O site Carta Maior está postando hoje o primeiro texto do livro "Brasil, entre o Passado e o Futuro", organizado por Emir Sader e Marco Aurélio Garcia, publicado pelas Editoras Boitempo e Perseu Abramo.
Eu ainda não tive acesso ao livro, e talvez, mesmo que tivesse, não teria conseguido fazer a sua leitura, pois ando bem enrolado com outras coisas. Mas considero ser uma leitura fundamental, para todos aqueles que militam. Assim, fiquei muito feliz de ter acesso pelo menos a essa primeira parte.
Tenho percebido – e talvez não seja somente eu - uma diferença entre a militância da minha geração, lá dos meados da década de oitenta, para a turma que é encontrada atualmente nas sedes partidárias ou sindicais. Antigamente, estudávamos bastante. Líamos muito, e conversávamos sobre a conjuntura o tempo todo. Assim, todo mundo tinha uma boa contribuição intelectual a apresentar.
Hoje, estranho que os partidos se dediquem mais às tarefas, às bandeiradas, caminhadas e panfleteadas, (a tal de “mobilização”), do que à formação da militância, à sua preparação para o debate.
Talvez isso influencie, até, na nítida escassez de militância jovem, aquela de dezesseis a vinte e poucos anos, com a tesão radicalizar, que é indispensável nos partidos de esquerda. Os jovens, em qualquer época, não querem ser apenas tarefeiros, querem opinar, e quando não há espaço para isso, desaparecem.
E sou pessimista. Acho que não vamos longe, nesse caminho. Ao nos afunilarmos no tarefismo acrítico, vamos envelhecendo, nos burocratizando, e parecendo cada vez mais com os partidos ditos “tradicionais”, cuja militância é apenas mão-de-obra gratuita em época eleitoral.
Então, quando aparece um livro desses, que faz um olhar sobre a história do Brasil, desde Getúlio até Lula, acho que tenho obrigação de estudá-lo, e me apresso em compartilhar.
Este primeiro texto tem dez páginas, se for impresso, o que não é muito. Vale a pena imprimir, e depois ler, despacito e sem stress.
Reproduzo adiante os primeiros e os últimos parágrafos do texto, recomendando a indispensável visita ao Carta Maior, aqui, e a sua leitura integral.
(...)
“O Brasil vive um momento diferenciado da sua história política. Uma história que completará em 2010 suas oito décadas mais importantes até aqui.
Desde então, há elementos de continuidade e de ruptura, pelas imensas transformações que o Brasil viveu desde então. Oito décadas em que o país mudou sua fisionomia econômica, social, política e cultural, de forma profunda e irreversível. De país rural se tornou pais urbano, de pais agrícola, país industrializado, de um Estado restrito às elites a um Estado nacional. De país voltado para fora, para um país voltado sobre si mesmo.
De Getúlio a Lula transcorreram décadas fundamentais, com elementos progressivos e regressivos, contraditórios, que chegam até o começo do século XXI vivendo uma circunstância nova, que pode se fechar, como um marcante parênteses ou como ponte para a ruptura definitiva do modelo herdado e a continuidade em um novo patamar da construção de um país justo, democrático, soberano.
A ruptura mais importante, até aqui, da nossa história se deu em 1930. Até ali, grandes pactos de elite bloquearam a possibilidade de protagonismo do povo na história do país. A independência, ao contrário dos outros países do continente – com a exceção de Cuba e de Porto Rico -, não se deu pela expulsão dos colonizadores, mas pela primeira expressão do transformismo – no sentido que lhe deu Gramsci – na história brasileira.
Ao invés de república, passamos da colônia à monarquia, fomos o país que mais tarde terminou com a escravidão, enquanto se consolidou o domínio do latifúndio no campo. Um pacto de elite que perpetuou os laços com a metrópole colonial, prolongou a escravidão e perpetuou a concentração da propriedade rural.”
(...)
“O futuro do Brasil e do povo brasileiro dependem hoje de se o governo Lula será um parêntesis na dominação das elites tradicionais – as mesmas que produziram o país como o mais injusto e desigual do mundo – ou se o governo Lula é uma ponte para abrir caminho para a saída do modelo neoliberal e o inicio da construção de um país democrático econômica, social, política e culturalmente, soberano e solidário, um país para todos – na continuidade da luta que nos conduziu de Getúlio a Lula.
O Brasil mudou e mudou para melhor, mas nem por isso o governo Lula pôde resolver os principais problemas herdados. Pelo menos o governo colocou os problemas fundamentais a resolver: a hegemonia do capital financeiro, o modelo agrícola e a ditadura da mídia privada.
O Brasil mudou e mudou para melhor, mas nem por isso o governo Lula pôde resolver os principais problemas herdados. Pelo menos o governo colocou os problemas fundamentais a resolver: a hegemonia do capital financeiro, o modelo agrícola e a ditadura da mídia privada.
Nas eleições de 2010 se decide não apenas o futuro imediato do Brasil, mas a fisionomia que terá a sociedade brasileira em toda a primeira metade do século. Se haverá um retorno das elites tradicionais, responsáveis pelo Brasil ser o país mais desigual do continente mais desigual, ou se dará continuidade e a aprofundará as transformações que levem à construção de um Brasil para todos – democrático, diverso, solidário e soberano.”
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