sábado, 21 de agosto de 2010

Escritos Antigos - Ancestralidades

Esta semana a Igreja dos Mórmons promoveu uma série de palestras, abertas à população, sobre temas de interesse geral. Foram palestras envolvendo relacionamento, saúde, meio ambiente, e um assunto em que tenho curiosidades, a genealogia.


É que eu “me criei” dentro de um Cartório de Registro Civil, onde meu irmão, Floribaldo, trabalhou a vida toda. Em duas ocasiões, a partir dos onze anos, trabalhei lá em meio-expediente, nas férias, e uma das tarefas era organizar o fichário, milhares de fichas onde estava registrado o nome de todos os nascidos em São Luiz Gonzaga desde mil oitocentos e alguma coisa.


Nessas fichas, arquivadas alfabeticamente por sobrenome, vinha além dos dados pessoais, nome dos pais e avós. E uma vez até fiz, por curioso, a minha própria árvore genealógica.


Pelo lado do pai, na linha do avô paterno, fui até um certo Baldomero Moura, nascido na Argentina. E pela linhagem da avó paterna, cheguei a um trisavô de nome Nascimento do Bom Jesus Messa, que um dia destes descobri, no Google, ser um português que veio para o Brasil e se radicou em São Paulo, onde fez numerosa descendência. Como é que ele se infiltrou no meu DNA missioneiro, nem imagino.


Na linhagem materna, não passei do meu bisavô, Floriano Moreira. Aliás, pelo certo, eu deveria ser Moreira Moura, e não Oliveira Moura, pois para o nome de casado da mãe deveria passar o sobrenome de seu pai, Moreira, mas passou o da sua mãe, Oliveira, não sei o motivo.


Ainda na linha da avó materna, descobri uma trisavó de sobrenome Hoffmann, sobrenome germânico. Isso é coerente com as informações de que, por volta de 1870, o Rio Grande do Sul possuía 500 mil habitantes, dos quais 80 mil eram imigrantes alemães, dezesseis por cento da população da época. Essa grande proporção torna praticamente impossível que algum gaúcho, atualmente, deixe de ter algo de alemão em seu sangue. Minha mãe, por exemplo, tem pele clara e olhos esverdeados, e tem irmãs loiras e de olhos azuis.


Da parte do pai, certamente por influência dos 4,5 milhões de negros trazidos para o Brasil Colônia, e dos índios que habitavam as missões, somos “pêlos-duro”. Meu pai era moreno, e a genética dele era forte, pois apesar da mãe ser bem clara, eu, meus irmãos e irmãs temos , todos, cabelos escuros e olhos pretos, o que continuou na geração de nossos filhos.


Dessas misturas, e certamente de alguma influência italiana não detectada nos documentos, resulta que eu tenho primos loiros com olhos azuis, ruivos com olhos verdes, morenos claros de cabelos pretos, e morenos escuros com cabelos lisos e escorridos, estes últimos com traços indígenas e africanos bem misturados.


Pois o meu irmão, uns quinze anos atrás, recebeu alguns mórmons no Cartório, que pediram para fazer pesquisas genealógicas nesses arquivos. E um tempo depois esse pessoal o presenteou com uma pesquisa pessoal, que apontava a sua origem (e minha também) documentada mais remota na Mauritânia, norte da África. Impressionante.


Falando mais sério, eu acho que o importante desse tipo de informação não é descobrir se temos antepassados barões, duques, princesas ou rainhas, como querem alguns, mas sim demonstrar a multiplicidade de etnias que compõem nossas origens. Com esse conhecimento, fica fulminado qualquer tipo de preconceito que se possa ter quanto à etnia, cor da pele, origem, religião ou cultura dos outros.


Ao fim e a cabo, a verdade é que, embora nossos genes tenham passeado por todos os continentes, somos todos iguais, neste vale de lágrimas. Todos irmãos, filhos do mesmo barro, e da mesma costela.


Original publicado no jornal Folha da Cidade, Dom Pedrito, 24.03.2007

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