apoiaram o Comitê em Defesa da Água Pública, e fazem oposição ao Governo, na Câmara Municipal, embora tenham sido eleitos pelos mesmos partidos do Prefeito (PSDB) e seu Vice (PP).

Contra Buzina, o Prefeito fez uma jogada de dois movimentos. Primeiro, promoveu uma intervenção no PSDB local, destituindo o vereador da Presidência do Diretório, com um argumento administrativo fraco, mas que colou (ele não teria convocado eleições no prazo devido), e assumindo pessoalmente o cargo, com apoio da maioria da militância tucana, liderada por filiados em altos cargos no Executivo.

Depois, mediante “denúncia de um filiado”, abriu processo na Comissão de Ética, pela expulsão de Buzina, sob outra alegação, a de que não teria votado conforme orientação do Partido na eleição da mesa diretora da Câmara.

Esclareço que no início do ano, a Prefeitura havia ensaiado uma chapa encabeçada por um vereador do PP (José Antônio Caetano Braga, o Sapo). Não se sabe se houve orientação formal, ou não, mas o certo é que Buzina não votou na chapa de Sapo, e a presidência da Câmara acabou tocando a Francisco Lourenço, do PDT, que integra o grupo de vereadores de oposição apelidado de G-6.

O Vereador Buzina será julgado esta semana, dia 29 de abril, e já pode ser considerado condenado, pois a Comissão de Ética é composta pelo Secretário de Obras, pela Secretária da Saúde e pelo Procurador do Município, todos eles carne-e-unha com o Prefeito.

Em entrevista, o edil disse ter requerido que o julgamento seja pelo Diretório Estadual, pois teria prerrogativa de foro, em função do seu mandato, mas o Procurador do Município (um dos futuros julgadores) já afirmou que não tem choro, o julgamento será aqui mesmo.

Já contra Junaro Figueiredo, soubemos esta semana que ocorreu o mesmíssimo movimento, através de um militante do PP, de pedir a expulsão por deixar de votar no Sapo para Presidente da Câmara. Só que, nesse caso, falam que a denúncia foi feita no Diretório Estadual. O Junaro, parece, estaria mais garantido, pois segundo comentam, teria recebido a comunicação formal para votar em Sapo somente depois de ocorrida a dita votação.

De qualquer forma, o objetivo do Prefeito é cassar o mandato de dois dos parlamentares de partido de sua base que estão em desalinho com sua forma de administrar. Dizem as más linguas que os suplentes de ambos já teriam entrado em acordo para formar uma nova maioria na Câmara, favorável ao Executivo.

Há quem aposte que o Buzina manteria o mandato, na Justiça, com alguma facilidade, por ser escancarada a perseguição partidária. Eu também acredito nisso. E o Junaro é um rapaz muito cuidadoso com as questões legais, não deve ter deixado nada desamarrado, que permita a expulsão do partido.

Embora não sejam de meu partido, desejo sinceramente que ambos superem essa baixaria, e mantenham o mandato conseguido nas urnas. Junaro obteve 1.053 votos, e Buzina 988, sendo respectivamente o 4º e 5º candidato mais votados, e cassá-los de maneira tão sub-reptícia corresponde, para mim, a aplicar um golpe em mais de 2.000 eleitores, praticamente 10% dos sãoluizenses que votaram nas últimas eleições.

Na verdade, esse desespero em conseguir maioria na Câmara parece não ser apenas vendetta. Tudo indica que seja um movimento estratégico, já pensando no processo de impeachment que o Alcaide eventualmente possa sofrer ainda este ano, ou no início do ano que vem.

Ocorre que Sua Excelência já foi condenado pela 4ª Câmara do Tribunal de Justiça, no ano passado, por ter praticado crime de fraude em licitações. E na ocasião, só não teve o mandato cassado na sentença porque os desembargadores entendem que o condenado perde o cargo que ocupava quando praticou o delito. E ele era Vice Prefeito (ocupando a Secretaria de Obras), na época dos fatos, mas na data da sentença já era Prefeito reeleito.

Só que, depois disso, há cerca de 15 dias, houve aceitação de outra denúncia na 4ª Câmara do Tribunal de Justiça, novamente por crime de licitação, esse praticado quando já era Prefeito. E cá entre nós, as apostas são altas de que será condenado, e desta vez talvez tenha decretada a perda do seu mandato.

Mas se for condenado de novo, sem perder o mandato na sentença, da maneira que vem semeando inimigos na política, dificilmente escapará de um processo de impeachment na Câmara. Nesse caso, com apenas três vereadores fiéis, como agora, a possibilidade de ser impichado é bem plausível.

Então, a expulsão de Buzina e Junaro de seus partidos, e a tomada de seus mandatos para serem assumidos por suplentes dóceis, além da vendetta pela oposição na Câmara (e por ajudarem a trancar a privatização da água), serviria também para proteger seu mandato, daqui mais alguns meses.

Nessa Prefeitura, Maquiavel é estagiário!
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domingo, 25 de abril de 2010

Privataria na Terra dos Presidentes

Esse pessoal que está de olho no Aquífero Guarany não desiste, mesmo.

Depois de se programarem para abocanhar os serviços de água e esgoto (primeiro passo para se apoderar do Aquífero) em São Luiz Gonzaga e Uruguaiana, mas não levarem, agora estão atacando na Terra dos Presidentes.

Pois o glorioso Prefeito Municipal de São Borja, Mariovane Weis (PDT), cujo vice é do PTB, e foi eleito em uma coligação que além de PDT e PTB abriga também PMDB, PRV, PV, PPS e PSDB (tinha que ser), decretou no dia 15.04.2009 a caducidade do contrato mantido há anos com a Corsan, e segundo notícias da mídia regional, prepara a licitação para concessão dos serviços.

Só que as licitações, como já se viu aqui e em Uruguaiana, são descaradamente direcionadas para afastar empresas públicas, com editais direcionados a propiciar a vitória de empresas privadas.

Acho que a novela da privatização vai recomeçar. Esperemos que a população sãoborjense se mobilize, como nós fizemos por aqui, e não deixe essa bandalheira acontecer. E que o Ministério Público de Contas continue vigilante.

Na base de tudo, pelo menos para mim, está o maldito financiamento das campanhas eleitorais. Como bem referiu o Miguel Grazziotin, um tempo atrás, as concessionárias públicas desse tipo de serviço (e de qualquer outro) estão impedidos de fazer doações a campanhas políticas.

Já as empresas privadas mantém essa possibilidade, senão diretamente pela concessionária privada (o que também é proibido), através das inúmeras outras empresas que esses grupos geralmente possuem. E muito fácil para uma empresa privada "alaranjar" doações a um político simpático a seus interesses.

O projeto dessas grandes empresas, ou suas laranjas, é bem claro, para quem sabe olhar nas entrelinhas. De um lado, estão patrocinando o sucateamento da Corsan (e também da SABESP, em São Paulo, como provavelmente de outras empresas estaduais da área), e de outro bancam campanhas de candidatos comprometidos com a privatização.

Em paralelo, bancaram uma lei federal que permite a exploração privada do saneamento básico, sob olhar complacente do dito lulismo de resultados, em uma das suas maiores mancadas.

São Borja é conhecida como o berço do trabalhismo, por ser a terra natal de Getúlio Vargas e João Goulart. Os dois ícones do trabalhismo estão seputados lá, ao lado de Leonel Brizola, expoente mais contemporâneo, fundador e principal referência histórica do PDT, partido do Prefeito-privata.

Mas agora, lamentavelmente, justamente um Prefeito do PDT, cujo Vice também é de um partido que leva a palavra trabalhismo em seu nome, está promovendo a privatização. Em nome de quê, isso não diz.

Triste involução, à qual o PDT assiste olimpicamete.

Acho que esse Prefeito deveria dar uma visitadinha no mausoléu dos Presidentes. Quem sabe ficar ali um tempo, tomando um mate, olhando a lápide do Brizola, não o estimule a fazer uma autocrítica.

Ainda dá tempo para o PDT evitar esse despropósito ...
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sábado, 24 de abril de 2010

Ciro Gomes - Eu já sabia ...

Há cerca de 40 dias, fiz uma postagem sobre o Ciro Gomes: "A demora do Ciro". E ele não me decepcionou, afinal de contas. Fez exatamente a meleca que eu imaginava.

Para mim, o grande plano do Ciro era ser vice do Aécio, e reconduzir a direita ao Planalto. Como não deu, resolveu dar munição à grande imprensa para produzir manchetes recheadas de ingredientes subliminares contra a Dilma, como bem demonstra o Partisan.

Bem feito pro Lula, que alimentou esse monstrengo. Mas muito ruim para a Dilma, e para todos nós.

Não esqueçam que se o Serra (Deus nos livre) ganhar essa eleição, vai avacalhar com tudo o que está se ajeitando, aos pouquinhos, no Brasil. E a perpectiva de um futuro melhor, que avisto concretamente pela primeira vez, nestes meus 47 anos de vida, vai à breca.

Mas, afinal, da previsível reação do Ciro, eu já sabia. Acho que eu ando me comunicando demais com o Pai Arnóbio. Estou ficando vidente, também.

A propósito, não custa nada repetir a análise, curta e precisa, do Cristóvao Feil sobre o candidato-maionese, postada no Diário Gauche:

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Ciro Gomes, o candidato que virou maionese
Respingou suspeições para todos os lados

"Antes que me acusem de plágio, vou dar o devido crédito à bela frase sobre Ciro, "o candidato que virou maionese". A autoria do achado é da editora de política da Folha, Vera Magalhães. Faço questão de citar a fonte para vocês verem como as agressões de Ciro Gomes não agradaram nem a direita, no caso, o jornal mais serrista do País, a Folha, jornal esse que jamais hesita, quando tem oportunidade de criar climas e cenários arranjados para desqualificar a esquerda, em especial, a candidata Dilma.

O fato é que Ciro Gomes andava falando sozinho há meses, apenas não admitia o que todos ao seu redor já adivinhavam, que a sua candidatura era como uma eterna lua minguante, tatuada num coração flechado pela vaidade e o ressentimento.

Confuso e perturbado pelo tropeço e queda no real, Ciro distribuiu de tudo, ontem. Sobrou para Lula, para Serra, para o PMDB ("ajuntamento de assaltantes"), para Temer e até para si mesmo, quando admitiu que sua vida política foi "errar por muitas siglas partidárias" e que por isso talvez encerre sua carreira pública.

Ciro tem uma trajetória política que inicia - não esqueçamos - no setor jovem da
Arena, simulacro de partido auxiliar da ditadura civil-militar de 1964. Nasceu e cresceu no seio de uma oligarquia tradicional do Ceará, da cidade de Sobral. No final da década de 70, o jovem Ciro disputou e perdeu a presidência da União Nacional de Estudantes (UNE), numa tentativa mais articulada da direita de pôr termo à hegemonia da esquerda no movimento estudantil brasileiro. Já foi filiado e militante dos seguintes partidos: Arena, PDS (sucedâneo pós-ditadura da Arena), PMDB, PSDB (foi governador do Ceará pelo tucanato), PPS (a famigerada sigla do renegado Roberto Freire e do ex-governador Antonio Britto). Atualmente, Ciro Gomes está filiado ao mesmo partido do grande "líder" popular guasca, o deputado federal Beto Albuquerque, o PSB.

Definitivamente, Ciro Gomes é um homem de fases chapinhando na maionese abatumada de seus desejos."

Obs: os grifos em vermelho são meus.
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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Pela desmilitarização do policiamento ostensivo

Reproduzo adiante um trecho do discurso de Marcos Rolim, ao receber o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre.

Eu já conhecia essa opinião, de outro texto do Rolim, e gostaria que os leitores prestassem bastante atenção ao que ele opina.

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"Há muito tempo, sustento que o modelo de polícia que temos no Brasil é insustentável. Somos o único país do mundo onde se criou não duas polícias em cada estado, mas duas metades de polícia; já que cada uma delas é responsável pela metade do ciclo de policiamento.

Em todo o mundo, mesmo naqueles países onde há centenas de instituições autônomas de policiamento, todas as polícias exercitam o ciclo completo; vale dizer: policiam e investigam; uma parte delas faz o trabalho ostensivo de patrulhamento uniformizado; outra parte realiza o trabalho discreto de inteligência, análise de informações e coleta de evidências.

Não satisfeitos em dividir o ciclo de policiamento, como se cortássemos uma laranja ao meio e, depois, esperássemos que as duas metades permanecessem em pé, ainda criamos em cada polícia uma espécie de apartheid que separa, nas Polícias Militares, praças de oficiais, e, nas Polícias Civis, delegados e não-delegados; o andar de baixo e o andar de cima, impossibilitando que nossas polícias tenham uma carreira única e que todo o chefe de polícia ou comandante tenha sido, um dia, um dia, patrulheiro, como ocorre em todo o mundo.

Bem, e depois de estruturar este modelo, como que para garantir que ele jamais fosse alterado, o inserimos na Constituição, o que significa que para mudá-lo será preciso a aprovação de 3/5 de Deputados e Senadores, em dois turnos em cada uma das Casas legislativas."

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Observação do blogueiro:

Como diagnóstico de um dos problemas da área, está perfeito. Eu iria até mais longe.

Para mim, as polícias não são mais duas metades de laranja. Viraram meia lima e meia bergamota, que não podem mais ser juntadas como se fossem a mesma fruta original.

Assim, não dá mais para ser ingênuo, e persistir no discurso da "integração", da "complementariedade". Esse modelo não tem conserto. É preciso mudar, e com urgência.

E o que parece ser uma "duplicidade", na verdade é algo muito mais complexo. Há uma multiplicidade de órgãos desempenhando funções sobrepostas - polícias civis, militares, federal, ferroviária federal, rodoviária federal, rodoviárias estaduais, penitenciária federal, agentes penitenciários estaduais, corpos de bombeiros militares, corpos de bombeiros voluntários, polícia ambiental, agentes municipais de trânsito, guardas municipais, etc.

Mas essa "deformidade" não é a única, e talvez não seja a principal, dentre as tantas que tornam nossas polícias pouco eficazes, e propícias a acobertar os mais variados desvios de conduta praticados por seus agentes.

O buraco é mais profundo, e as soluções devem ser buscadas mais próximas da raiz.

A desmilitarização do policiamento ostensivo, por exemplo, é uma demanda mais importante e urgente, e seu debate deveria preceder o do chamado "ciclo único de policiamento" (unificação).

Continuar com militares cuidando do policiamento ostensivo é uma aberração do nosso glorioso Estado Democrático de Direito.

Espero que apareça alguém com coragem para bancar esse debate. Mas não sei, não. Acho que vou esperar sentado.
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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Os tucanos podem mais?

Gosto demais do site Carta Maior. O seu editorial de hoje (reproduzido adiante) aborda a escolha, provavelmente equivocada, do mote da campanha da direita nas próximas eleições presidenciais: "O Brasil Pode Mais".

Vai ser muito difícil para eles sustentar esse argumento, pois o bom momento da economia é ingrediente poderoso na definição do voto. Isso foi visto até, de forma meio transversal, nas últimas eleições municipais, quando houve um inédito percentual de prefeitos reeleitos.

O boom da economia traz ao eleitor a dúvida sobre ser vantajosa qualquer mudança. No caso dos municípios, isso certamente beneficiou de algum modo todos os Prefeitos que concorriam à reeleição, mesmo os muito medíocres e antipetistas, por paradoxal que seja.

Daí, eu acho que vai ser duro para o Serra convencer que "Pode Mais" que a Dilma. E tenho para mim que a Dilma vai "patrolar" nesta eleição, não só por esse, mas também por muitos outros motivos.

Segue o Editorial referido:

"Desidratar a dimensão política-eleitoral de uma economia que está bombando é o desafio, cada dia mais complicado, a que José Serra e a mídia demotucana se auto-impuseram, ao adotar um slogan de campanha eivado de potencial efeito bumerangue.

Dizer que pode mais, quem fez tão menos quando foi governo, já era malabarismo a evocar talentos de manipulação midiática conhecidos.

A tarefa se torna cada dia mais complicada, porém, diante de resultados econômicos que desmentem na prática a fantasia marqueteira, evidenciando o truque de palavras desprovido de conteúdo histórico.

Aos fatos:

a) renda no Brasil retomou os níveis pré-crise;

b) poder de compra das famílias antigiu o maior patamar em uma década e meia;

c) a proporção de brasileiros abaixo da linha de miséria caiu 43% desde 2003;

d) recorde de 657 mil empregos criados no 1º trimestre deste ano;

e) ganhos com o trabalho superam de longe os com benefícios sociais;

f) salário mínimo hoje compra 2,2 cestas básicas - no final da era tucana só conseguia comprar a metade disso.

Ocultar esse desmascaramento é questão de vida ou morte para a coalizão demotucana. Evidenciá-lo, sem se dispersar com as armadilhas criadas pelo jornalismo serrista, é a disciplina da qual ainda se ressente a campanha de Dilma Rousseff."
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sábado, 17 de abril de 2010

Dica de filme - Cadillac Records

Ontem assisti Cadillac Records na TV. Filmão. É sobre Leonard Chess, imigrante polonês que nos anos 1940 fundou a Chess Records, em Chicago, revelando em seguida alguns monstros sagrados do Blues, como Muddy Waters, Willie Dixon, Howlin' Wolf, Little Walter e Etta James. Um filme bem do tipo que gosto, alguns dramas pessoais e sociais, com música de primeira.

A Chess foi apelidada de Cadillac Records, pela predileção que os astros tinham pelos carrões da mítica marca americana, os quais por sinal aparecem bastante do filme. Quem gosta de carros antigos com certeza também vai apreciar.

Eu gosto de qualquer tipo de música (tirando a tal Tchê Music). Do gospel à musica missioneira, do rock ao funk carioca, do sertanejo ao pagode, bossa nova, jovem guarda, etc., há sempre coisas boas para ouvir. Mas o blues é meu favorito.

A seguir. Muddy Waters cantando Hoochie Coochie Man, Howlin' Wolf com Smokestack Lightning, e Little Walter com My Babe.



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quinta-feira, 15 de abril de 2010

Por milhões de empregos, Dilma Presidente

O desemprego é uma merda. Eu já tive o desprazer de ficar desempregado, mais de uma vez até, e acho que é uma das piores coisas que pode acontecer com uma pessoa. Bem dizia o Gonzaguinha, naquela música antiga, que "sem o seu trabalho, o homem não tem honra, e sem a sua honra, se morre, se mata ... não dá pra ser feliz, não dá para ser feliz!".

Era uma dureza passar os domingos folheando os classificados, e a partir da primeira hora das segundas-feiras, enfrentar as filas das agências de emprego, com aquele sentimento danado que era um misto de esperança e medo. Esperança de conseguir uma colocação. Medo de ter que passar mais uma semana tentando.

Essa barra, do desemprego, pesou para mim em 1986-87, quando o Sarney nos fez o favor de quebrar o país com o maldito Plano Cruzado, e pulverizou milhões de empregos de um dia para o outro.

Mas paro por aqui com as reminiscências, lembrando aquele versinho que o Noel Guarany sempre cantava: "Como disse Martin Fierro, o cantor legenda e glória, que deixou para o porvir, salmos da crioula história ... saibam que esquecer o ruim também é se ter memória".

Não vale a pena ficar lembrando aquele tempo desgracido. Mas também não dá para esquecer. E o desemprego é uma trajédia, que não desejo para ninguém.

Eu tenho para mim que essa questão - do acesso ao emprego, e das relações de trabalho - é tão importante, mas tão importante, que é o principal motivador das pessoas para o ingresso na militância, não só sindical, mas da própria política partidária. Para mim, pelo menos, foi.

Quando fazíamos campanha para o Lula, em 1989, um dos argumentos era de que o novo modelo, que defendíamos, iria atacar frontalmente essa questão do desemprego e dos baixos salários.

Em 2003, as forças de esquerda finalmente conquistaram o governo federal. E uma das principais promessas do Lula era a criação de dez milhões de empregos com carteira assinada. Esse compromisso de campanha era ridicularizado pela direita. Impossível, diziam eles.

Só que os dois ou três primeiros anos do Governo Lula foram críticos. Quase nada dava certo. Naquele início eu, confesso, fui um dos que desanimei. Por algum tempo só conseguia ver resultados positivos na agenda externa do país, que caminhava claramente para um não-alinhamento com os EUA. Fora isso, quase nada.

Então, nessa época, circulava um e-mail, desses que são classificados como "troll", que contava uma piada na qual o Lula tinha morrido, mas era barrado na porta do céu. Indignado por não poder entrar, perguntava os motivos para São Pedro, e uma das indagações era "é porque eu prometi dez milhões de empregos e não cumpri?".

Pois bem. depois da crise do mensalão, que no final das contas foi positiva, pois permitiu o crescimento da Dilma, e da agenda desenvolvimentista, as coisas passaram a dar certo.

E para resumir, no mês de outubro ou novembro de 2008, pelos meus precários cálculos, o Brasil atingiu a marca dos dez milhões de empregos formais, com carteira assinada, contados a partir da posse do Lula.

Então, o Lula falhou na promessa apenas porque não explicou que os dez milhões de empregos viriam em seis anos, e não em apenas quatro. Não havia mais motivo para ser barrado na porta do Céu, portanto.

Falando mais sério, é bom comparar a criação de empregos formais, mês a mês, no governo FHC e no Governo Lula. Isso pode ser feito consultando o site do CAGED, do Ministério do Trabalho. Eu até tinha umas tabelas, mas acabei perdendo numa dessas mundanças.

Pelo que lembro de cabeça, o pior resultado em termos de criação de empregos formais da época FHC foi um mês onde foram criados apenas 8.000 empregos no país. Vejam bem: 8.000 empregos novos, com carteira assinada durante um mês, em todo o país, que tem mais de 5.000 municípios. Dá pouco mais de um emprego por município em todo o Brasil.

Também, pelo que recordo (posso estar enganado, mas acho que não), no pior mês do Governo Lula, em termos de criação de empregos, foram criados 65.000 empregos no país. Oito vezes mais. É uma diferença.

Agora, pelo que se vê na imprensa, mas sem o destaque merecido, devemos estar próximos a treze milhões de empregos formais, criados desde a posse do companheiro analfabeto e sua assessora guerrilheira.

Então, esse é mais um motivo concreto para mim votar na Dilma: para que continuem sendo criados milhões de empregos com carteira assinada, no Brasil.

Se não for a Dilma a próxima presidente, volta tudo atrás, porque o modelo dos outros é manter grandes massas desempregadas, para que esse "exército de reserva" conserve rebaixados os salários dos que estão empregados.

O raciocínio deles é simples: quanto mais desempregados houver disponíveis, menos os trabalhadores se arriscariam numa greve, por exemplo, pois sempre haveria uma dezena de desesperados para trabalhar ganhando menos. E para os grandes capitalistas, dos quais Serra e companhia são apenas lacaios, no fundo é apenas isso o que interessa: o lucro da sua própria empresa. O resto do Brasil, o povo, ele que se lixe.

Reconheço que esse não é um motivo muito filosófico para votar na Dilma. É puro pragmatismo.

Eu já fiquei desempregado, e não desejo isso para ninguém. Tenho filhas que precisam que o Brasil continue gerando empregos, para que possam se colocar bem no mercado de trabalho. E tenho outros tantos parentes e amigos que precisam que o Brasil continue gerando empregos, para que possam se colocar bem no mercado de trabalho.

Mas empregos novos, e aos milhões só com Dilma Presidente.
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