terça-feira, 10 de maio de 2011

Um caos não tão caótico

* Cris Rodrigues
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Salgado Filho, Galeão, Santos Dumont e Congonhas. Passei por estes quatro aeroportos no fim de semana, sexta e domingo. 
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Foram três trechos no total, de Porto Alegre ao Rio e com escala em São Paulo na volta. Todos saíram no horário e chegaram sem atraso ao destino, sem contratempos. Não precisei sair correndo pelo aeroporto, embora o portão de embarque tenha mudado uma vez – mas com antecedência. Os voos estavam cheios, o último trecho praticamente lotado, mas isso não significa que algo esteja necessariamente errado.
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Não estou dizendo que a situação dos aeroportos esteja resolvida e que não haja nada errado. Não digo que não estejamos perto de alcançar os limites dos nossos aeroportos. Afinal, temos cada vez mais gente tendo acesso ao antes restrito clube dos que viajam de avião.
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Os voos estão cheios? Estão. Falta conforto nos aeroportos e nos aviões? Aham.
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Mas, definitivamente, a situação não é a descrita na Zero Hora (disponível para assinantes) deste domingo.
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Não é possível que eu tenha vivido, em todos os trechos que fiz nestes últimos dias, situações de exceção e que a regra seja o caos. Não vi gente desesperada correndo pelos aeroportos ou amontoada em cantos.
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Detalhe: era Dia das Mães. Saí de casa com bastante antecedência achando que mal conseguiria andar dentro do aeroporto, que tropeçaria nas malas e nas pessoas e que ficaria horas esperando o voo sair – atrasado. Nada disso aconteceu, embora tenha enfrentado algumas filas e já tenha sentido outras vezes a falta de conforto das poltronas.
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Claro que os jornais têm que alertar para um problema que está se agravando. O grande problema é a forma de fazê-lo. E o critério adotado para isso. Por que diabos não se fala na falta de conforto nas rodoviárias? Embora eu faça parte do grupo que vem se acostumando a andar de avião de vez em quando nos últimos tempos, ao longo da minha vida andei muito mais de ônibus. E toda vez que eu ia pra Caxias – uma vez por mês, na infância, na casa dos avós – ou pra praia – lá de vez em quando -, saía de casa já triste pelo ritual desagradável que sabia que encontraria.
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Primeiro, dois ônibus pra ir pra rodoviária, ou um gasto sentido com táxi. Depois, fila para comprar passagem, um tempão esperando, normalmente de pé ou, às vezes, sentada em um desconfortável banco de madeira sem encosto. Na volta, filas enormes esperando táxi. Pelo que me consta, a rodoviária continua igual. E saturada há muito tempo – quantas vezes não ouvi falar em construir outra?
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Às vezes até saíam algumas matérias. Mas nunca ouvi falar em “caos terrestre”.
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Qual, afinal, o critério? A camada mais rica da população agora se vê obrigada a dividir um espaço que antes era só seu. Aí a falta de conforto vira notícia. Que noticiem, acho ótimo que todos tenhamos direito a viajar com conforto. Mas peço, por gentileza, honestidade e isonomia na forma de tratar as questões.
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* Artigo de Cris Rodrigues, pescado no blog Somos Andando, da própria jornalista.
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Nota do blogueiro: A segunda fotografia, que mostra a Estação Rodoviária de Porto Alegre, me traz muitas lembranças. Não digo que são desagradáveis, mas certamente, são lembranças cansativas, da década 1986-96 ... eu, a Djanira, e a Ana Paula bem pequena, enfrentando filas e mais filas para vir até São Luiz Gonzaga, nos feriadões.  
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Nesse tempo todo, não aumentaram em um único metro quadrado a Rodoviária, e a imprensa nem toma conhecimento. Já os aeroportos, parece que vai terminar o mundo, quando se forma uma fila ou atrasa um vôo ...
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Um comentário:

  1. Eles estão preocupados em construir as condições para privatizar os aeroportos. As rodoviárias já são privadas. O negócio e espoliar e curtir o butim nas altas e restritas rodas.

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