terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Devo, não nego. Pagaria, se pudesse.

Ando sem motivação para escrever nada. Neste calorão do cacete aqui de São Luiz Gonzaga, às vezes até vem uma inspiração, mas não dá vontade de arriscar uma transpiração.

Então, para não passar a semana em branco, posto adiante o texto de um documento verídico, dos anos 1940, segundo consta encontrado nos arquivos do Banrisul. Recebi por e-mail do meu grande parceiro Antônio Laval, de Dom Pedrito.

Lá vai:

"Senhor Gerente do Banco do Estado do Rio Grande do Sul

Nesta cidade


Prezado Senhor:


Acabo de receber uma carta sua, em relação à conta que lhes devo, na qual me dizem que estranham que a mesma não tenha sido paga em seu devido tempo; também anunciam que se não for paga dentro de um prazo prudencial, podem causar-me sérias dificuldades.
Em contestação, lhes direi o seguinte:


No ano de 1927, eu comprei a crédito uma serraria.
Em 1928, adquiri a prazo uma junta de bois com carreta, uma escopeta e um litreiro para vinhos. Também um revólver marca Colt, tudo pelo maldito plano de pagamento a prazo.

Em 1929, a serraria pegou fogo e não ficou uma merda de uma viga em pé. Um dos bois morreu e o outro emprestei para um filho-da-puta, que deixou morrer de fome.


Em 1930, meu pai morreu e meu irmão foi enforcado como ladrão de cavalos. Um ferroviário violou minha filha e tive que pagar 85 mangos para evitar que o bastardo fizesse parte de minha família.


Em 1932, um dos meus filhos pegou caxumba e recolheu para os testículos e o médico teve que capá-lo para salvar-lhe a vida.


Passados uns meses, saí para uma pescaria; virou o caiaque e perdi o dourado mais lindo e mais grande que eu já tinha visto em minha vida. Além disso, afogaram-se dois dos meus filhos (nenhum dos quais era o capado).


Em 1935, minha mulher fugiu com um moreno gordo que costumava rondar os arredores de minha casa, porém antes de se irem, deixaram um par de guampas de recuerdo.


Nessa situação, me casei com a empregada para reduzir os custos. Como era muito difícil levá-la para a cama, consultei um especialista que me indicou que ela necessitava de emoções violentas.


Quando chegou o momento propício, tomei a escopeta e disparei um tiro pela janela; minha mulher, que estava excitada na cama, cagou-se toda sujando a única colcha que nós tínhamos. Eu adquiri uma hérnia com o coice da arma e, ao mesmo tempo, com o disparo, matei a melhor vaca que tinha e que era a única que me dava leite.

Em 1941, me larguei na bebida. Não parei até que somente me restasse um relógio no bolso e uma enorme dor nos rins. Por algum tempo, a única coisa que eu fazia era dar corda no relógio, olhar a hora e correr para mijar.


No ano seguinte, decidi tentar novamente a sorte. Para tanto, adquiri uma Hatsuta, uma enfardadeira e uma colheitadeira, também pelo maldito plano de pagamento a prazo.


Então, veio um ciclone que levou tudo para o caralho. A minha mulher pegou uma tremenda gripe e ficou surda; meu último filho (o capado) morreu depois de limpar o cú com uma espiga de milho que eu tinha preparado com veneno para os ratos, e um filho-da-puta castrou o único touro que eu possuía.


No momento atual, se cagar custasse um níquel, eu teria que vomitar a merda. Então, não estranhem que não tenha pago as prestações. E é nessa situação que recebo a ameaça dos senhores, dizendo que podem me causar sérias dificuldades.


Olhem senhores, querer cobrar-me agora, seria igual que tentar introduzir um quarto de quilo de manteiga no cú de um javali furioso, com cravador quente de sapateiro.


Porém, de qualquer maneira, podem tentar, se os senhores, quiserem.

Atenciosamente,

Juvêncio Dinarte, seu criado"
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