Brochei com o discurso do Lula ontem. Foi desanimador. A pior fala do Lula dentre as que eu já vi, ao vivo.
E olha que o esforço foi grande para ouvir o companheiro-presidente. Tinha uma baita duma fila para entrar. No mínimo uns 500m de fila quádrupla. Ia da frente do Gigantinho até um posto de gasolina que tem depois do estádio, dobrava e voltava.
Eu cheguei um pouco atrasado, às 19h, e só consegui entrar depois das 20h30mim. Fiquei ali, exercitando a paciência, que fila é bom para isso. Para matar o tempo, ficava mandando mensagens para minha mulher sobre o andamento (andei 50m, faltam 450 ...), e analisando a fauna ao redor.
Era muita gente, de todas as tribos, como dizem. Na minha frente, uma meia dúzia de adolescentes com camisetas do Che Guevara e altas discussões. O Chê era budista, dizia um, que nada, ele era ateu, contraditava outro. Grandes controvérsias. De consenso, ali, só quando passamos por um outro grupo e jovens com camisetas da UJS, e eles ficaram criticando. Não sei o mais duro é adolescer, ou escutar papo-cabeça de adolescente, depois de coroa.
Atrás de mim, vinha um casal mais ou menos da minha idade aos beijos e abraços. Quando a fila fez a volta, na metade do caminho, eles cravaram no pé. Sei não, mas acho que foram para o motel mais próximo. Mas antes que digam que fiquei só reparando, esclareço que meu interesse era absolutamente cientifico. Observar a diversidade, e aprender com as diferenças.
Vi algumas caras conhecidas na fila. O Paulo de Tarso Carneiro, que não via há uns 15 ou 20 anos, uma referência importante na luta dos bancários. Esse foi um dos que sofreu na ditadura, com demissão do emprego e outras sacanagens. O Paulo de Tarso foi casado com a Helena Carneiro, minha colega de Caixa Federal, uma grande batalhadora que não vejo desde o século passado. Acho que o Paulo de Tarso já deve ter estado pessoalmente com o Lula muitas vezes. Estava em distraído na fila, pensativo. Certamente pensando nas mudanças das duas últimas décadas.
Mais adiante vi o Antônio Lousada, bem faceiro. O Lousada é um grande cara, temos bons amigos comuns como o Rômulo. É sogro do Zé Fonseca, um dinossauro comunista que me filiou no PT, anos atrás, mas agora milita no PSOL. O Lousada apareceu na mídia uns dias atrás, na discussão sobre o Plano de Direitos Humanos, pois ele foi um dos últimos (senão o último) preso político a ser solto aqui no Estado, pelo que me disseram. Soltaram todo mundo e esqueceram ele (ou foi o irmão dele, não sei ao certo, quem me contou isso foi o Ney Malgarin). Vou procurar a matéria que o Rômulo me passou, uns dias atrás, para ver se posto aqui.
Passei também pelo Jorginho, meu amigo de adolescência lá de São Luiz, que foi embora para Santa Rosa na década de 1980, e reencontrei somente no final do ano passado, num almoço com o Bohn Gass. Fiquei feliz ao saber que ele é militante. Acho que trabalha no Luz para Todos. Tava bem faceiro o Leãozinho.
Vi ainda o Stédile, do MST, amargando na fila com um povo, provavelmente companheiros do movimento. Era uma meia-dúzia mas só um tinha boné do movimento. Não devem ter dado ingresso vip para eles. Estavam todos estavam meio emburrados, só o Stédile mais alegre. O governo Lula tem a reforma agrária como um dos calcanhares-de-aquiles.
Em um determinado momento, tive que me esconder quando avistei um enjoado que foi meu colega da faculdade. Um cara muito, mas muito chato. Graças a Deus, aquela mala não me reconheceu, senão era certo que vinha pro meu lado, e me aporrinhava o resto da noite.
Mas voltando ao que interessa, o Lula foi muito aplaudido quando entrou. Antes dele, falaram o Presidente da CUT, dizendo as mesmas coisas de sempre, e a Lilian Celiberti, em um momento bem emocionante.
Mas o discurso do Lula me desanimou. Não sei se foi impressão minha, mas acho que ele errou feio no início, quando disse que era uma grande honra fazer parte "desta conferência de comunicação social" (?). Acho que entregaram os rascunhos do discurso errado, para ele.
Depois, desandou a falar da Rodada de Doha, do livre comércio mundial, dos subsídios, sei lá mais o quê. E explicou umas coisas sobre o encontro do clima em Copenhagem. Tudo bem diferente do que eu achava que iria falar, pois os anúncios, diziam que seria uma prestação de contas dos sete anos de governo, e disso ele não falou quase nada.
Eu queria ouvir sobre os avanços na Educação, como a criação as 14 Universidades Federais e duzentos e poucas Escolas Técnicas. Sobre a geração de empregos, que pelos meus cálculos já deve ter passado dos 12 milhões de empregos formais criados desde o início do governo, passando aquela meta (da campanha) dos 10 milhões de empregos. Da previdência, que não quebrou mesmo com o aumento real do salário mínimo. E do próprio mínimo, agora em mais de 500 reais, quando na época do FHC correspondia a 70 dólares, hoje uns 150 pila.
Queria que ele falasse do Luz para Todos, esse programa revolucionário que levou eletricidade, grátis, a todos os fincões do país. Da recuperação da Petrobrás, e reestatização do petróleo, pelo modelo adotado para exploração do pre-sal. Da reabilitação do Banco do Brasil, e principalmente, da Caixa Federal, hoje sendo realmente aquela caixa que é do povo, que defendíamos 20 anos atrás.
Mais, da incorporação de 26 milhões de pessoas que estavam na dita "classe de consumo" D, para a classe C, gerando um mercando consumidor que nos salvou da crise do capitalismo mundial. E que isso foi realizado por políticas de inclusão social nunca antes vistas na história deste país.
Queria ouvir sobre a política externa, para mim o que melhor andou neste governo. E sobre os incentivos à construção civil, sobre o Nossa Casa Nossa Vida, sobre nacionalização da fabricação das plataformas de petróleo em Rio Grande, a recuperação da indústria naval, o crescimento da indústria automobilística, a redução das taxas de juros (de mais de 20% para 8,5% é grande a diferença), do dólar a menos de 1,80 e tudo mais que nunca como antes andaram tão bem na história deste país.
Aliás, quem anda comparando a taxa de juros do Brasil com a dos EUA deveria fazer outra comparação, mais correta, que é a taxa de juros do governo Lula com a taxa de juros do Governo FH.
...
Resumindo: meu desejo mais íntimo era ouvir o que esse governo construiu de bom, para fortalecer minha crença de que valeu a pena. O tal discurso que demarcasse a comparação entre o antes o depois, o prenúncio do debate "plebiscitário" da campanha. Pra mim, era o momento certo para essa fala, que no entanto não foi feita.
Enfim, como já disse, o discurso foi fraquíssimo. Fiquei até preocupado. Se o Lula for ajudar na campanha da Dilma com o mesmo ânimo que estava no Fórum Social Mundial ... tamo fudido.
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E olha que o esforço foi grande para ouvir o companheiro-presidente. Tinha uma baita duma fila para entrar. No mínimo uns 500m de fila quádrupla. Ia da frente do Gigantinho até um posto de gasolina que tem depois do estádio, dobrava e voltava.
Eu cheguei um pouco atrasado, às 19h, e só consegui entrar depois das 20h30mim. Fiquei ali, exercitando a paciência, que fila é bom para isso. Para matar o tempo, ficava mandando mensagens para minha mulher sobre o andamento (andei 50m, faltam 450 ...), e analisando a fauna ao redor.
Era muita gente, de todas as tribos, como dizem. Na minha frente, uma meia dúzia de adolescentes com camisetas do Che Guevara e altas discussões. O Chê era budista, dizia um, que nada, ele era ateu, contraditava outro. Grandes controvérsias. De consenso, ali, só quando passamos por um outro grupo e jovens com camisetas da UJS, e eles ficaram criticando. Não sei o mais duro é adolescer, ou escutar papo-cabeça de adolescente, depois de coroa.
Atrás de mim, vinha um casal mais ou menos da minha idade aos beijos e abraços. Quando a fila fez a volta, na metade do caminho, eles cravaram no pé. Sei não, mas acho que foram para o motel mais próximo. Mas antes que digam que fiquei só reparando, esclareço que meu interesse era absolutamente cientifico. Observar a diversidade, e aprender com as diferenças.
Vi algumas caras conhecidas na fila. O Paulo de Tarso Carneiro, que não via há uns 15 ou 20 anos, uma referência importante na luta dos bancários. Esse foi um dos que sofreu na ditadura, com demissão do emprego e outras sacanagens. O Paulo de Tarso foi casado com a Helena Carneiro, minha colega de Caixa Federal, uma grande batalhadora que não vejo desde o século passado. Acho que o Paulo de Tarso já deve ter estado pessoalmente com o Lula muitas vezes. Estava em distraído na fila, pensativo. Certamente pensando nas mudanças das duas últimas décadas.
Mais adiante vi o Antônio Lousada, bem faceiro. O Lousada é um grande cara, temos bons amigos comuns como o Rômulo. É sogro do Zé Fonseca, um dinossauro comunista que me filiou no PT, anos atrás, mas agora milita no PSOL. O Lousada apareceu na mídia uns dias atrás, na discussão sobre o Plano de Direitos Humanos, pois ele foi um dos últimos (senão o último) preso político a ser solto aqui no Estado, pelo que me disseram. Soltaram todo mundo e esqueceram ele (ou foi o irmão dele, não sei ao certo, quem me contou isso foi o Ney Malgarin). Vou procurar a matéria que o Rômulo me passou, uns dias atrás, para ver se posto aqui.
Passei também pelo Jorginho, meu amigo de adolescência lá de São Luiz, que foi embora para Santa Rosa na década de 1980, e reencontrei somente no final do ano passado, num almoço com o Bohn Gass. Fiquei feliz ao saber que ele é militante. Acho que trabalha no Luz para Todos. Tava bem faceiro o Leãozinho.
Vi ainda o Stédile, do MST, amargando na fila com um povo, provavelmente companheiros do movimento. Era uma meia-dúzia mas só um tinha boné do movimento. Não devem ter dado ingresso vip para eles. Estavam todos estavam meio emburrados, só o Stédile mais alegre. O governo Lula tem a reforma agrária como um dos calcanhares-de-aquiles.
Em um determinado momento, tive que me esconder quando avistei um enjoado que foi meu colega da faculdade. Um cara muito, mas muito chato. Graças a Deus, aquela mala não me reconheceu, senão era certo que vinha pro meu lado, e me aporrinhava o resto da noite.
Mas voltando ao que interessa, o Lula foi muito aplaudido quando entrou. Antes dele, falaram o Presidente da CUT, dizendo as mesmas coisas de sempre, e a Lilian Celiberti, em um momento bem emocionante.
Mas o discurso do Lula me desanimou. Não sei se foi impressão minha, mas acho que ele errou feio no início, quando disse que era uma grande honra fazer parte "desta conferência de comunicação social" (?). Acho que entregaram os rascunhos do discurso errado, para ele.
Depois, desandou a falar da Rodada de Doha, do livre comércio mundial, dos subsídios, sei lá mais o quê. E explicou umas coisas sobre o encontro do clima em Copenhagem. Tudo bem diferente do que eu achava que iria falar, pois os anúncios, diziam que seria uma prestação de contas dos sete anos de governo, e disso ele não falou quase nada.
Eu queria ouvir sobre os avanços na Educação, como a criação as 14 Universidades Federais e duzentos e poucas Escolas Técnicas. Sobre a geração de empregos, que pelos meus cálculos já deve ter passado dos 12 milhões de empregos formais criados desde o início do governo, passando aquela meta (da campanha) dos 10 milhões de empregos. Da previdência, que não quebrou mesmo com o aumento real do salário mínimo. E do próprio mínimo, agora em mais de 500 reais, quando na época do FHC correspondia a 70 dólares, hoje uns 150 pila.
Queria que ele falasse do Luz para Todos, esse programa revolucionário que levou eletricidade, grátis, a todos os fincões do país. Da recuperação da Petrobrás, e reestatização do petróleo, pelo modelo adotado para exploração do pre-sal. Da reabilitação do Banco do Brasil, e principalmente, da Caixa Federal, hoje sendo realmente aquela caixa que é do povo, que defendíamos 20 anos atrás.
Mais, da incorporação de 26 milhões de pessoas que estavam na dita "classe de consumo" D, para a classe C, gerando um mercando consumidor que nos salvou da crise do capitalismo mundial. E que isso foi realizado por políticas de inclusão social nunca antes vistas na história deste país.
Queria ouvir sobre a política externa, para mim o que melhor andou neste governo. E sobre os incentivos à construção civil, sobre o Nossa Casa Nossa Vida, sobre nacionalização da fabricação das plataformas de petróleo em Rio Grande, a recuperação da indústria naval, o crescimento da indústria automobilística, a redução das taxas de juros (de mais de 20% para 8,5% é grande a diferença), do dólar a menos de 1,80 e tudo mais que nunca como antes andaram tão bem na história deste país.
Aliás, quem anda comparando a taxa de juros do Brasil com a dos EUA deveria fazer outra comparação, mais correta, que é a taxa de juros do governo Lula com a taxa de juros do Governo FH.
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Resumindo: meu desejo mais íntimo era ouvir o que esse governo construiu de bom, para fortalecer minha crença de que valeu a pena. O tal discurso que demarcasse a comparação entre o antes o depois, o prenúncio do debate "plebiscitário" da campanha. Pra mim, era o momento certo para essa fala, que no entanto não foi feita.
Enfim, como já disse, o discurso foi fraquíssimo. Fiquei até preocupado. Se o Lula for ajudar na campanha da Dilma com o mesmo ânimo que estava no Fórum Social Mundial ... tamo fudido.
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PS: Depois de postar este texto, fiquei sabendo que o Lula foi internado num hospital, com uma crise hipertensiva. Nem pode viajar para Davos. Então, acho que está explicada a apatia dele no Fórum. Já devia estar se sentindo mal. Fico mais animado, pois continuo acreditando que a Dilma vai ganhar esta eleição, mas para isso o Lula precisa abraçar a campanha com todo o ânimo. Bem diferente de sua apatia no Fórum.
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