sábado, 16 de julho de 2011

Vinte e três anos depois ...

Uma das primeiras coisas que fiz, quando passei no vestibular de Direito (2º semestre de 1988), foi ir até o DCE da PUC, para comprar uma pastinha do curso. Mas não tinha do meu, então comprei de outro, não lembro se da enfermagem ou do jornalismo. Fui seduzido pela mensagem impressa na lateral da pasta: Se diz violento o rio que tudo arrasta, mas não se dizem violentas as margens que o oprimem. Bertold Brecht.

E tudo escrito em letras vermelhas, garrafais, com um camponês ao fundo, desenhado de enxada no ombro. Uma referência explícita ao MST, bastante perseguido na época. Eu militava no PCdoB, e a pasta combinava perfeitamente com minhas camisetas de mensagens engajadas.

Era um jovem sonhador, querendo mudar o mundo ...

De posse da pasta, me toquei na hora para a biblioteca, para ver se descobria mais alguma coisa do tal de Brecht, e encontrei “O analfabeto político”. Aí sim, me apaixonei, a ponto de passar os cinco anos seguintes usando mesma pastinha velha. Meu out-doorzinho portátil.

É sempre bom reproduzir esse “poema”, lembrando que foi escrito há trocentosanos, e a coisa parece que não muda nunca:



O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do pão, do peixe, da farinha, 
do aluguel, 
do sapato e do remédio, dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo que odeia a política.

Não sabe o imbecil que é da sua ignorância política
que nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Daqui a alguns dias (31.07.2011) completa dezoito anos que me formei. Passaram, portanto, vinte e três anos desde que comprei aquela pasta. E uma certeza eu tenho: não sou um Pokémon, porque não evoluí muito - ideologicamente falando - nesse tempo todo. No que é essencial, continuo acreditando nas mesmas coisas.

Só que agora sou um senhor de meia-idade. Mas sonhador, e querendo mudar o mundo ...

* Texto postado originalmente em julho de 2009, que reciclei agora por pura nostalgia.

Um comentário:

  1. Parabéns, Zé. Vinte e três anos defendendo o direito com olhar da justiça social. O que começou como mera ideologia, hoje já faz parte do teu ser. O ser ou não ser, mas com igualdade social. Jailson

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