Diário do Exílio. Aqui em Imbé pega o canal da TV Pampa, que fazia muitos anos que eu não assistia. Acho que, no mínimo, uns oito anos. Hoje ao meio-dia, fui dar uma repousada e deixei a TV ligada, ficando surpreso porque ainda existe o programa "Gerrilheiros da Notícia", comandado pelo Flávio Alcaraz Gomes.
Fiquei ali, assistindo, por pura curiosidade, pois pelo que lembro esse programa era a fina flor do reacionarismo dinossáurico da mídia porto-alegrense. Minha surpresa foi com o Flávio estar trabalhando ainda, mas como defendo a atividade como um dos ingredientes da longevidade, não deixa de ser um bom exemplo nesse sentido. Depois, ele melhorou muito nesses anos. Fica só calado, e no final do programa diz o nome de cada um dos participantes, para que se despeçam. Calado, ele é um poeta, como disse o Romário sobre o Pelé.
Um dos participantes, cujo nome não sei, ficou ali contando a história da Anne Frank, e comentando que a mulher que escondeu a família judia por mais de dois anos, no famoso sótão de Amsterdã, faleceu na segunda-feira, com 100 anos. Outro bom exemplo de longevidade, só que nesse caso, de uma pessoa mais útil. Essa mulher foi também quem descobriu os diários, depois que os Frank foram presos, e os divulgou para o mundo quando a menina já tinha morrido em um campo de concentração.
Eu nunca li o Diário da Anne Frank. Desde adolescente, nunca leio ou assisto nada que saiba, por antecipação, que é muito triste. Casos em que ficam escancarados a miséria da condição humana, e como nos rebaixamos como espécie, me deprimem demais. Não assisti a lista de Schindler pelo mesmo motivo. Nessa área, já me bastou ler o Cavaleiro da Esperança, do Jorge Amado, e Olga, daquele autor que não lembro nome. Acho que o sobrenome é Castro. Estou mal da memória, hoje.
Além disso, já li e reli também o Germinal, do Émile Zolá, o livro que definitivamente me posicionou ideologicamente, pela repugnância ao sofrimento, ainda na adolescência. Então, de tristeza, basta a vida.
Mas ouvindo o cara, me veio imediatamente a lembranda do "Maus", um livro em quadrinhos que minha filha Ana Paula me emprestou mês passado. Venci com custo a relutância de ler sobre o sofrimento, e me encantei com a obra. Coisa de gênio. Obra-prima.
Pelos meus parcos conhecimentos, sei que trata-se de uma obra mais ou menos biográfica, escrita e desenhada por Art Spiederman, um americano, sobre a vivência de seu pai, judeu polonês, no Holocausto. A obra mostra o antes, o durante, e o depois, da passagem dele por campos de extermínio, como Auchwitz.
Cara, esse livro deveria ser leitura obrigatória para todos nós, mas especialmente para aquela parcela (pequena mas importante) de judeus que insiste em defender o regime sionista e racista de Israel em relação aos Palestinos. Sempre me pareceu que Israel mantém, como política de Estado, práticas assustadoramente semelhantes às do regime nazista. Os massacres, bombardeiros de civis, e construção de muros para prender a população palestina em um imenso gueto, cercado por muralhas de concreto, que o digam.
Outra coisa genial é a forma como o Spiegelman utiliza o antropomorfismo (será que é essa a palavra certa?), desenhando os personagens em uma espécie de animal para cada etnia mostrada no romance. Os judeus são, por óbio, ratinhos. Parece que "Maus" é rato, em alemão. Os nazistas os chamavam os judeus de "ratos", pejorativamente. Os alemães eram gatos, os poloneses porcos, os franceses sapos, etc. Fora de série. Não é a toa que o livro é tão premiado.
Bueno, já falei de dinossauros, gatos e ratos. Finalizando, fica então essa sugestão de leitura para o restante das férias. Mas leiam devagar, e não fiquem (muito) tristes.
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