quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Para ler o Tio Patinhas

Para enfrentar melhor este regime semi-fechado daqui de Imbé, uns dias preso na Delegacia, outros no quarto (só chove, por aqui), mas com direito de sair para fazer refeições, comprei uma Tio Patinhas, um dia desses. Na verdade, não uma Tio Patinhas, propriamente dita, mas um daqueles Almanaques da Disney, com 300 páginas e 20 estórias de vários personagens.

Estão lá, além do pato mais rico do mundo, o Donald, Mickey, Pateta e Superpateta, Peninha e Morcego Vermelho, Professor Pardal, Zé Carioca, etc. O Zé Carioca aparece em duas estórias, uma delas magistralmente desenhada pelo Renato Canini: "Um Paulista na Corte do Reio Momo", contando a visita do Zé Paulista ao primo famoso, para desfilar no carnaval do Rio de Janeiro.

O que me levou a comprar a revista foi por que há três estórias escritas e desenhadas pelo Don Rosa, para mim o melhor desenhista que a Disney já contratou. Uns dois anos atrás, eu já tinha comprado a "biografia" do Tio Patinhas, também com roteiro e desenhos do Don Rosa, e que é fora-de-série.

Sobre a família Pato, lembro que quando eu era criança, estava na moda um livro que denunciava um plano para ideologizar as crianças latino-americanas através da leitura das obras da Disney. "Para Ler o Tio Patinhas" é o nome desse livro. Eu tive a oportunidade de fazer uma "leitura dinâmica" dele, fuxicando os livros que minha filha Ana Paula está utilizando para fazer seu Trabalho de Conclusão, na Faculdade de Design Gráfico da UFPEL ("A Crítica Social nas Histórias em Quadrinhos", que vai ficar ótimo, sem corujice).

Achei (claro que, com minha cabeça de agora) a tese meio exagerada. Coisas comom os patinhos serem assexuados, a louvação da riqueza, e por aí afora, seriam parte do plano maligno da CIA, com a participação das ditaduras militares e do Walt Disney, para nos colonizar culturalmente.
Eu não sei não. Sempre fui viciado em quadrinhos, e gosto muito do Tio Patinhas, desde a infancia. E não fiquei assexuado (ao contrário, ando cheio de testosterona), não me deslumbra o mundo dos ricos, e desenvolvi ideologia bem oposta à "americanização" do Continente.

E, aliás, na "biografia" do Patinhas, essa questão da "geração expontânea" dos personagens é superada, sendo apresentadas a mãe do Pato Donald, o marido da Vovó Donalda, e por aí afora, como se vê ao lado.

Soube até, que anos depois, os autores renegaram a obra, o que é uma pena. Eu entendo o seu conteúdo, meio "teoria da conspiração", pois vivi naqueles tempos difíceis. Na época a coisa era complicada mesmo, tudo era muito ideologizado, e não havia possibilidade de ser de esquerda sem odiar os yanques. Qualquer coisa deixava a militancia paranóica. E, aliás, sempre tem alguém perseguindo um paranóico.

Então, pode ser até que o dito plano maligno existisse mesmo, mas se for assim, parece que não funcionou muito bem, pelo menos no Brasil. Lembremos, no entanto, que o livro foi escrito no Chile, país que adora um governo de direita, alinhado umbilicalmente aos americanos, como se viu na eleição recente. Será influência remota e subliminar do "Plano Disney"? Vai saber.

Retomando o assunto, como dizia, são três estórias do Don Rosa, na revista. A primeira é "Uma Vida de Sonho", na qual Irmãos Metralha usam um invento do Professor Pardal para entrar no sonho do Patinhas, e obrigá-lo a revelar a combinação da caixa forte. O Donald fica sabendo e entra também, para ajudar o tio a resistir. E o sonho visita várias partes da vida de Patinhas Mac Pato, com resultado muito engraçado.

Outra é "A Coroa dos Reis Cruzados", na qual a turma parte em busca de um tesouro, com aqueles roteiros de aventura, bem típicos do Don.
...
Mas a melhor é "Esqueça", na qual a Maga Patalógica lança um feitiço no Patinhas e no Donald, para poder roubar a Moeda nº 1. As situações são hilárias. Eu recomendo. É claro, que para ler o Tio Patinhas, ou qualquer obra, em quadrinhos ou não, a primeira coisa a fazer é despir-se de preconceitos. Senão, fica difícil avaliar.

O interessante é que, depois da leitura, fui dar uma caminhada e avistei um pequeno objeto escurecido, meio afundado, no meio da areia. Quando cheguei perto, vi que era uma moeda. Minha mãe me ensinou que nunca se deixa de juntar uma moedinha do chão, mesmo que não tenha nenhum valor. Por que isso, não sei, mas acho que se não juntar, dá azar. Então catei, e vi com surpresa que era uma moedinha de um centavo, já meio judiada e escurinha, apesar de ter sido cunhada há pouco tempo, em 2003.

Mas qual é a chance matemática de alguém ler sobre a moeda número um do Tio Patinhas, sair para caminhar e achar, no meio da areia da praia, uma moeda de um centavo, espécie em avançada extinção? Acho que é sinal que a sorte está mudando. Deve ser indício de coisa boa, pela frente. Tomara.

Bom. Finalizando, e antes que me corneteiem, solicito que, se alguém achar que estou perdendo tempo com futilidades, por favor avise, que daí vou passar a escrever sobre coisas mais sérias. Sobre o Big Brother Brasil, por exemplo.
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4 comentários:

  1. Big-bosta, não!!!!!! Por favor, continue comentando histórias do Tio patinhas...

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  2. Eu também fui um voraz leitor do tio Patinhas e cia, li o "Para ler o Pato Donald" e concordo contigo. O Tio Patinhas sempre foi meu personagem preferido. Por sinal, eu também mantenho a mesma superstição de não deixar as moedinhas abandonadas, sempre acreditei que dá azar não junta-las. Muito legal o texto.

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  3. Sabe aquela coisa de "estar em sintonia" que a gente comentou esses tempo, pai? Eu já tinha te dito, mas enfim, hehehe.
    Para Ler Pato Donald foi o primeiro livro que minha orientadora (Ms. Mônica Faria) me emprestou para o trabalho de conclusão de curso (bem coisa de mestre esperando algo do aluno) e eu percebi de cara uma "teoria de conspiração". Sou "peixinha", filha de peixe, tenho valores estruturados nos do meu papis e não nego, mas perceber que tu compartilhas da minha opinião sobre a obra me deixa muito feliz, pois pouco conversamos sobre ela. A profê sabia da minha fama de "revolucionária", e sabia que podia estar criando um monstro me apresentando uma obra destas, mas graças a vários fatores (minha criação "militante" por exemplo) fui capaz de me prender no pensamento amplo, negando, definitivamente, o "unilateralismo".
    Ver também o teu amor pelas HQs é outra coisa que sempre me motiva, pois lá em casa, Astérix e livros do Júlio Verne sempre eram tratados como iguais. Outra coisa que sempre foi importante na nossa pequena família, foi o posicionamento político e, usando um verso clichê, "tudo faz sentido agora" :D
    O blog do Universo HQ que se cuide, temos um novo cronista de HQs!! Quero mais textos sobre o Tio Patinhas tb!! (Por sinal a biografia dele está comigo hehe, peguei "emprestada")
    Bjos melosos!! A "coruja" aqui sou eu!! Tu, a Mãe e a Lú são TUDO na minha vidinha ;)

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  4. Bem, não podemos ser ingênuos tb. Levando-se em consideração que WD não fez os quadrinhos p/ manipular mentes infantis, por outro lado, é claro e evidente que, em tempos de construção do imperialismo e depois guerra fria, o governo americano não iria perder aquela oportunidade de ouro de transformar aquele instrumento que alcançava as mentes infantis ao redor do mundo, p/ moldar as próximas gerações de acordo com seus interesses (o cinema hollywoodiano nos mostra esse objetivo até hoje). Hoje temos uma civilização (pelo menos, ocidental e começando a fincar suas pilastras no oriente) hedonista, obcecada pela riqueza e glamour, com orientação sexual em transformação e ultra alienada. É uma coisa a se pensar.

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