sábado, 7 de novembro de 2009

Bicho-papão




Acontece com todos os policiais, e aconteceu comigo hoje, mais uma vez. A enésima.

Eu estava almoçando no restaurante, e na mesa ao lado havia um casal com um gurizinho pequeno, de uns quatro ou cinco anos. A criança estava inquieta, levantava, corria, trombava nas pessoas. Uma praguinha, mas nada fora do normal, pois as crianças espertas são assim mesmo. E o pai e a mãe, se alternando, levantavam e iam atrás, rebocando ele para a mesa, até que fugisse de novo.

Eu pressenti o que viria a seguir. Eu já sabia. Até preparei as orelhas, e veio mesmo: o pai apontou para mim, mostrando para a criança, e disse "aquele ali é o Delegado, tu te comporta ou vou chamar ele, pra te prender".

Dei aquele sorriso amarelo, e continuei comendo, tentando não demonstrar meu desconforto. Não somente eu, mas nenhum policial gosta disso. Ninguém gosta de fazer papel de malvado. E absolutamente todos já passaram por essa situação, pelo menos uma vez. Se não passaram, é certo que ainda vão passar.

Eu acho muito chato que me coloquem como bicho-papão das crianças. Claro que as pessoas falam sem pensar, sem maldade. Deve ser uma repetição automática de algo que ouviram, também na infância.

Mas bem que podiam se encarnar em outras profissões, de vez em quando: "Joãozinho, te comporta ou vou chamar aquele tio ali é professor, e vai te botar ajoelhado no milho". "Mariazinha, não faz isso na frente da tia, que ela é psicóloga, e vai te mandar pro hospício". "Zezinho, olha que eu vou chamar aquele homem ali, que é cientista pra te transformar numa ameba".

Ou digam duma vez que vão chamar o "homem do saco", que pelo menos não pode ser personificado em nenhuma profissão.

Mas báh, como eu tô rabugento! Desse jeito, vou assustar as crianças mesmo. Estou muito amargo. Vou tomar um café com bastante adocil.

Total, pelo menos o guri se comportou ... ficou quieto, com os olhinhos que é uns pila!
...

3 comentários:

  1. Genial a foto, ilustrou perfeitamente a postagem.

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  2. É isso que dá trabalhar no aparelho repressivo do Estado.

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