sexta-feira, 27 de maio de 2011

Caso Palocci - Uma opinião com a qual concordo

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A velha história de terceirizar a política


* Por Maria Inês Nassif

Dilma Rousseff não foi a única presidente, desde a redemocratização, que resolveu terceirizar a atividade política, na suposição de que tem gente que sabe fazer isso melhor do que ela. Assumiu que o perfil técnico era a sua vocação, definiu que tem a última palavra sobre as decisões administrativas e foi cativada pelo "elogio" dos antigos adversários à sua discrição no cargo.
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O excessivo recato na tarefa de fazer política pode ter sido a origem da crise provocada pelo escândalo que envolveu o seu chefe da Casa Civil, Antonio Palocci; e pode estar contribuindo para que, mesmo com toda a inicial cautela da oposição em relação ao episódio, a crise apresente uma certa tendência de adquirir pernas próprias.
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Para ser presidente, não basta ganhar eleição. É preciso assumir o controle da política.
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro mandato, acuado por uma crise econômica que sacudiu o país durante todo o período eleitoral, também terceirizou a que deveria ser a principal atividade de um mandatário popular. No comando das articulações que passavam pelo Palácio do Planalto estava o então chefe da Casa Civil, José Dirceu, em permanente disputa com o mandarim da economia, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
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Uma campanha eleitoral excessivamente agressiva acuou o presidente eleito em 2002. A estratégia de "blindagem" de Lula, com o objetivo principal de não assustar o mercado, foi a de montar uma equipe econômica da confiança dos agentes de finanças – e Palocci fazia não apenas política econômica, mas a articulação política com esses setores – e deixar a função de articulação parlamentar com Dirceu, um adepto da realpolitik.
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Lula também foi "blindado" em seus contatos com a imprensa. Enquanto essa montagem de governo prevaleceu, o primeiro presidente petista exerceu o direito ao silêncio: foi a estratégia definida contra uma imprensa que foi hostil na campanha e, previa-se, não daria moleza a um presidente-operário de um partido de esquerda. Foi preciso que o PT, artífice dessa "blindagem", vivesse a enorme crise do "mensalão", para que Lula alçasse voo próprio.
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Quando deixou de terceirizar a política, tinha como patrimônio, que ficou colado ao seu governo, um eleitorado recém-saído da miséria devido à única vertente das políticas de governo que realmente destoou, até aquele momento, da do seu antecessor: uma melhor distribuição via transferências de renda.
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Lula voltou ao palanque um ano antes do processo eleitoral de 2006 para salvar o seu primeiro mandato, colocado em perigo pela repercussão do episódio, sem suas duas "blindagens" ministeriais: caíram, um a um, José Dirceu e Antonio Palocci.
O presidente petista retornou o seu contato direto com as bases, abandonado depois da posse, e manteve o seu mandato no grito. Conseguiu sua reeleição da mesma forma.
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Depois de 2005, Lula não deixou o país esquecer, em nenhum momento, que ele era o presidente. Falou muito e sempre, correndo o risco de ser mal interpretado e de ser ridicularizado; assumiu seu próprio discurso, que tinha grande identidade com a maioria pobre do país. E fez política.
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O governo não deixou de ter articuladores, negociadores institucionais e ministros com maior facilidade de acesso à área política, mas quem comandou o processo foi o presidente. O espaço de disputa pelo poder interno no governo foi reduzido e o PT, embora partido de Lula, foi mantido sob relativo controle. Sem mandarins no Planalto e enfraquecido, o PT cumpriu o seu papel institucional de disputar poder com aliados no Congresso, mas como partido. Essa disputa não foi mais "fulanizada".
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Não foi personalismo. Lula tem vocação para lidar com grandes massas – foi um líder sindical que fez história e um presidente com uma popularidade que também será registrada nos livros escolares. Mesmo que não tivesse essas qualidades pessoais, todavia, era a pessoa mais credenciada a ser o protagonista político de seu governo pelo simples fato de que foi ele o eleito para presidente da República. Em 2002, terceirizou a tarefa; em 2005, resgatou a legitimidade do voto e passou a ser presidente da República.
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Não existe governo democrático que não tenha disputa de poder interna e que não tenha que lidar com ambições pessoais e interesses políticos diversos. É do jogo. O voto popular, todavia, é a última palavra. A primeira presidenta eleita na história da república do Brasil não pode continuar a ser gerente, como era na chefia da Casa Civil, porque não é esse o seu papel.
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Se não se tornar a protagonista política de seu próprio governo – posição a que tem direito pelo simples fato de ter sido eleita –, vai continuar abrindo espaço de conflitos internos dentro do PT e na base aliada – e os adversários, massacrados pelas urnas e em crise profunda, vão ser empurrados de novo para a oposição, que hoje assumem envergonhados. Será um novo capítulo de uma crise do quadro partidário, dessa vez com o PT no seu epicentro. O socorro de Lula vai ser apenas band-aid.
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Artigo pescado no Contexto Livre.
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A charge é de Lute, pescada aqui.
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2 comentários:

  1. Trotskista eu também sou!
    A atual crise do governo vinculada ao caso Palocci, que vai ter que explicar na câmara seu enriquecimento meteórico. Sua passagem pela prefeitura de Ribeirão Preto já tinha deixado lastros evidentes ou quase? Depois o ministério das finanças, uns zunzuns sobre licitações de cestas básicas. O caso do Gtch e a caixa econômica. Em 2006 a demissão do Ministério da Fazenda, a partir da quebra de sigilo bancário de seu caseiro. Falaram até em casa do Berlusconi, devido às supostas orgias com mulheres estilo paniquetes.
    É; já tinham me falado que o socialismo acabou. Até trotskista tá se virando, dando um jeito na situação, se é que me entendem? Ganhar grana não está fácil, a máfia russa que o diga. Depois da extinta União Soviética, os maluquinhos não estão mole não! A piração global de grana pra lá, grana pra cá, infestou até os setores públicos. Quem quer ficar pobre? É uma corrida voraz ao topo da pirâmide, vale tudo, menos vacilação.
    O porquê Palocci, ele é fruto do sistema global é o que todos eles queriam ser. Representa a grande virada no mundo capitalista contemporâneo, justamente o fruto da globalização. Todo o congresso idolatra e quer ser palocci quando crescer, quando as licitações? Ou quem sabe, abrir uma empresa? Até porque como um médico pode ser excelente economista? A oposição esta pasma! O futuro; é isso que ele representa a nova virtude democrática brasileira. É bom ser virtuoso, mais ser rico é muito melhor, esses são os mandamentos do existencialismo moderno capitalista. Pragmatismo, idoneidade, inteligência e charme, essas são as essências para compor um perfil acima de qualquer suspeita...
    O poder transformou-se no que o Brasil é. O socialismo europeu não cola aqui nos trópicos. Culturalmente falando temos o péssimo habtido de se dar bem, porque nos demos muito mal nesses quinhentos anos. Negar seu passado é não resolver o presente. Com isso, vamos na bubuia, sorrindo e sempre com a esperança de sair da M.
    Ass, λάθη

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  2. E isso ai, amigo Anônimo. Mas só para registrar, nunca fui e nem serei trotskista. Abração.

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