sexta-feira, 30 de abril de 2010
quinta-feira, 29 de abril de 2010
O dia em que comprei Viagra falso
O STJ decidiu ontem que daqui a dois meses, em 20 de junho, expiram os direitos de patente do Viagra, que pertencem à multinacional farmacêutica Pfizer.
Essa notícia é bem interessante. Agora, vai ser possível produzir genéricos para o potente medicamento contra disfunção erétil, o que vai resultar em grande redução no preço, segundo o Governo Federal. Avalia-se que o preço caia de R$.66,00 para cerca de R$.40,00, pela caixa com dois comprimidos. E sexo é bão, como diz o Temporão.
Esse negócio de Viagra me lembra uma das várias aventuras inusitadas da minha carreira policial. O dia em que comprei Viagra falso.
Na verdade, o Viagra em questão não era propriamente falso, e sim um similar contrabandeado do Uruguai, sem autorização para venda no Brasil. Acho que isso aconteceu em 2005 ou 2006, não lembro ao certo. Eu era Delegado em Dom Pedrito, e nosso Delegado Regional nos convocou pra auxiliar em uma operação de combate à pirataria, em Bagé.
Era uma operação grande, envolvia todos os policiais de Bagé, e de outras cidades da regional. O objetivo era cumprir mandados de busca de produtos pirateados, como DVDs de filmes, jogos e programas de computador. E também apreender todo tipo de contrabando ou descaminho.
O serviço foi bem montado, e investigação havia feito diligências também para identificar pessoas que estariam vendendo ilegalmente Citotec, um medicamento abortivo. E no curso do trabalho, descobriu que o atendente de uma farmácia do Centro estava vendendo, não Citotec, como desconfiavam, mas grande quantidade do tal Viagra “uruguaio”.
Na reunião para distribuição das tarefas, tive uma surpresa. Meu chefe disse que precisava de uma pessoa da minha faixa etária (42 na época) e aparência para se passar por consumidor, comprar o Viagra falso, e prender o meliante. A idade eu até compreendi, mas nunca havia pensado antes que me parecia com consumidor de Viagra.
Bueno, para encurtar o relato, montei uma equipe com três policiais de apoio, e me fui à farmácia. Combinei com eles que iria entrar com o telefone celular ligado, no bolso, e um ficariam escutando a conversa ali por perto. Quando eu dissesse uma palavra-senha, era porque estava pronto para realizar a prisão, então eles entrariam para me dar apoio.
Abre parêntese. Essa providência é muito importante, pois dar voz de prisão a alguém sem superioridade numérica é muitíssimo arriscado. Dizer “teje preso”, e o outro dizer “não tou” é uma catástrofe para o policial, pois deriva sempre ou para o uso de arma ou força física, e eventualmente para luta corporal.
Nessa situação, se vacilamos ou apanhamos do preso, perdemos o serviço e nos desmoralizamos. Por outro lado, se vamos até o fim, usamos a arma ou vencemos a luta corporal, sempre haverá alguém para nos acusar de abuso. De qualquer modo, saímos sempre perdendo. Então, sempre é adequado ter superioridade numérica, mesmo em operações aparentemente tranqüilas, como aquela. Fecha parêntese.
Bueno, ensaiado o trabalho, entrei na farmácia, e perguntei pelo Fulano, que veio me atender quase que imediatamente. Notei que ele era manco de uma perna, provavelmente seqüela de paralisia infantil. Mas ficou bem faceiro quando eu pedi para falar com ele em particular.
O cara me levou para trás de uma cortininha onde aplicam injeções, e perguntou o que eu desejava. Falei que queria comprar um Viagra barato. Ele prontamente disse que tinha, por R$.25,00 o comprimido. Comprei dois.
Durante a negociação, ele perguntou se eu tinha algum problema cardíaco, e eu disse que não, embora seja hipertenso. Perguntei se haveria alguma contra-indicação, e ele disse que não. E o pessoal do apoio escutando tudo, do outro lado.
Disse então a palavra-senha, e quando vi que meus colegas se aproximaram, falei para ele mais ou menos o seguinte: “Olha, meu nome é José Renato, sou policial civil, e tem um problema, aqui. Tu me vendeu um remédio proibido, isso é crime, e estou te dando voz de prisão em flagrante”. O cara quase desmaiou, chegou a dar pena.
Algemamos ele, o colocamos sentado, mandei fechar a farmácia, chamar o farmacêutico responsável que quase teve um xilique quando se deu por conta do que acontecia. O rapaz havia se formado um mês antes, e jurou que não sabia dos fatos. E eu até acho que ele estava sendo sincero. A mesma coisa com relação aos proprietários do estabelecimento, que chegaram logo depois. Fiquei convencido que os outros não sabiam da trampa, e prendi somente o rengo.
Chamamos a Vigilância Sanitária, que tomou os procedimentos de praxe, e interditou a loja. Em revista, eles encontraram mais 82 comprimidos escondidos no armário pessoal do atendente.
A partir daí, tudo foi feito "aos costumes". Levamos o preso e testemunhas para a Delegacia, onde foi feita a autuação em flagrante. O preso foi recolhido ao presídio local, e foi liberado no dia seguinte.
Até aí tudo bem. É como eu sempre digo, missão dada, missão cumprida.
Só que algum colega, safado que eu até hoje não descobri quem foi, mandou a notícia tintim-por-tintim para os jornais. E no dia seguinte, era manchete na página policial do Correio do Povo: “Delegado José Renato, se fazendo passar por consumidor de Viagra ...”. Minha mãe me telefonou de perguntando o que tinha acontecido, e até ela, acreditem, tirou sarro de mim. Disse que todo mundo em São Luiz estava achando a coisa muito engraçada.
Em Dom Pedrito, então, não tive sosssego por uns três meses. Toda hora alguém perguntava: “E aí, Delegado, não sobrou um comprimidinho para mim?”. Lá na Capital da Paz eles tem uma expressão para isso: fazer chapa. Ficaram fazendo chapa de mim um tempão. Até muito tempo depois, sempre tinha um ou outro velhinho que se aproximava e dizia: “Delegado, estou muito triste com o senhor ... acabaste com meu fornecedor”.
Menos mal que eu também sempre levei na esportiva. Aliás, a gozação até não era desagradável, e eu sempre fui uma “autoridade” bem acessível a todos.
Parece que o preso foi julgado, e condenado a uma pena pequena, substituída por prestação de serviços. Acho errado, porque ele foi absolutamente irreponsável. Deveria ter ficado nem que fosse um mês preso.
O produto que ele vendia, por exemplo, se fosse remédio mesmo, deveria ter um bom motivo para não ser liberado para venda no Brasil. Mas podia tanto ser um placebo, sem efeito nenhum, quanto ter qualquer coisa misturada que causasse efeitos colaterais graves. Além disso, o ladrão vendia os comprimidos praticamente pelo mesmo preço do original. Nem economia havia, portanto, para o consumidor-otário.
Agora, com o rebaixamento do preço como genérico, acho que o problema do contrabando vai diminuir.
Mas para ficar bem claro que é um genérico, acho que não deveria ser azulzinho, mas de outra cor qualquer. Vermelhinho, por exemplo. Também seria legal que tivesse um formato diferente do losango da Pfizer.
Quem sabe uma estrelinha vermelha?
quarta-feira, 28 de abril de 2010
O sucesso das "terceiras vias" em eleições no RS
Partindo da constatação de que há muitos anos existe uma polarização entre aqui no Rio Grande do Sul, entre o PMDB, pela direita, e o PT pela esquerda, com os demais partidos gravitando ao redor, Leandro chegou à conclusão de que, sempre que houve a vitória de uma "terceira via", essa beneficiou (e foi bancada) pela direita.
Essa, claro, é uma análise do que já sabíamos. Mas é interessante, e quero compartilhar.
Mas tem uma coisa, que aliás comentei lá no Vermelho. É que, por essa análise, e considerando que a "terceira via" que o Beto Albuquerque tanto quer construir nunca interessou à direita (ao contrário da "via" do Lara, que lhes interessa), não tem, portanto, chance de vitória. Assim, até agora, só serviu para isolar o Tarso Genro.
Mas quem deu pulmão pro Beto para se bancar, nesse papel, foi justamente o PCdoB. E isso até dois ou três dias atrás. Eles é que davam retaguarda para nosso Ciro Gomes gaúcho tentar alçar vôos maiores. Então, acho que os comunistas do PCdoB teriam que ter feito essa avaliação bem antes. Daí, já teriamos a Frente Popular consolidada, quem sabe até com o Beto bem confortável como candidato a Vice-Governador. Mas antes tarde do que nunca.
Bueno, foi essa a leitura que fiz. Reproduzo adiante, para que os amigos tirem suas próprias conclusões. E recomendo, sempre, uma visita ao portal Vermelho, do PCdoB, cujo link sempre esteve aqui, na barra lateral direita.
Segue o texto:
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Eleições no Rio Grande do Sul e a tarefa da esquerda
"Mais uma eleição se aproxima e parece que a história vai se repetir no Rio Grande do Sul: sem capacidade de ampliar o espectro de alianças, a esquerda caminhará sozinha novamente para mais um pleito estadual.
O RS possui particularidades diferenciadas do País no que se refere ao campo político. Os principais expoentes da disputa política em nosso Estado são o PT, no campo da esquerda, e o PMDB, no espectro da direita – diferente do âmbito nacional onde a polarização se dá com o PSDB.
Infelizmente o maior partido da esquerda gaúcha não tem a compreensão da importância de uma política ampla de alianças em nosso Estado. Não entendeu, até hoje, os porquês de sua vitória em 1998. Vale resgatar os fatos, mesmo que em apertada síntese. O PMDB administrava o governo do RS (com o então pemedebista Antonio Brito) e foi o partido que aplicou ferozmente as políticas neoliberais em nosso Estado, realizando as privatizações de empresas estatais e demitindo servidores públicos.
Essa limitação do maior partido de esquerda em nosso Estado acaba por incentivar posturas que mais ajudam a direita do que outra coisa. Exemplo disso são as propostas de construção de uma “terceira via” nas eleições Estaduais. Por mais que essas propostas tenham objetivos sinceros, na prática, vão de encontro com a realidade gaúcha e com os interesses nacionais.
Devemos travar uma luta para mudar essa política de isolamento. Mas essa luta deve ser travada no campo da esquerda e não em outro lado. Não podemos cair no erro de tentar construir uma política ampla em torno da direita. Estaríamos indo de encontro com os avanços conquistados em nível nacional, colocando “água no moinho” da direita em nível nacional. A política não perdoa, principalmente no Rio Grande do Sul. O partido que não sabe qual sua identidade, qual seu campo político, não criará raízes em nosso Estado. Uma esquerda renovada deve realizar um grande esforço para aglutinar um número amplo de forças políticas em torno de um projeto democrático-popular para fazer com que o Rio Grande do Sul possa se desenvolver novamente e ocupar um espaço político mais destacado no cenário nacional, bem como a fortalecer as mudanças que veem ocorrendo em nosso País, mas esse esforço deve ser realizado pela esquerda.
Precisamos incidir junto ao PT e aos demais partidos de esquerda, buscando consolidar um esforço nesse sentido. Se não for possível aumentar o espectro de alianças em torno da esquerda no primeiro turno, e pelo que se apresenta não será, precisamos construir uma ponte entre os demais setores do campo democrático e popular para um eventual apoio à Frente Popular no segundo turno. Para tentar quebrar o bloco que as elites gaúchas veem construindo para se manter no comando do Palácio Piratini nos últimos anos.
Já é chegada a ora de dar um passo a frente na luta institucional em nosso Estado. Devemos aprender com a história. É necessário que se construa uma política de alianças mais ampla em nosso Estado, possibilitando, assim, uma nova vitória da esquerda no Rio Grande do Sul, bem como possibilite uma coalizão de forças que garantam um mínimo de estabilidade para governar, bem como para fortalecer o projeto mudancista em nível nacional.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Vendetta em São Luiz Gonzaga
domingo, 25 de abril de 2010
Privataria na Terra dos Presidentes
Depois de se programarem para abocanhar os serviços de água e esgoto (primeiro passo para se apoderar do Aquífero) em São Luiz Gonzaga e Uruguaiana, mas não levarem, agora estão atacando na Terra dos Presidentes.
sábado, 24 de abril de 2010
Ciro Gomes - Eu já sabia ...
"Antes que me acusem de plágio, vou dar o devido crédito à bela frase sobre Ciro, "o candidato que virou maionese". A autoria do achado é da editora de política da Folha, Vera Magalhães. Faço questão de citar a fonte para vocês verem como as agressões de Ciro Gomes não agradaram nem a direita, no caso, o jornal mais serrista do País, a Folha, jornal esse que jamais hesita, quando tem oportunidade de criar climas e cenários arranjados para desqualificar a esquerda, em especial, a candidata Dilma.
O fato é que Ciro Gomes andava falando sozinho há meses, apenas não admitia o que todos ao seu redor já adivinhavam, que a sua candidatura era como uma eterna lua minguante, tatuada num coração flechado pela vaidade e o ressentimento.
Confuso e perturbado pelo tropeço e queda no real, Ciro distribuiu de tudo, ontem. Sobrou para Lula, para Serra, para o PMDB ("ajuntamento de assaltantes"), para Temer e até para si mesmo, quando admitiu que sua vida política foi "errar por muitas siglas partidárias" e que por isso talvez encerre sua carreira pública.
Ciro tem uma trajetória política que inicia - não esqueçamos - no setor jovem da Arena, simulacro de partido auxiliar da ditadura civil-militar de 1964. Nasceu e cresceu no seio de uma oligarquia tradicional do Ceará, da cidade de Sobral. No final da década de 70, o jovem Ciro disputou e perdeu a presidência da União Nacional de Estudantes (UNE), numa tentativa mais articulada da direita de pôr termo à hegemonia da esquerda no movimento estudantil brasileiro. Já foi filiado e militante dos seguintes partidos: Arena, PDS (sucedâneo pós-ditadura da Arena), PMDB, PSDB (foi governador do Ceará pelo tucanato), PPS (a famigerada sigla do renegado Roberto Freire e do ex-governador Antonio Britto). Atualmente, Ciro Gomes está filiado ao mesmo partido do grande "líder" popular guasca, o deputado federal Beto Albuquerque, o PSB.
Definitivamente, Ciro Gomes é um homem de fases chapinhando na maionese abatumada de seus desejos."