O Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo. E ultimamente só tem feito golaços. Mas como todo craque, chegou o dia de pisar na bola. E pisou feio, diga-se de passagem.
Em uma solenidade no Distrito Federal, semana passada, evento organizado pelo Governador Inácio Arruda (DEM), que reuniu milhares de policiais brasilienses, o Presidente disse mais ou menos o seguinte: “a única hipótese de a gente não ter policial levando propina da bandidagem é o policial ganhando o suficiente para cuidar da sua família”.
Eu me sinto bem à vontade para comentar esse assunto, pois tenho dez anos como Delegado da Polícia Civil, e sempre enfrentei de frente a corrupção policial de que tive conhecimento. No tempo em que trabalhei na Corregedoria (2002-2003), por exemplo, participei de grandes trabalhos, que tiraram de circulação muitos bandidos com carteira de polícia.
Essa vivência, além de me proporcionar alguns inimigos e muitos desafetos, serviu como graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado, de como funciona a corrupção na polícia. Me sinto, portanto, perfeitamente qualificado para debater corrupção policial.
E mesmo com todas essas experiências, algumas traumáticas, nunca tive qualquer comprovação de que a baixa remuneração tenha influência decisiva nos desvios de conduta. Não mesmo. Pode ser até que tenha influência periférica, eventualmente, mas não pode ser considerada um fator determinante para a corrupção.
Analisando a realidade do Estado, é notório que os policiais civis gaúchos, à exceção dos Delegados, ganham realmente pouco. Pouco demais, para quem faz esse tipo de trabalho, e de quem é exigida formação superior. Nisso eu concordo. Acho que todo mundo, aliás, concorda.
Mas a maioria absoluta, talvez noventa e nove por cento dos colegas, está sempre correndo atrás de maneiras honestas para reforçar a renda. É comum dar aulas, vender Natura ou roupas, fazer bicos ou horas-extras (mais frequentes na Brigada), colocar os filhos para trabalhar ainda na adolescência, e, especialmente, entrar e sair o tempo todo os SERASAS e dos BACEN da vida.
A propósito disso, O altíssimo índice de endividamento dos policiais civis, nas financeiras que emprestam mediante pagamento por " débito no contracheque, sem consulta ao SERASA-SPC", denunciado pela UGEIRM, é a prova de que os policiais dão nó em pingo d'água para pagar as contas no final do mês, de forma honesta. Tiram empréstimos depois de empréstimos, pagando juros-sobre-juros; trocam o carro por outro mais velho; vendem férias (tiradas só "no papel"), e batalham por reforços ou inclusão na "Operação Verão", não para veranear, mas para ganhar diárias.
Quanto aos tortos, tenho para mim que já entram na polícia com um defeito moral, talvez até pensando, não no emprego honrado e importante, que é ser policial, mas apenas em ter uma "carteira", para "morder" aqui e ali, e se dar bem.
Para ser bem sincero, tendo visto o que já vi, com estes mesmos olhos que a terra há de comer, daqui a uns setenta anos, não tenho medo de afirmar que os desvios de conduta são mais frequentes entre a casta dos salários superiores, do que entre os que ganham menos.
Então, não dá para tapar o sol com a peneira, mesmo sendo petista de carteirinha. O Lula errou. Pisou na bola, e pisou feio.
Não considero que ele tenha dito que todos os policiais que ganham pouco são corruptos, embora haja muitos anti-petistas forçando essa interpretação. Mas foi uma maldita frase, mal-dita. Uma frase que merece toda a reprovação.
Apesar disso, da frase mal escolhida, há um aspecto positivo no evento. O Lula disse para o Brasil inteiro ouvir, que os policiais precisam e merecem ganhar mais. É importante que o Presidente da República atual pense assim.
Afinal, o Presidente anterior nos chamou até de vagabundos, quando atacou a aposentadoria especial.
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Concordo contigo Zé Renato, o Lula pisou na bola mesmo com a categoria. . . Abraço. .
ResponderExcluirPois é meu caro blogueiro, para este e outros governos nós da Polícia Judiciária somos algo descartável, valendo a eles somente a polícia ostensiva que hoje é mais polícia política. Este governo está podre já faz muito tempo e agora se descobre que também a polícia política igualmente está cheirando muito mal, vez que um coroné até se apropriou de telhas destinadas aos infortunados das intempéries. Sou Comissário de Polícia e edito aqui na praia um blog cujo URL é: www.praiadexangrila.com.br
ResponderExcluirSou igualmente filiado ao PT.
Meus caros policiais petistas!
ResponderExcluirQue exista uma maioria de policiais honestos e honrados é pacífico, como também o fatos que a baixa renuneração não se constitua motivo para que se corrompam. Todavia, meus caros, quero falar de uma outra coisa. É sobre o ambiante das delegacias de polícia, pelo menos as de Porto Alegre. Para meu gosto são as piores repartições públicas na relação com o povo, que só as frequentam por extrema necessidade, como foi o meu caso. Uma pessoa para atender um guichê, cara amarrada, na conversa não esconde arrogãncia e o notório autoritarismo das autoridades indigentes. Um placa indicava a proibição para não fumar, todavia lá dentro muitos fumavam. O motivo de minha ida lá foi em virtude de um sobrinho e seus amigos terem sido confundidos com homicidas.Foram agredidos, pela BM na condução à delegacia, não puderam usar seus celulares para nos avisar, e lá dias depois,foram ameaçados por escrivães no depoimento que diziam que os guris não sairiam ilesos dessa. Dessa o quê cara pálida?Após despesas com advogado acostumado com o clima de delgacias tudo foi resolvido.Foi engano de quem acusou. Foi muita humilhação e traumas para a gurizada que recém chegavam do interior para Porto Alegre. Qual a impressão que vocês querem que eu tenha da polícia civil e militar?
Zé Fonseca