quarta-feira, 28 de abril de 2010

O sucesso das "terceiras vias" em eleições no RS

Gostei deste texto do Leandro Alves, que achei aqui no Vermelho, o portal do PCdoB nacional.

Partindo da constatação de que há muitos anos existe uma polarização entre aqui no Rio Grande do Sul, entre o PMDB, pela direita, e o PT pela esquerda, com os demais partidos gravitando ao redor, Leandro chegou à conclusão de que, sempre que houve a vitória de uma "terceira via", essa beneficiou (e foi bancada) pela direita.

Essa, claro, é uma análise do que já sabíamos. Mas é interessante, e quero compartilhar.

Mas tem uma coisa, que aliás comentei lá no Vermelho. É que, por essa análise, e considerando que a "terceira via" que o Beto Albuquerque tanto quer construir nunca interessou à direita (ao contrário da "via" do Lara, que lhes interessa), não tem, portanto, chance de vitória. Assim, até agora, só serviu para isolar o Tarso Genro.

Mas quem deu pulmão pro Beto para se bancar, nesse papel, foi justamente o PCdoB. E isso até dois ou três dias atrás. Eles é que davam retaguarda para nosso Ciro Gomes gaúcho tentar alçar vôos maiores. Então, acho que os comunistas do PCdoB teriam que ter feito essa avaliação bem antes. Daí, já teriamos a Frente Popular consolidada, quem sabe até com o Beto bem confortável como candidato a Vice-Governador. Mas antes tarde do que nunca.

Bueno, foi essa a leitura que fiz. Reproduzo adiante, para que os amigos tirem suas próprias conclusões. E recomendo, sempre, uma visita ao portal Vermelho, do PCdoB, cujo link sempre esteve aqui, na barra lateral direita.

Segue o texto:

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Eleições no Rio Grande do Sul e a tarefa da esquerda

"Mais uma eleição se aproxima e parece que a história vai se repetir no Rio Grande do Sul: sem capacidade de ampliar o espectro de alianças, a esquerda caminhará sozinha novamente para mais um pleito estadual.

Não é novidade a polarização no Rio Grande do Sul - Chimangos e Maragatos, Inter e Grêmio, Imperadores do Samba e Bambas da Orgia, não importa a área, no Rio Grande é sempre assim. Nas eleições, como não poderia ser diferente, o fenômeno se repete, mas parece que parte da esquerda ainda não sabe lidar com esse fenômeno.

Essa polarização, que outrora fora motivo de orgulho, transformou-se em fator de retrocesso político para o nosso Estado. No último período o Rio Grande do Sul vem perdendo espaço político em nível nacional e, se isso não bastasse, perdeu sua capacidade de construir políticas públicas que sustentem seu crescimento econômico e sua capacidade de inclusão social.

Construir um caminho que acabe com o isolamento político da esquerda é questão fundamental por dois aspectos: 1- Precisamos colocar o Estado no rumo do desenvolvimento com inclusão social; 2- Não podemos deixar um campo onde a direita nacional (que tenta barrar a continuidade das conquistas em nível nacional) consiga se fortalecer.

O RS possui particularidades diferenciadas do País no que se refere ao campo político. Os principais expoentes da disputa política em nosso Estado são o PT, no campo da esquerda, e o PMDB, no espectro da direita – diferente do âmbito nacional onde a polarização se dá com o PSDB.

Claro que a direita, dependendo de como o processo se apresenta, utiliza outras siglas, como já fez com PSDB, por exemplo. Os partidos de direita naturalmente gravitam em torno do PMDB e os de esquerda, em torno do PT – vale dizer que nem sempre é tarefa fácil, pois o PT gaúcho se esforça para se isolar, inclusive de seus aliados mais próximos. A questão é que esses dois campos possuem limites eleitorais bem objetivos e a busca pelos partidos de centro ou de centro-esquerda torna-se fator fundamental para se construir uma vitória eleitoral no Rio Grande do Sul.

Infelizmente o maior partido da esquerda gaúcha não tem a compreensão da importância de uma política ampla de alianças em nosso Estado. Não entendeu, até hoje, os porquês de sua vitória em 1998. Vale resgatar os fatos, mesmo que em apertada síntese. O PMDB administrava o governo do RS (com o então pemedebista Antonio Brito) e foi o partido que aplicou ferozmente as políticas neoliberais em nosso Estado, realizando as privatizações de empresas estatais e demitindo servidores públicos.

Historicamente não era essa a postura do PMDB, pois esse partido vinha de uma trajetória de lutas por democratização em nosso País – o antigo MDB. Essa inflexão mais à direita do PMDB, que historicamente se colocava ao centro político, fez com que ele se afastasse de setores que sempre lhe deram apoio no campo eleitoral. Uma parcela considerável do eleitorado do Rio Grande do Sul ficou sem opção naquelas eleições.

A esquerda, com o PT a frente, soube ocupar esse espaço e conseguiu aglutinar um leque maior de forças políticas, fator que foi determinante para a conquista do governo estadual. Entretanto o PT, talvez por não compreender essa particularidade de sua vitória, não manteve essa amplitude na administração, foi isolando-se pouco a pouco. Lembremos do que o PT fez com o PDT no Governo do Estado, por exemplo.

Essa limitação do maior partido de esquerda em nosso Estado acaba por incentivar posturas que mais ajudam a direita do que outra coisa. Exemplo disso são as propostas de construção de uma “terceira via” nas eleições Estaduais. Por mais que essas propostas tenham objetivos sinceros, na prática, vão de encontro com a realidade gaúcha e com os interesses nacionais.

Normalmente não há espaço para uma terceira via em nossas eleições estaduais. Toda vez que isso aconteceu - uma “terceira via” chegar à vitória -, foi uma manobra da direita para conquistar ou manter o poder político gaúcho. Lembremos de Germano Rigotto, que apareceu como uma alternativa à disputa entre Olívio Dutra e Antônio Brito. E, por último de Yeda Cruzius, que apareceu como opção frente à disputa entre Germano Rigotto e Tarso Genro. Efetivamente, a “terceira via” só se concretizou quando era útil à direita em nosso Estado.

Devemos travar uma luta para mudar essa política de isolamento. Mas essa luta deve ser travada no campo da esquerda e não em outro lado. Não podemos cair no erro de tentar construir uma política ampla em torno da direita. Estaríamos indo de encontro com os avanços conquistados em nível nacional, colocando “água no moinho” da direita em nível nacional. A política não perdoa, principalmente no Rio Grande do Sul. O partido que não sabe qual sua identidade, qual seu campo político, não criará raízes em nosso Estado. Uma esquerda renovada deve realizar um grande esforço para aglutinar um número amplo de forças políticas em torno de um projeto democrático-popular para fazer com que o Rio Grande do Sul possa se desenvolver novamente e ocupar um espaço político mais destacado no cenário nacional, bem como a fortalecer as mudanças que veem ocorrendo em nosso País, mas esse esforço deve ser realizado pela esquerda.

Precisamos incidir junto ao PT e aos demais partidos de esquerda, buscando consolidar um esforço nesse sentido. Se não for possível aumentar o espectro de alianças em torno da esquerda no primeiro turno, e pelo que se apresenta não será, precisamos construir uma ponte entre os demais setores do campo democrático e popular para um eventual apoio à Frente Popular no segundo turno. Para tentar quebrar o bloco que as elites gaúchas veem construindo para se manter no comando do Palácio Piratini nos últimos anos.

Já é chegada a ora de dar um passo a frente na luta institucional em nosso Estado. Devemos aprender com a história. É necessário que se construa uma política de alianças mais ampla em nosso Estado, possibilitando, assim, uma nova vitória da esquerda no Rio Grande do Sul, bem como possibilite uma coalizão de forças que garantam um mínimo de estabilidade para governar, bem como para fortalecer o projeto mudancista em nível nacional.

O Rio Grande do Sul não pode ficar na contra mão da história, muito menos servir de trincheira para direita contrapor o avanço nacional. Essa é tarefa da esquerda em nosso Estado, pelo menos da esquerda que pretende realizar transformações políticas concretas."
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Um comentário:

  1. Ola José,
    sempreblemas a reprodução do meu artigo no seu blog.
    Quero deixar um registro: sou colunista do vermelho e esse artigo reflete o meu pensamento e não o do PCdoB.
    Abraço
    Leandro Alves

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