quarta-feira, 29 de junho de 2011

Traição na favela

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Crônica da Traição na Favela
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* Por Júlio Pegna, pescado no Blog do Saraiva.
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Diz que Seu Fernando andou se engraçando com Dona Miriam no tempo em que ele ainda nem era secretário da Associação de Moradores do Morro da Realeza, no subúrbio. Era bastante conhecido, na época, bem casado e pai zeloso de três filhos. Um exemplo de bom marido na comunidade.

Ao se ver embuchada, Dona Miriam correu para o patrão. Pediu ajuda, ameaçou. Seu Roberto, dono do jornal do bairro, se enfureceu. Ele não queria que ela abrisse o bico; devia favores a Seu Fernando e chamou Dona Miriam para um conversório no particular. O encontro foi no barraco de Seu Itamar, presidente da Associação.

Vizinhança ouviu gritos e xingamentos, depois, o choro de uma mulher. Lá pelas tantas, Dona Miriam foi vista saindo do barraco com uma pequena mala, pouca coisa. Nunca mais apareceu por aquelas bandas, foi embora sem nem levar o jogo de sofá que havia acabo de comprar à prazo.

Seu Fernando ligou para compadre Roberto, que atendeu em sua pequena sala, ao lado da pilha de papel jornal. Espaço apertado, não podia falar como queria. Havia mais gente na redação e estavam fechando a edição semanal.

- Fica calmo, tudo vai dar certo. Daqui não sai nada. Cuida pra teu povo se calar também.

Recado dado. Seu Fernando sentiu alívio. Podia confiar. Desceu o morro e foi beber com os amigos. Ficaram no pagode até de manhã, quando a luz do sol bateu no beco de entrada da favela. Seu Fernando subiu para casa.

No cômodo das crianças, entrou em silêncio. Passou a mão no cabelo de Bia e de Lu, suas filhas, que dividiam o mesmo colchão; parou para olhar o rosto de Paulo Henrique, seu filho, que dormia profundamente no colchonete, no chão. Por um instante, quase chorou. Conteve a lágrima e saiu sem fazer barulho.

- Já acordada, Rutinha? Vê se dorme, mulher. – disse para a esposa que abria os olhos.
- Vou levantar. Tenho roupa pra lavar! – ela respondeu, bocejando.

Depois de ter sido secretário de Seu Itamar, Fernando acabou conquistando a cadeira de Presidente da Associação. Foi uma festa grande, com muita cerveja, muitos amigos, muita badalação; ele sempre soube que teria esse cargo, fazia por merecer. Tinha trazido luz elétrica para o Morro da Realeza através de um amigo vereador. Seu Roberto ajudou muito fazendo propaganda em seu jornal.

Assim foi que Seu Fernando ficou famoso. Até reformou o barraco que vivia e mandou os filhos estudarem em colégio do centro da cidade. Rutinha, que não gostava de aparecer, era quem preparava os discursos do marido quando ele, lá do alto do Morro, falava para a comunidade.

O tempo foi passando.

De vez em quando, um recado do compadre Roberto o deixava nervoso. Era sempre a mesma coisa. Dizia que o açougue e a lavadeira cancelaram a propaganda no jornal do bairro, que estava passando necessidade e mal dava pra pagar o papel e a tinta. Lá ia Seu Fernando mandar algum anúncio da Associação, nem que fosse apenas para dizer que no dia da Padroeira do Morro da Realeza a Associação faria uma macarronada coletiva para todos os moradores. Ficava incomodado com a situação, mas sempre cedia.

Uma noite, poucos dias antes de morrer, seu Roberto quis que seu compadre conhecesse o filho de Dona Miriam. Foram de ônibus por mais de 200 km até chegar num vilarejo onde Dona Miriam vivia. Era um casebre simples, mas não faltava nada nem a ela, nem a Tomás, o filho deles.

Depois da morte de Rutinha, Seu Fernando se entristeceu. Já não era mais tão importante na comunidade; seus filhos estavam crescidos e seus amigos, muitos deles, o haviam esquecido. A comunidade do Morro da Realeza, agora, vivia tempos de mais prosperidade; o novo presidente trouxera água e asfalto; até um posto de saúde havia sido construído por lá. Seu Fernando sentia-se velho e abandonado; pouca gente costuma ficar no alto do Morro para ouvir seus discursos.

Foi atrás de Tomás quando o garoto se formou no colégio. Dona Miriam ficou feliz. Decidiu assumir o menino; queria, de novo, ser chamado de papai. Contou para todo mundo da favela que tinha um filho. Disse que não tinha contado antes para não magoar Rutinha. Já não fazia muita diferença na comunidade o que ele tinha a dizer.

Os filhos de Seu Fernando não gostaram da notícia. A casa de três cômodos que eles moravam teria mais um dono. A TV de 32 polegadas e a geladeira duplex era só deles.

Ameaçaram ir ao programa do Ratinho pedir exame de DNA. Seu Fernando não gostou. Seus poucos amigos deram conselhos; era melhor fazer o tal exame para que Dona Miriam não ficasse mal vista. Ele concordou. Foi ao posto de saúde. Marcaram para apanhar o resultado em quinze dias.

Chovia na tarde em que Seu Fernando sentou na parte mais alta do morro. De lá, podia ver o tamanho da comunidade e a quantidade de novos barracos que chegaram com o progresso. A cobertura sobre sua cabeça deixava gotas de água molharem seu parco cabelo. Ele lembrou de Rutinha e dos discursos que ela escrevia quando ele subia para falar para seu povo. Era um tempo bom, quando seus amigos o admiravam e ele era querido.

Rasgou o envelope que acabara de buscar no posto de saúde. De dentro, retirou um papel. Havia muita coisa escrita; esfregou os olhos e colocou os óculos para começar a ler. A chuva quase molhou o papel, mas ele se inclinou para apanhar a luz que vinha do poste acima dele e desviou da água. Sentiu um nó na garganta e vontade de chorar. O papel dizia que Tomás não era seu filho.

Levantou dali e, silenciosamente, a passos lentos, foi descendo os degraus que o levariam para casa. Precisava beber aquela cachaça que estava escondida na penteadeira.

Ouviu um grito vindo da casa de Dona Joana, a faxineira do Posto de Saúde. Virou-se para olhar e viu a boca desdentada dela, que sorria, e dizia sem bem alto e sem parar:

- Olha o corno, gente, olha o corno ali!

Todo mundo na comunidade riu dele. A cada degrau que descia, mais vozes repetiam o que Dona Joana acabara de dizer. Velhos e crianças que ali estavam também riam dele, apontavam o dedo enquanto ele passava. Até que ele entrou em seu barraco de três cômodos e bateu a porta.

Seu Fernando precisava ficar só.
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sábado, 25 de junho de 2011

O Recall na Reforma Política

Estava assistindo televisão e passou uma propaganda da Harley Davidson, marca que é sonho de consumo de nove entre dez motociclistas. Não costumo dar muita bola para comerciais, mas, provavelmente motivado pelo desejo de um dia pilotar uma Harley, prestei atenção. E me dei mal, pois não era uma propaganda, e sim um recall.
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Recall é aquele estrangeirismo incorporado à nossa realidade após a promulgação do Código do Consumidor, no final da década 1980, que pode ser explicado como uma obrigação do fabricante, no sentido de chamar todos os consumidores que adquiriram determinado produto, no qual tenha sido identificado defeito de fábrica. E, claro, consertar o bem, sem custos, ou mesmo substituí-lo, caso seja impossível sanar o problema.
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Abre parêntese: quero considerar que o Deputado Carrion não deixa de ter razão quanto ao uso desnecessário dessas expressões em outros idiomas, como se isso fosse nos deixar mais chiques. Dava bem para ser “chamada” ou “convocação”, mas ficou sendo recall. Tudo bem, não é esse o assunto, então, fecha parêntese.
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Bueno, quando acabou o anúncio, fiquei matutando, e pensei na tão falada Reforma Política, que será realizada no Brasil, já havendo inclusive previsão da sua promulgação. Será uma semana depois que o Sargento Garcia prender o Zorro, no mesmo dia em que conseguirem fazer o camelo passar pelo tal buraco da agulha.
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É que eu lembrei que também existe uma proposta de recall nessa Reforma. Ela é menos comentada do que o financiamento público das campanhas, ou o fim das coligações proporcionais, mas na minha opinião, para a cidadania, talvez seja tão ou mais importante que essas duas outras propostas mais divulgadas.
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Trata-se da possibilidade dos eleitores exigirem uma nova votação (um plebiscito), quando entenderem que o representante eleito não atende às exigências do cargo, ou não cumpre as promessas de campanha. Ou seja, se o sujeito é eleito, e mais adiante mostra-se incompetente, mal-intencionado, ou fica escancarado que mentiu para ganhar votos, existiria a possibilidade de serem chamados todos os eleitores da circunscrição, para confirmá-lo, ou  não, no cargo.
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É claro que essa proposta necessita uma construção séria. Não é possível, por exemplo, que meia-dúzia de gatos pingados possa exigir a medida. Mas, se por outro lado, fosse exigida uma quantidade significativa de assinaturas, correspondente a um percentual mínimo dos votos válidos na última eleição, ficaria excluída a possibilidade de manobras sectárias, destinadas apenas a desgastar os mandatários. Penso que 10% seria um percentual adequado, pois a possibilidade de exonerar um eleito é um assunto muito caro à democracia, e não pode ser transformada em instrumento de politicagem.
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Também não acho adequado que isso seja permitido antes da metade do mandato (quando às vezes um prefeito não conseguiu ainda nem arrumar a casa), ou ser realizado mais de uma vez, nos quatro anos. Se fosse assim, pioraria a instabilidade política (e desejamos o contrário, a estabilidade), e viraria bagunça.
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Computados os votos, morreu o assunto. Se a maioria da população achasse que interromper o mandato fosse uma injustiça, o suposto mandatário continuaria governando, com pleno respaldo popular. E o ônus, o desgaste, seria de quem defendeu a cassação injusta.
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Se, por outro lado, houvesse decisão de que não poderia continuar, tchau e gracias, seria só o trabalho de empossar o sucessor legal, e a vida continuaria.
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Depois de muito pensar, cheguei à conclusão que esse recall seria um grande aperfeiçoamento para nosso sistema político. Em nível municipal, seria excelente. Tomara que esse tema seja aprovado, pois se o político souber de antemão que pode ser punido, pela mentira, trapaça ou incompetência, haverá significativa melhora no nível não só das campanhas eleitorais, mas no próprio desempenho dos eleitos.
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Para falar a verdade, não entendo o suficiente do Código do Consumidor, para saber se o recall é obrigatório. O que eu percebo é que há empresas que o utilizam com esperteza, e transformam o limão em limonada, pois quando surge um problema, apressam-se não só em chamar os consumidores para resolvê-lo, como fazem ampla publicidade disso, o que, longe de lhes tirar novos clientes, dá grande retorno em termos de credibilidade.
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A classe política, que tanto deseja credibilidade, bem que poderia seguir esse exemplo.
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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sabe Moço

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Essa é a música mais bonita que o Lepoldo Rassier cantava. A composição é de Francisco Alves.
Segue a letra:
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Sabe Moço
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Sabe, moço
Que no meio do alvoroço
Tive um lenço no pescoço
Que foi bandeira pra mim
Que andei mil peleias
Em lutas brutas e feias
Desde o começo até o fim
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Sabe, moço
Depois das revoluções
Vi esbanjarem brasões
Pra caudilhos coronéis
Vi cintilarem anéis
Assinatura em papéis
Honrarias para heróis
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É duro, moço
Olhar agora pra história
E ver páginas de glórias
E retratos de imortais
Sabe, moço
Fui guerreiro como tantos
Que andaram nos quatro cantos
Sempre seguindo um clarim
E o que restou?
Ah, sim
No peito em vez de medalhas
Cicatrizes de batalhas
Foi o que sobrou pra mim
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Ah, sim
No peito em vez de medalhas
Cicatrizes de batalhas
Foi o que sobrou prá mim
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domingo, 19 de junho de 2011

Veterano

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Veterano é uma das músicas mais bonitas - não a mais bonita, que para mim é "Sabe Moço" - cantadas pelo inesquecível Leopoldo Rassier. A composição é de Antonio Augusto e Ewerton Ferreira.
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Quero compartilhar essa canção, pois apesar do meu tempo não estar findando (não cheguei na metade, ainda), o inverno já me vem branqueando o cerro. E um bom domingo, para todos nós.
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Em tempo: repare que o Leopoldo está bem pilchado, com uma faquinha atravessada nas costas, e um trabuco entre a guaiaca e o mol da barriga ... Bem diferente dum "thê-músico" que me apareceu um dia desses, de bombacha argentina e brinquinho de brilhante.
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Adiante segue a letra, para visitantes de outros Estados compreenderem melhor, já que há alguns regionalismos utilizados.
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Veterano
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Está findando meu tempo,
A tarde encerra mais cedo,
Meu mundo ficou pequeno
E eu sou menor do que penso.
O bagual tá mais ligeiro,
O braço fraqueja as vezes
Demoro mais do que quero
Mas alço a perna sem medo.
Encilho o cavalo manso,
mas boto o laço nos tentos,
Se força falta no braço,
Na coragem me sustento.
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Se lembra o tempo de quebra
A vida volta prá traz
Sou bagual que não se entrega,
Assim no mais.
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Nas manhãs de primavera
Quando vou para rodeio,
Sou menino de alma leve
Voando sobre o pelego.
Cavalo do meu potreiro
Mete a cabeça no freio.
Encilho no parapeito,
Mas não ato nem maneio.
Se desencilha o pelego
Cai o banco onde me sento,
Água quente de erva buena,
para matear em silêncio.
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Neste fogo onde me aquento,
Remôo as coisas que penso,
Repasso o que tenho feito,
Para ver o que mereço.
Quando chegar meu inverno,
Que me vem branqueando o cerro,
Vai me encontrar venta-aberta
De coração estreleiro.
Mui carregado dos sonhos,
Que habitam o meu peito
E que irão morar comigo
No meu novo paradeiro.
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Se lembra o tempo de quebra
A vida volta prá traz
Sou bagual que não se entrega,
Assim no mais.
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sábado, 18 de junho de 2011

Tocando a vida

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A tira é de Laerte. Já tinha postado, há uns dois anos, e não lembro mais de onde pesquei. Vale o replay ...
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segunda-feira, 13 de junho de 2011

O rabiscador de garatujas ataca novamente

O rabiscador de garatujas da RBS publicou, na última revista do CREA/RS, a charge abaixo:
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A qual, por sua vez, é "parecidíssima" (somente na idéia, é claro), com o cartum duplamente premiado do Santiago, postado adiante. Peço aos leitores que comparem, e se enganem com seus próprios olhos, sobre ser ou não um caso de plágio.
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Comentando o fato, Santiago informa no seu blog Caminhos do Santiago, que esse desenho, de 1985, ganhou o Salão de Piracicaba naquele ano, e o Concurso do Jornal Yomiuri Shimbun (Tóquio), em 1992. Além disso, lembra que o cartum também foi publicado no seu livro "Ninguém é de Ferro", de 1993, com tiragem de 5.000 exemplares, e considera "até feio" que um profissional da área não o conhecesse.
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Sobre a vísivel semelhança, publico adiante o texto da mensagem encaminhada por Santiago a Alcides Capoani, Presidente do CREA/RS.
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"Senhor presidente Alcides Capoani

Venho manifestar a minha estranheza com a publicação na revista do CREA de um desenho com idéia idêntica a desenho meu que segue em anexo.

O cartum que denominei "Acidente" foi  premiado no Salão de Humor de Piracicaba em 1985 e em 1992 no concurso do jornal Yomiuri Shimbun, de Tóquio e foi visto pelos 15 milhões de leitores desse jornal. Além disso está no meu livro "Ninguém é de ferro" de 1993 (5.000 exemplares).

Sempre que alguém desenha cartum com mesma idéia de um meu, exijo que, pelo menos, o faça melhor que o original!

Espero a elegância de ver minha mensagem publicada na seção de cartas da revista.

Santiago-Neltair Abreu
Artista gráfico"

domingo, 12 de junho de 2011

A revolta do Ipê - E a natureza resiste

Falando em semana do meio-ambiente, recebi um e-mail da Djanira, com a reprodução de uma notícia de Porto Velho, Rondônia (não é informado o jornal em que foi publicado), sobre a "ressurreição" de um Ipê-amarelo, que havia sido cortado e utilizado como poste da rede elétrica, mas enraizou e brotou novamente.
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O Ipê-amarelo é a árvore-símbolo do Brasil. Gosto muito dessa espécie, embora também aprecie o Ipê-roxo (símbolo de São Luiz Gonzaga. Na Praça da Matriz há um Ipê-branco, raridade nesta região, que ainda não floresceu. Essa muda foi plantada pelo filho do Luiz Carlos Prestes, em homenagem ao início da Coluna Prestes, que para quem não sabe, saiu daqui, da nossa cidade.
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Minha mãe plantou uma muda de Ipê-amarelo em frente à sua casa, que ela cuidava com o maior carinho, e está enorme, mas em se tratando de arborização urbana, é uma espécie muito complicada, principalmente ali, onde há fios de luz e telefone passando.
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Em Dom Pedrito, na semana do meio-ambiente de 2006, plantei nove ipês-amarelo na rua lateral da Delegacia, mas lá não há problema, porque os postes ficam em um canteiro, no meio da rua. Fui transferido para cá em 2008, quando as árvores ainda estavam com 1,5m a 2m, e apenas uma havia morrido. Se as outras sobreviveram, devem estar com cinco ou seis metros atualmente, e florescerão daqui a pouco, após as geadas derradeiras, como cantava o Cenair Maicá. 
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Mas sobre o ipê-poste, segue o texto da matéria, para melhor entendimento. Como já disse, não foi citado o jornal onde foi publicado, mas dá para ver que o nome do fotógrafo é Leandro Barcelos.
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"Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que dinheiro não se come." (Provérbio Indígena)
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sábado, 11 de junho de 2011

Só não há dinheiro para a paz

* Pescado no Tijolaço
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A edição eletrônica da revista The Economist publicou o gráfico que reproduzo aí ao lado sobre os gastos militares no mundo.
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Embora o resultado não seja novidade, continua sendo espantoso assim mesmo. Entre os 18 maiores orçamentos militares do mundo, os EUA, sozinhos, gastam mais que todos os 17 outros.
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São US$ 700 bilhões, que correspondem a 4,8% do PIB do país. É quase seis vezes o que gasta a China (e mais que o dobro em percentagem do PIB).
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Perto dos níveis americanos, em matéria de fatia do PIB destinada a gastos militares, só está a Rússia, que tem problemas de conflitos internos e, sobretudo, a pesada herança de equipamentos e efetivos do exército soviético, que outrora rivalizava com o americano.
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O Brasil, como você pode observar, fica – ainda bem! - lá no final da proporção entre PIB e gastos militares. Ficamos acima apenas do Canadá – que não é referência nessa matéria – e da Alemanha e japão, dois países que, como herança da 2ª Guerra, foram praticamente desmilitarizados.
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Agora você imagine esta montanha de recursos, num mundo de paz, sendo usada em favor do desenvolvimento humano, do fim da miséria e da sustentabilidade ambiental.
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Imagine, imaginar não custa nada…
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sexta-feira, 10 de junho de 2011

O PT e a crise do ministro Palocci

* Por Elói Pietá
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Para os petistas, não sair em defesa de Palocci foi uma reação contra o risco de distanciamento do PT em relação à sua base social. Por isso estamos com a presidenta Dilma e apoiamos sua dolorosa atitude nesta hora. Mesmo tendo que perder um ministro tão importante, ou tendo que parecer vencida pela pressão das oposições, ela preferiu não perder o sentido social de seu governo.
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Os petistas não contestam o direito que Palocci tinha de exercer uma atividade privada quando saiu do governo em 2006 e de ter sucesso nela. O que causou espanto e levou os petistas a não apoiarem sua permanência no governo, foi a origem de seus ganhos privados (orientar os negócios de grandes empresas), a magnitude dos resultados (dezenas de milhões de reais), e o alto padrão de vida que ele se concedeu (representado pelo investimento em moradia fora de sua própria origem de classe média).
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Nós, petistas, éramos ‘de fora’ nos tornamos ‘de dentro’ do Estado brasileiro. Até hoje a elite rica ou a classe média alta de doutores não simpatiza com ver lá essa geração vinda dos movimentos de trabalhadores. 
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Somos herdeiros dos esforços que o Partido Comunista representou ao levar em 1945 ao Parlamento trabalhadores historicamente excluídos do poder (por pouco tempo, já que logo posto na ilegalidade). Somos herdeiros daqueles que no início dos anos de 1960 ensaiaram alguma presença no Estado através de suas lideranças sindicais e de partidos socialistas nascentes (tentativa abortada com o golpe militar).
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Enfrentamos com muitas dificuldades materiais as eleições. Uma após outra, elegemos homens e mulheres vereadores, deputados, prefeitos, senadores, governadores, até chegar três vezes à presidência da República. Muitos se tornaram assessores nos parlamentos, nos governos, diretores, secretários, dirigentes de empresas públicas, ministros.
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Quando estávamos perto do poder ou nele, as empresas privadas ajudaram nossas campanhas e procuraram nos aproximar delas. Queremos o financiamento público dos partidos para não depender delas. Respeitamos os empresários, mas com a devida distância.
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Não queremos sair do que fomos. Sabemos que as relações econômicas e as condições materiais de vida terminam moldando ideias e ações. São milenares as reflexões que alertam para isso. Vamos recordar alguns exemplos.
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Lá longe, o filósofo grego Platão, em A República, dizia que os governantes das cidades-estado não deveriam possuir bens, exceto aquilo de essencial que um cidadão precisa para viver. Que deveriam ter o ouro e a prata apenas na alma, porque se fossem proprietários de terras, casas e dinheiro, de guardas que eram da sociedade se transformariam em mercadores e donos de terras, então, de aliados passariam a inimigos dos outros cidadãos.
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A Revolução Francesa no fim do século 18 fez brilhar pela ação dos excluídos as ideias de igualdade, fraternidade e liberdade, contra a concentração da riqueza e do poder nos reis, na nobreza e no clero. É verdade que depois houve a restauração do Império, mas também se fortaleceram as ideias socialistas.
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Marx e Engels, que buscavam a emancipação do proletariado, consideravam que, para modificar a consciência coletiva era preciso modificar a base material da atividade econômica. Não bastava, portanto, a crítica das ideias, porque o pensar das pessoas reflete seu comportamento material.
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Filósofos sociais posteriores, mesmo aqueles cujas ideias deram suporte ao liberalismo, como Max Weber, falavam de estamentos sociais definidos pelos princípios de seu consumo de bens nas diversas formas de sua maneira de viver.
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Já dizia Maquiavel que a política se altera no ritmo incessante das ondas do mar. Os partidos tendem a ser como estas ondas: vem de muito longe, vem crescendo, até que um dia se quebram mansamente nas praias ou mais rudemente nos rochedos. Defender vida modesta para políticos vindos da vida modesta das maiorias, é para o PT uma das condições indispensáveis para comandar um processo de distribuição da renda e inclusão das multidões excluídas, embora não a condição única
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Para cumprir esta condição e nosso papel, é essencial sermos, como temos sido: fiéis, na nossa vida pessoal e política, aos milhões e milhões de brasileiros que tem votado e confiado em nós. É legítimo para nós progredir ao longo da vida, desde que todos cresçam na mesma medida em que o bem-estar do povo cresce.
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Voltando ao companheiro Palocci: respeitamos suas opções, admiramos sua competência, reconhecemos seu trabalho a serviço do povo. Mas, pelas razões expostas, o PT mostrou que prefere o político de vida simples que conhecemos, ao empresário muito bem sucedido sobre o qual agora se fala.
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Nesse mix de filosofias sobre a riqueza e seu reflexo no pensamento social, terminamos lembrando o imperativo categórico de Kant: aja de tal modo que a máxima de sua ação possa ser universalizada, isto é, para que todos sejam iguais a você. Por isso que, para continuarmos a ser um partido dos trabalhadores, não é bom que cultivemos o ideal de empresários.
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* Elói Pietá é secretário geral nacional do PT.
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* Postagem pescada aqui, no Aldeia Gaulesa.
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*** As partes negritadas foram salientadas por este blogueiro, para entender melhor o texto.
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Telejornais

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A charge é antiga, de Duke, pescada aqui.
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terça-feira, 7 de junho de 2011

O Bairrista informa: Odone contrata Palocci para o Grêmio

Odone Confirma: Palocci é do Grêmio
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Fonte: O Bairrista
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O presidente gremista Paulo Odone fechou na tarde de hoje a maior contratação da temporada: Antônio Palocci.
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Palocci estava trabalhando no Brazil e já confirmou a chegada em Porto Alegre para amanhã pela manhã. A diretoria gremista está providenciando a instalação de caixas de som no Olímpico.
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Palocci faz a linha "cascudo" solicitada pelo técnico Renato Gaúcho. O primeiro desafio será aumentar consideravelmente o número de gols da dupla Lins/Viçosa.
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Não está descartada a participação de Palocci como auxiliar de Renato Gaucho. Segundo fontes do Olímpico, o treinador gremista estagnou em 5.000 mulheres e quer multiplicar o número antes de encerrar a careira.
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A diretoria gremista também planeja usar Palocci para aumentar o número de sócios e para fechar novos contratos de patrocínio.
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"Palocci já caiu duas vezes e não desistiu é, sem dúvidas, um gremista e vem para multiplicar a força do tricolor." Afirmou o presidente Paulo Odone.
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Não se brinca com uma coisa dessas, Seu Bairrista. Lembre-se que esse infeliz quase contratou o Antônio Britto, em 2007. A contratação não deu certo ... mas eu tô borrado até agora!


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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Entrevista de Olívio ao Jornal do Comércio

O PT não pode se acomodar ao jogo político
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* Por Guilherme Kolling
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“O diretório estadual do PT definiu Olívio Dutra como presidente de honra do partido no Rio Grande do Sul. Fundador da legenda, o petista propõe, nesta entrevista ao Jornal do Comércio, que o PT discuta internamente seu papel na política para não se acomodar por estar hoje ocupando gabinetes do Executivo e do Legislativo. “O PT surgiu na luta por condições de vida digna para a população trabalhadora e uma partilha justa das riquezas do País. Não pode, de repente, passar a ser um partido da acomodação, da conciliação permanente, que aceita o jogo político do toma lá, dá cá.” Olívio, que completa 70 anos no final desta semana, também avalia as gestões do governador Tarso Genro (PT) e da presidente Dilma Rousseff (PT). E lembra, ainda, sua trajetória política, relatando episódios de sua formação no sindicato, na Igreja e no movimento estudantil.
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Jornal do Comércio - Como o senhor avalia o surgimento do PT e o partido hoje?
Olívio Dutra -
 No final da década de 1970 foi surgindo a ideia de um partido ligado ao movimento sindical. Não só da classe operária, mas da classe trabalhadora. Também como uma crítica aos partidos tradicionais. Essa foi a ideia do Partido dos Trabalhadores. Por isso digo hoje: o PT não é um partido que surgiu de cima para baixo, dentro de gabinetes do Legislativo e do Executivo. O PT veio de baixo para cima, é um partido que surgiu de uma parte considerável dos movimentos sociais, na luta contra a ditadura militar, na luta por condições de vida digna para a população trabalhadora e uma partilha justa das riquezas do País. O PT não pode, de repente, passar a ser um partido da acomodação, da conciliação permanente, que aceita o jogo político do toma lá, dá cá.
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JC - Mas chegou ao poder...
Olívio -
 O PT foi conquistando espaços na institucionalidade - o que é importante, pleiteamos a democracia. Mas não meramente a democracia formal; tem que estar enraizada na prática, para qualificar a vida das pessoas. O PT não pode ser um partido, digamos, que perca a sua rebeldia.
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JC - E é possível isso estando nos governos?
Olívio - 
É essa a questão. Por isso, o PT tem que ter instâncias que possibilitem um debate constante sobre as consequências de um partido que surge não dos gabinetes, de repente, ter que estar ocupando os gabinetes legislativos e executivos. É preciso discutir no que isso resulta.
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JC - Em que aspecto?
Olívio -
 O governo do presidente Lula (PT), nos seus dois mandatos, e agora o governo da presidente Dilma, o Tarso aqui no Rio Grande do Sul, isso representa uma nova conjuntura, que se abriu por conta da conquista popular, democrática. Mas o Estado brasileiro ainda está com a sua formatação, que o faz funcionar muito bem para poucos. Ou não funcionar para muitos. Então, apesar de tudo o que pôde ser feito no governo Lula, nos nossos governos aqui no Rio Grande - me orgulho de ter sido governador -, ainda assim tem estruturas que não foram mexidas.
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JC - Quais?
Olívio - 
O fato de Lula ter incluído milhões de brasileiros em uma renda melhor, condições de vida, salário e educação melhores, ter tido uma relação política aberta, uma política externa soberana, sem arrogância, mas afirmativa... Tudo isso são conquistas que não podemos perder. Mas isso é pouco diante de uma realidade que coloca, por exemplo, 16 milhões de brasileiros vivendo com uma renda diária de R$ 2,30. Eu voltei à universidade e pego dois ônibus para ir e dois para voltar da Ufrgs. Isso dá um gasto de R$ 10,80. Então, imagina uma pessoa sustentar a sua família com R$ 2,30? E são 16 milhões de brasileiros nessa situação. O governo deve trabalhar para a maioria da população. Tem um domínio aristocrático que controla a máquina brasileira há 510 anos. Em qualquer mandato que o PT exercer tem que estar a semente da transformação, e não da acomodação. Essa é a grande questão para o nosso partido.
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JC - Qual é a sua avaliação dos governos Dilma e Tarso?
Olívio -
 São governos que tocam adiante um esforço. O governador Tarso está indo bem. Dilma também. Mas tem a conjuntura... Precisamos de reformas como a agrária, que não se conseguiu fazer avançar. E o acesso à terra, de forma democratizada, é fundamental para o desenvolvimento econômico e social do País. Precisamos da reforma político-partidária, em que partidos tenham posições ideológicas claras e que não sejam balcões de negócio. E o Estado brasileiro não é propriedade do governante, deste ou daquele partido que está exercendo o poder. Nem de grupos econômicos poderosos. O Estado tem que ser democratizado e estar sob controle público.
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JC - A conjuntura atual é mais favorável a isso?
Olívio - 
Bem mais favorável. Até porque o discurso do Estado mínimo, dos neoliberais, está desgastado por conta da crise financeira internacional. Os países do capitalismo central tiveram que recorrer ao socorro do Estado. E é a sociedade que tem que controlar o Estado e não o contrário. Um partido sério, quando exerce governos ou mandatos, deve buscar avançar nisso. O PT é o maior partido do campo democrático-popular, a esquerda brasileira, mas não o único. Há partidos de origem mais antiga e também franjas em outros partidos de centro-esquerda, que não são cabresteadas pelos figurões dessas legendas. Então, há a possibilidade de uma discussão qualificada de como esse campo pode se alternar em cabeças de chapa para disputas locais.
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JC - Isso vale para 2012?
Olívio -
 Sou a favor da alternância, para esse campo formar - através da boa discussão em cima de temas como o papel do Estado - o desenvolvimento, a ideia de que a política é a construção do bem comum através do protagonismo das pessoas, que devem ser sujeito e não objeto da política. São ideias fundamentais para a gente encarar as próximas eleições.
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JC - Tarso formou uma boa base (PT, PSB, PCdoB, PDT, PTB, PRB e PR). Essa coalizão é o principal mérito do governador?
Olívio -
 Acho que isso não é mérito pessoal, é uma conjuntura que vai desabrochando. E tem riscos. O governo Lula, com sua composição, não conseguiu fazer a reforma política nem a tributária, nem a reforma agrária nem a urbana. Um governo de composição ampla acaba não podendo fazer e empurra adiante. Tem um conforto, mas ao mesmo tempo engessa. É uma contradição permanente. A questão da governabilidade tem também coisas que não se pode fazer. Mas não se pode conformar com o pragmatismo político...
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JC - A propósito de ideais na política, como foi seu início?
Olívio -
 Meu pai, carpinteiro, criou cinco filhos. Então, a consciência de que existe uma realidade a ser transformada vem de muito tempo. Jovem, militei na Igreja Católica. Tinha uns 15, 16 anos. A gente discutia a questão da desigualdade, da solidariedade, da caridade, do trabalho voluntário. Daí, vim a Porto Alegre com 18 anos incompletos, consegui vaga para trabalhar, mas faltou a carteira de reservista. Então, tive que voltar a São Luiz Gonzaga. E prestei lá o serviço militar.
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JC - Teve atuação no movimento estudantil?
Olívio -
 Cheguei a ser presidente da União Saoluizense de Estudantes. Era uma entidade em que estudantes de famílias abonadas promoviam festas, bailes... Montamos uma chapa para discutir a ausência de escola pública depois do Ginásio. Ganhamos a eleição. Tinha 16 ou 17 anos. Na Igreja, havia uma campanha nacional por educandários gratuitos. E fiz parte do movimento em São Luiz Gonzaga, por uma escola pública de 2º Grau (Ensino Médio).
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JC - E a vida sindical?
Olívio - 
Em 1961, fiz concurso para o Banrisul. Tinha 19 jovens disputando a vaga de contínuo... Entrei, fiquei três anos na função e fiz concurso interno para ser escriturário. Participei da minha primeira greve em 1962. Não tinha sindicato em São Luiz Gonzaga, mas foram até lá. Como fazia o trabalho de rua, fiquei encarregado de reunir o povo na Casa Rural. E se decidiu que os bancários de São Luiz Gonzaga entrariam em greve. Era uma luta salarial. Mas no segundo dia a greve acabou. E fiquei me perguntando: para entrar em greve teve reunião. Agora, para sair, ninguém nos consultou.
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JC - E como o senhor veio para Porto Alegre?
Olívio - 
Eu continuava no movimento para ter aquela escola. Mas o clima político estava se fechando por conta da ditadura. O prefeito era primo do Jango, mas militava na Arena. E, uma vez que a escola fosse instalada, nós, os jovens, queríamos que a direção fosse eleita. Tive a petulância de escrever essas coisas no jornal. O prefeito não gostou e toda a estrutura de poder local funcionou para que eu fosse transferido ou perdesse o emprego. Mas eu era funcionário concursado do banco. Então, fui transferido para Porto Alegre.
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JC - Por querer eleições...
Olívio -
 Meus pais eram eleitores do PTB, tinham retrato do Getúlio. Mas um tio, irmão da minha mãe, dizia: “Olha, tem muito rico no PTB também. Temos que pensar com a nossa cabeça para não ser massa de manobra.” Esse tio, Pedro Beis, em 1954 - Getúlio em crise, iria se suicidar em seguida - foi pego numa madrugada colando cartazes com críticas que só quem fazia era o Partidão (Partido Comunista Brasileiro). E foi preso. Aí, nos revezamos mandando uma viandinha para o tio Pedro na cadeia. Eu tinha 13 anos, fui em várias ocasiões. Até que ele foi solto graças a um advogado do Partidão. Com a pecha de comunista numa cidadezinha, meu tio veio a Porto Alegre.
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JC - Também a contragosto.
Olívio - 
Conto essa história porque em 1979 fui preso na nossa greve dos bancários, fiquei 14 dias na Polícia Federal. E um dia chegou uma visita: Pedro Beis. Fazia muito tempo que eu não via o tio Pedro. Cheguei na salinha e lá estava ele com uma carteirinha de cigarro. E disse: “Olha, meu sobrinho, vim aqui retribuir porque, quando eu estive preso 25 anos atrás, tu me levavas uma viandinha lá na cadeia.” E eu: “Muito obrigado, tio Pedro. O caso é que eu não fumo. Mas fico muito grato pelo gesto”.
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JC - E o seu ingresso no Sindicato dos Bancários?
Olívio -
 Cheguei em 1970, me colocaram na agência mais periférica de Porto Alegre na avenida Francisco Trein com a Assis Brasil. E logo me filiei ao sindicato. Era temerário, tinha dois bancários presos pelo regime. Fizemos reuniões e um texto que denunciava a situação. Ninguém assinou, claro. Queríamos que a categoria soubesse...
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JC - Foi uma iniciativa sua?
Olívio - 
Não. Isso foi o pessoal ligado às áreas de base da Igreja, de movimentos para proteger as pessoas perseguidas. Fizemos o texto e mandamos para todas as agências de banco. Lembro da chegada desse envelope na agência onde eu estava. O gerente me chamou. “Tem um problema aí com uns bancários. Tu és o cara que vai no sindicato, traz as informações” - o sindicato tinha um departamento odontológico e eu divulgava o serviço. “Então, Olívio, acho meio perigoso isso aí. Mas dá um jeito.” Bom, entreguei aos colegas. A informação circulou. Até que um dia chegou lá na agência o presidente do sindicato. E começou a me explicar a situação daqueles dois bancários. O sindicato tinha colocado advogado, mas os órgãos de repressão estavam em cima.
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JC - E o ingresso na direção?
Olívio -
 Outra vez o presidente veio à agência. “Tu tem ido nas assembleias e estão esvaziadas.” E me propôs que eu fosse para a executiva. Mas eu tinha feito vestibular para a Ufrgs. “Não quero dar o meu nome e depois não poder dar conta das reivindicações.” Aí, fiquei na quarta suplência. Quase no final desse mandato, quatro diretores deixaram de ser bancários. E fui convocado em 1974. Na divulgação, começamos a trabalhar com o pessoal da Coojornal; Santiago e Edgar Vasquez faziam charges. E a luta por liberdade e autonomia sindical nos possibilitou a relação com outras categorias. Em 1975, teve eleições e fui colocado na cabeça da chapa. Conheci o Lula nessa época. Fui reeleito no sindicato em 1978, e depois, cassado em 1979, na nossa greve dos bancários, a primeira grande greve de uma categoria do Rio Grande.
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Perfil
Olívio de Oliveira Dutra completa 70 anos na sexta-feira. Formou-se em Letras pela Ufrgs, embora tenha trabalhado no Banrisul, após concurso, até se aposentar em 1996. Ganhou visibilidade como líder do Sindicato dos Bancários durante a ditadura militar. Foi preso ao liderar a primeira greve de trabalhadores bancários no Estado em 1979. Missioneiro de Bossoroca, sua trajetória política começou ainda na adolescência, no movimento estudantil em São Luiz Gonzaga. Sua primeira filiação se deu no Partido dos Trabalhadores, sigla da qual é um dos fundadores no Estado. Obteve a primeira vitória nas urnas em 1986, ao se eleger deputado federal constituinte pelo PT. No ano seguinte, assumiu a presidência nacional do partido. Sua eleição para a prefeitura de Porto Alegre, em 1988, marcou a chegada do PT ao comando da Capital. Sua gestão (1989-1992) foi destacada pela criação do Orçamento Participativo. Em 1998, Olívio foi eleito governador do Rio Grande do Sul. Não foi candidato à reeleição por ter sido derrotado nas prévias do partido por Tarso Genro, em 2002. Também disputou o Piratini em 1982, 1994 e 2006. Foi ministro das Cidades de Lula entre 2003 e 2005 e presidiu o PT gaúcho por seis mandatos desde a fundação da sigla - o último se encerrou em 2009.”
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Entrevista de Olívio Dutra ao Jornal do Comércio, pescada aqui.
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