sábado, 3 de setembro de 2011

Será triste nosso fim?

“Está de volta o cantor,
só a morte é que não tem volta,
trago comigo – de escolta,
lembranças do campo em flor;
o carinho e o amor,
motivos do meu viver,
e preferia morrer,
se me chegasse a faltar,
a vontade de cantar
e o direito de querer!” ¹





Será triste nosso fim?

* Por Rafael Machado

1
Último dia de agosto
e eu que andei afastado
volto cantando rimado
a meu modo e a meu gosto;
pêlos a mais junto ao rosto,
rugas a mais junto a mão!
Motivo a preocupação,
motivo o velho dilema…
Assistir tanto problema
pra tão pouca solução!

2
Voltei ao São Luiz antigo
lá pelo trevo da CESA
rezar minha humilde reza
ao payador e me intrigo
ao vê-lo sem um abrigo
além do chapéu pampiano
e do pala castelhano
por sobre o ombro direito.
- Quanta falta de respeito
ante Dom Jayme Caetano!

3
E a praça tão comentada?
- Cadê a iluminação?
- Cadê a manutenção,
informações e bancada?
N’alguma pasta guardada,
N’algum arquivo – de jeito?
No bolso d’algum sujeito
bancando alguma viajada?

4
Falam em licitação
e a prosa não é de agora!
- Pra que tamanha demora?
- Pra que tanta enrolação?
Nisso por certo tem mão
(se estiver lendo, se flagre)
D’algum cabeça de bagre
dando vigor ao refrão
de que se o santo é do chão
em casa não faz milagre!

5
Acho-me um pouco cansado
talvez frustrado – não sei
ao ver que o pago Del Rei
onde nasci e fui criado
adere de olhos fechados
(qual um ser irracional)
ao que vem da capital,
ao que chega do estrangeiro.
- Tudo dobrou-se ao dinheiro!
- Tudo nos é tão normal!

6
Só é maior que a cultura
(que são os usos – a fala)
o ato de preservá-la
para as gerações futuras;
agora nada tortura
mais um povo e seu meio
do que este costume feio
de enxovalhar o terrunho
depois com os mesmos punhos
aplaudir o que é alheio!

7
Salve Vinicius Ribeiro
(magnífico escultor)!
- Não digo que é um horror
o que este chão missioneiro
oferta pra o mundo inteiro
de artistas – de talento?
- Deste vida no cimento
ao andarengo² imortal!
- É pena obra tão genial
exposta assim ao relento!

8
- Será triste nosso fim?
- Tenho pena do meu povo…
minguando nas mãos – de novo
de gente tão podre assim!

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¹ Primeira décima de “a volta do payador” de Jayme Caetano Braun.
² Pseudônimo!

Rafael Machado, pajador, é colunista do Guia São Luiz, de onde pesquei estes versos.


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